Por Luis Nassif, em seu blog
A grande discussão é sobre se o país precisa esfriar sua economia, para fazer frente à crise, ou manter o ritmo atual para evitar uma recessão maior. Na primeira posição, o Banco Central - que continua, inacreditavelmente, falando em "inflação de demanda"; na segunda, a Fazenda.
Na visão da Fazenda a crise de crédito, por si, será um fator de contenção e, por isso mesmo, a política monetária do BC deveria ser abrandada.
A visão da Fazenda sobre a crise é a seguinte:
1. Graças às reservas cambiais, o déficit nas transações correntes será administrável no ano que vem.
2. O jogo especulativo está se dando no mercado de derivativos, que é muito mais denso que o mercado spot (de venda à vista). Por isso, não adiantará nada queimar reservas aí.
3. As prioridades serão prover recursos para assegurar linhas de financiamento em três áreas específicas: agricultura, investimentos do PAC e comércio exterior.
4. Caiu em 50% a procura por ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio). Mas ele estava sendo muito utilizado para arbitragens especulativas. Agora, o custo ficou tão alto que só ira recorrer a ele quem precisar.
5. Não dá para analisar o mercado com base no que está ocorrendo esta semana. Mas se o vendaval não passar e prosseguir a carência de dólares, o governo continuará fazendo operação de venda de dólar com compromisso de recompra em 30 ou 60 dias. Garante liquidez aos bancos e preserva as reservas cambiais.
6. O BC tem duas ferramentas disponíveis para atacar o problema da liquidez: o próprio espaço para redução da Selic (que é a maior taxa de juros do planeta) e também do compulsório.
O aumento das taxas de juros teria, em tese, duas funções: apreciar o câmbio e atrair capitais voláteis para o país.
No quadro atual, não alcançará nenhum dos objetivos. Todo mundo já parou de emprestar para o Brasil e o valor do dólar está sendo decidido no mercado de derivativos.
A visão da Fazenda é que a economia brasileira continua a surpreender. Este ano deverá crescer 5,3%, com um tremendo choque de preços em commodities e, mesmo assim, a inflação não saindo da meta. Para a Fazenda, é a confirmação de que a história do PIB potencial é balela e a comprovação de que o crescimento gera seus próprios ganhos.
Para 2009, apesar das consultorias mais sólidas estarem apostando em um crescimento entre 3,5 e 4%, a Fazenda julga possível se chegar aos 4,5%. O mercado pegou o último ciclo de contração da liquidez, em 2004, para estimar o novo PIB. Mas hoje em dia há novos fatores no ar - a nova classe C consumidora e os investimentos do PAC que já pegaram ritmo e não serão paralisados.
Obviamente supondo-se que os Estados Unidos consigam produzir uma saída para sua própria crise financeira.
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