terça-feira, 14 de outubro de 2008

Luis Nassif: Os desdobramentos da crise

Vamos entender melhor os desdobramentos dos últimos capítulos da grande crise mundial. Há um ponto importante, diferenciando-a da grande crise de 1929: a velocidade das comunicações. Em um primeiro momento, essa velocidade ajudou a ampliar a crise, graças à interligação entre os mercados.

Por Luis Nassif, em seu blog

Seguiram-se várias tentativas erradas de combater a crise. Os erros maiores foram cometidos pelo Secretário do Tesouro americano, Henry Paulson. Egresso de Wall Street, Paulson engendrou um pacote de recompra dos títulos podres que, na prática, preservava os interesses dos bancos de investimento e os bônus milionários de seus executivos.

Não deu certo. Percebeu-se que o sistema bancário norte-americano estava quebrado. Haveria necessidade de uma recapitalização.

Enquanto isto, o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, continuava imerso em um autismo inexplicável, atacando os moinhos de vento da inflação enquanto o quadro mudava totalmente.

O movimento seguinte foi dos presidentes de Bancos Centrais e Ministros da Fazenda europeus, injetando liquidez no sistema. Também era um movimento inútil. Liquidez adianta quando o banco tem problemas momentâneos de caixa. Quando está quebrado, não.

Coube à Inglaterra mostrar o caminho, com seu programa de recapitalização e nacionalização (estatização) do sistema bancário. Imediatamente a notícia circulou e o mundo caminhou rapidamente para a trilha aberta pela Inglaterra.

No final de semana celebrou-se uma articulação inédita entre países membros do G7, do G20 e países da União Européia.

Os pacotes anunciados garantem a solidez dos bancos e a cobertura dos depósitos. É suficiente? Não se sabe ainda. Mas foi uma ação que, pela primeira vez, encarou a crise em toda sua gravidade.

No Brasil, os desafios são da seguinte ordem:

1. Mapear as empresas e bancos que quebraram a cara com as operações especulativas no mercado de câmbio.

2. Montar canais que permitam que o crédito seja restabelecido diretamente junto ao cliente de banco. Não basta meramente afrouxar o compulsório, porque os bancos não irão emprestar enquanto o quadro não clarear.
3. Preparar-se para o próximo ano, capitalizando o BNDES, tratando de reduzir rapidamente o déficit nas transações correntes.

Mesmo assim, não há garantias de como o país sairá dessas crise: se incólume, machucado ou gravemente ferido. Provavelmente, machucado.

Para o cidadão comum, pequenas e médias empresas, haverá os seguintes desdobramentos:

1. Baixíssimo risco de perder aplicações financeiras com quebra de bancos. O BC não poderá deixar nenhum banco quebrar. Portanto, manter o dinheiro em fundos de renda fixa ou DI é uma boa alternativa.

2. Quem não saiu da Bolsa até agora, não saia. Assim que houver clareza sobre as empresas em dificuldade, e o crédito começar a ser recomposto, haverá recuperação nos preços das ações.

3. Se o governo cometer a loucura de reduzir os investimentos públicos, há riscos claros do país cair em recessão.

4. Haverá dificuldades em exportar, devido à contenção do comércio internacional. Mas o câmbio tornará os produtos brasileiros mais competitivos. Daí a importância das estratégias montadas pela Apex para identificar mercados.

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