RIO - Em 6 de agosto de 2000 a ex-modelo Cristiana Aparecida Ferreira foi encontrada morta em um flat de luxo em Belo Horizonte. As investigações iniciais indicavam que a modelo teria cometido suicídio ao ingerir veneno para ratos, mas o caso só começou a receber maior atenção em dezembro de 2000. Duas pessoas chegaram a ser presas, suspeitas de assassinato: o noivo da modelo, Luiz Fernando Ferreira, e o sócio dele, Fábio Araújo. Um ano depois, o caso foi arquivado. Os promotores responsáveis pela investigação do caso diziam ter certeza de que a modelo teria sido assassinada e, a pedido da família, o caso foi reaberto, em novembro de 2002.
Uma agenda de Cristiana levou a polícia a nomes. Autoridades do governo de Minas eram citadas. A família afirmava que ela freqüentava gabinetes de secretários de estado. Um dos conhecidos da modelo seria o presidente da Companhia Energética de Minas (Cemig), Djalma Moraes, que admitiu, então, ter tido apenas um contato profissional com a modelo e que, no dia da morte, estava em Juiz de Fora. Antes de morrer, Cristiana fez 22 ligações. Na lista, constavam os números da Casa Civil de Minas, da Cemig e da casa de Moraes.
Em 19 de dezembro de 2002 o corpo da modelo foi exumado, com base em laudo pedido pela família. Segundo o promotor de Justiça Francisco de Assis Santiago, o laudo do perito Roberto Campos após a exumação comprovava que a modelo tinha morrido asfixiada com um travesseiro ou uma toalha. O documento indicava ainda fraturas no nariz de Cristiana, em dedos da mão direita e na última vértebra. O legista também detectou diversos hematomas na parte interna do braço.
Com o relatório, o promotor deu como encerrado o procedimento administrativo do caso, e o Ministério Público fez a denúncia contra o detetive particular Reinaldo Pacífico, ex-namorado da modelo. Ele teve a prisão decretada em 7 de janeiro de 2003, mas ficou foragido até maio do mesmo ano. Reinaldo se refugiou na casa de amigos, "para se proteger, não por ser culpado". O detetive foi namorado de Cristiana e teria cometido o crime por ciúme, segundo a conclusão do Ministério Público. Ele negou a versão da Justiça, e disse que tinha conhecimento do envolvimento da modelo com políticos.
- Eu só tive conhecimento do envolvimento dela com políticos quando fui chamado ao distrito policial. Com certeza estou sendo bode expiatório - afirmou
No início das investigações surgiram suspeitas de que Cristiana fosse garota de programa e estivesse relacionada a políticos do primeiro escalão do governo de Itamar Franco, deputados e empresários. No telefone celular da modelo foram encontrados 68 registros de nomes que se encaixavam nesses perfis. O depoimento do ex-governador Itamar Franco foi dispensado pelo promotor.
O ex-ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia, citado em depoimentos de parentes da modelo a promotores, negou qualquer tipo de envolvimento com a modelo. Ele disse que o único contato que eles tiveram, explicou em nota, havia sido em 1997, no gabinete da vice-governadoria do estado, em audiência marcada pelo responsável pela agenda oficial do vice-governador, cargo que ocupava. Cristiana teria pedido que Mares Guia a indicasse para trabalhar no gabinete de algum parlamentar em Brasília, mas o pedido foi negado.
Em agosto de 2005 o caso voltou aos jornais. Uma anotação numa agenda de telefones e um depoimento ao Ministério Público de Minas Gerais levantaram a possibilidade de uma ligação da morte da modelo mineira com o escândalo do mensalão. Na agenda de Cristiana, um nome chamava a atenção: Euler "DNA", seguido do telefone e do endereço de uma das agências de propaganda do empresário Marcos Valério Souza. Euller poderia ser o publicitário Euler Marques Andrade Filho, que por cinco anos foi diretor comercial da DNA.
Um dos irmãos de Cristiana, Eduardo Alves Ferreira, ao prestar depoimento ao promotor Francisco Santiago, do 2º Tribunal do Júri de Minas, em agosto de 2005, afirmou que, pouco antes de morrer, Cristiana começou a se envolver com políticos e a receber telefonemas de Brasília e de São Paulo. Segundo ele, em determinado momento a modelo começou a viajar para Brasília com malas lacradas. Ela dizia para o irmão que eram "documentos de altíssima importância". Cristiana teria ficado preocupada, certa vez, porque precisava fazer um depósito de R$1,3 milhão, dinheiro que pertenceria a políticos. Na época, Euler Marques foi procurado, mas não foi encontrado para comentar o caso.
FONTES:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u488524.shtml
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