sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Por que a 'Folha' não publica cartas de Ivan Seixas? II

Ivan Seixas tinha 16 anos quando foi preso pela ditadura, ao lado do pai, Joaquim Alencar de Seixas. No dia 16 de abril de 1971, os dois foram levados para o DOI-Codi/Oban, em São Paulo, e barbaramente torturados. No caminho para o Parque do Estado, os funcionários da "ditabranda" pararam numa padaria, na antiga Estrada do Cursino. Desceram pra tomar café, deixando Ivan no "chiqueirinho" da viatura. Foi de lá que Ivan conseguiu observar a manchete da Folha da Tarde (jornal do grupo Frias), estampada na banca bem ao lado da padaria: o jornal anunciava a morte do pai dele, Joaquim.

Ivan ficou indignado quando leu o editorial da Folha de S.Paulo, definindo a ditadura brasileira como "ditabranda"


Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador

(Confira abaixo as cartas de Ivan Seixas à Folha)

INSULTOS AOS DEMOCRATAS

Senhor editor

Vejo na página editorial da Folha loas ao bom comportamento dos ditadores brasileiros, que teriam sido até brandos com os inimigos. Vocês chegam até a cunhar o neologismo DITABRANDA para designar aquele período que todos os democratas definem como DITADURA. Hoje vi a redação insultar o professor Fábio Comparato e a Professora Maria Vitória Benevides de CÍNICOS E MENTIROSOS.

A DITABRANDA de vocês me prendeu junto com meu pai, quando eu tinha 16 anos. Nos torturaram juntos e o assassinaram no dia seguinte a noite. Naquela mesma manhã, uma nota oficial foi publicada dando conta de sua morte ao resistir à prisão, quando ele ainda estava vivo. Minha casa foi saqueada, minha mãe e irmãs foram presas e ficaram 1 ano e meio presas, sem acusação sequer. Uma dessas irmãs sofreu uma violência sexual por parte dos agentes da DITABRANDA de vocês. Eu fiquei preso por longos 6 anos.

Diante disso, convém perguntar: O que mais vocês gostariam que fizessem conosco? Para sua informação, envio foto de como ficou meu pai após a DITABRANDA tê-lo interrogado brandamente, nas palavras de vocês da redação da Folha. Saudações democráticas.

Ivan Akselrud de Seixas

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