sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Veja só





Pois esta semana eu comprometi sete reais e noventa centavos do meu franciscano orçamento para comprar a edição semanal da revista Veja. Não por nenhum motivo especial. Há um anúncio da agência em que eu trabalho publicado nessa edição, mas eu só lembrei disso depois de comprar. Apenas, eu estava na fila do supermercado e ela havia sido sordidamente posicionada ali, de acordo com alguma teoria muito certa sobre o comportamento consumidor, ao oportuno alcance da minha vontade de ler alguma coisa.

E, passando minha leitura pelo tal exemplar, me bateu uma certa dor pelos pilas que eu tinha deixado na registradora. Fazia tempo que eu não lia esse que é considerado um dos pilares do jornalismo nacional, e eu tive vontade de chorar pela parte do meu dinheiro que acabaria na mão de alguns de seus colaboradores.

A revista Veja é criticada por muita gente porque adota uma posição dita de direita, e isso é dito assim, como se fosse algum tipo de lepra ideológica, mas eu digo que o problema dela não é esse. Não há nada de errado em posicionar-se na direita nem na esquerda, assim como não há nada de errado com o sujeito que prefere a Coca à Pepsi ou vice-versa.

O problema também não está em ela dedicar boa parte de seu volume impresso à propaganda, à vida de celebridades de longevidade pública discutível ou ao jornalismo de costumes fúteis. O que me remeteu ao clichê dos quadrinhos e desenhos animados, aquele balão de pensamento em que uma nota de dinheiro aparece com asinhas angelicais indo embora melancolicamente para o além, foram os colunistas de opinião. Se eu pago sete reais e noventa centavos por um calhamaço de folhas impressas a cores, eu quero que, além de alguma informação interessante de que eu não dispunha, ele contenha insights instigantes sobre as coisas do aqui e do agora nacional. Eu quero que a minha mente seja estimulada com alguma pequena aventura pela razão alheia, e assim possa alargar meu campo focal da realidade.

Mas, pelo menos esta semana, eu não pude contar com os ilustres colunistas da Veja para isto. Justiça seja feita à notável exceção de Roberto Pompeu de Toledo, que dá uma esmola de mérito à edição com um elegante ensaio sobre gênero no poder, tendo como fio condutor a eleição de Michelle Bachelet para a presidência do Chile. Mesmo assim, seu impecável dissertar estava escondido atrás de um título pífio (Mulher no Comando: Isso Faz Diferença?), que o obrigou a contar com a minha teimosia para não deixar de ser lido.

De resto, no entanto, as colunas de opinião da revista são um deserto de irrelevância. A de Tales Alvarenga, por exemplo, se limita a falar do depoimento de Paulo de Tarso à CPI dos Bingos, dando ao leitor nada mais do que os fatos já noticiados e algo, muito pouco mesmo, de sua evidente importância. Nada daquele olhar de ave de rapina que deveria ser a alma de um texto desse tipo. Pelo contrário. Acrescente jóias de obviedade como "a Justiça deve agir com rigor" ou "os responsáveis precisam ser punidos" e pronto: tem-se uma versão em escala nacional de Lasier Martins, o inócuo gentleman do comentarismo político gaúcho.

Até Lya Luft, de quem se espera uma certa visão de mundo afiada pelo talento literário, esta semana descambou a falar das "elites" e do "povão", questionando a legitimidade do título de quem se diz ou é apresentada como "socialite", por exemplo. Não é exatamente algo que só ela enxergue, eu espero.
DIOGO MAINARDI

E então temos o senhor Diogo Mainardi. Ah, o Diogo Mainardi... Já ouvi gente quase tão rica, viajada e estudada quanto ele chamá-lo de "intelectual de direita" e dizer que ele cumpre um importante papel na paisagem jornalística do País. Trata-se de um sujeito tão peculiar, um caso tão curioso, que é mais divertido falar dele imitando o estilo dele mesmo. Fica assim:

Fenômeno é o nome que se dá no Brasil àquilo que acontece e ou não tem explicação, ou é alguma coisa admirável, impressionante. Diogo Mainardi é um fenômeno. Ele é o pop-star do jornalismo político conservador no Brasil. Só num país engripado por quinhentos anos de analfabetismo cultural ele poderia ser o que é, um formador de opiniões que as pessoas deveriam conseguir formar sozinhas.

Diogo Mainardi é um fidalgo. Ou seja, um filho-de-algo: do Ênio Mainardi, um publicitário cheio da grana que mandou o filhote morar em Veneza por um tempão. Deve ter sido lá que ele percebeu que o Brasil é uma república das bananas. E está certo o filho do Ênio. O Brasil é isso mesmo. Diogo Mainardi deve agradecer a Deus todo dia por ter razão. Porque, se o Brasil fosse um pouco mais parecido com a Itália, ninguém que já tivesse passado para a sexta série ia precisar da coluna dele pra nada, nem ia se extasiar com a catarse de ler toda semana na Veja uma coluna que diz o que qualquer um poderia dizer, com o sarcasmo que todo mundo fica aliviado em saber que entende.

Diogo Mainardi devia adorar morar em Veneza, mas voltou ao Brasil e virou um fenômeno. Quer saber por quê? Saia na rua em Veneza e pergunte a alguém se já ouviu falar em Diogo Mainardi.

Nenhum comentário:

Marcadores