segunda-feira, 16 de março de 2009

ARGEMIRO FERREIRA



"Os EUA estão vendo o Brasil como um país que “não é apenas um líder regional, mas também um protagonista do mundo em crise”. Ou seja, nada parecido com o telefonema de Bill Clinton que forçou FHC a dar à Raytheon, financiadora de sua campanha, o contrato (de US$2 bi) do projeto Sivam".


Eliane Catanhede, da “Folha de S.Paulo”,

Para a mídia golpista, com “O Globo” à frente, a reunião de Lula e Barack Obama na Casa Branca foi uma bobagem - e seu resultado, pior ainda. “Lula e Obama não chegam a acordo sobre biodiesel”, atacou a manchete mal humorada da página online do jornalão dos jornalões. Mas a cobertura da AP, como uma análise três dias antes do “Wall Street Journal”, teve outro tom e chegou no próprio sábado à manchete da página online do “Washington Post”, descrevendo reunião amena e positiva.


“O Globo”, sabemos, gaba-se de ser o único jornal do mundo a incluir o Hussein de Obama na manchete de sua vitória em 2008. Sempre busca originalidade para encobrir a falta de conteúdo. Lula gostaria de resposta imediata sobre o etanol mas a coisa não funciona assim. E a reação inicial de Obama esteve longe de ser o fracasso desejado pelo jornalão: “Não vai mudar da noite para o dia, mas acho que na medida em que continuamos nossa troca de idéias sobre o comercio a questão do biodiesel, fonte de tensão, será resolvida”.


Por enquanto era com algo assim que se contava. Como destacara, com realismo, a coluna de Eliane Catanhede, da “Folha de S.Paulo”, no dia da reunião. Ela lembrou que não se devia criar expectativa de que os dois sairiam do encontro “com uma solução que vai mudar a situação mundial”. Pois tais conversas de presidentes, em geral, costumam ter mais gestos e palavras do que resultados práticos. Além disso, acrescento eu, os dois vão se encontrar mais duas vezes em abril - nas cúpulas de Londres (G-20) e Trinidad (das Américas).


Respeito à liderança progressista

Catanhede considerou “importantíssimo” o detalhe de ser Lula o terceiro líder mundial a botar os pés na Casa Branca de Obama. Para ela, uma indicação de que os EUA estão vendo o Brasil como um país que “não é apenas um líder regional, mas também um protagonista do mundo em crise”. Ou seja, nada parecido com o telefonema de Bill Clinton que forçou FHC a dar à Raytheon, financiadora de sua campanha, o contrato (de US$2 bi) do projeto Sivam.


A jornalista Darlene Superville, que assinou a materia da AP no “Post”, preferiu destacar o clima extremamente amistoso durante o contato dos dois com a imprensa no salão Oval da Casa Branca “Sou um grande admirador do Brasil e um grande admirador da liderança progressista e visionária que o presidente Lula tem demonstrado através da América Latina e através do mundo”, disse Obama.


Ele lembrou ainda que “há uma forte amizade entre os dois países mas sempre podemos aprofundá-la mais”. E Lula não deixou por menos ao falar da “importância da eleição de Obama e o que ela pode representar para o mundo e especialmente para a América Latina”. Observou ainda que ele e Obama estão “verdadeiramente convencidos” de que as decisões que virão da reunião do G-20 podem resolver a crise econômica”.


O Brasil é chave no continente

Em um dos momentos amenos Lula recordou o que tem dito no Brasil - que reza mais por Obama do que por ele mesmo, devido aos graves problemas que o presidente americano está tendo de enfrentar imediatamente depois de assumir. “Não gostaria de estar no lugar dele”, disse. Ao que Obama acrescentou: “Pois vou contar uma coisa. Parece até que você andou conversando com minha mulher”.


Também a página online do “New York Times”, em texto de Peter Baker e Alexei Barrionuevo, citou no sábado aquele comentário de Obama. “Eles discutiram cooperação energética e a crise econômica, buscando coordenar as idéias para as próximas cúpulas”, disse o jornal. E mais: “O sr. Da Silva tem sido voz destacada a conclamar os EUA a moderar suas atuação na América Latina”.


O “Times” observou ter “Lula pressionado Obama a dar uma ajuda para reabrir as conversações globais sobre comércio (rodada de Doha), como ainda para reduzir as tarifas que mantêm os biocombustíveis do Brasil fora do mercado americano Para o jornal, a reunião indica que Obama retoma as relações com nosso país no estágio deixado por Bush. Tenta tornar o Brasil país-chave para os EUA na América Latina.


Amazônia e praias na agenda

No capítulo do biocombustível a AP ainda destacou que Lula o considera uma “alternativa extraordinária” e está certo de que outros países vão se somar ao esforço. Quando Obama visitar o Brasil, disse, “vou convidá-lo a entrar num carro com motor flex. Ele vai se sentir muito bem”. Obama contou então que tem o seu, mas que nos EUA ainda não há postos em número suficiente, o que deve mudar.


A matéria da AP destacou também que Lula foi o primeiro presidente da América Latina a ser recebido por Obama. E o governante dos EUA - familiarizado com as praias do Havaí, onde nasceu - contou que ao visitar o Brasil pretende conhecer as praias do Rio de Janeiro e viajar à Amazônia. “Os republicanos na certa vão torcer para que eu fique perdido na selva por um tempo”, brincou.

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