Recapitulemos: desde outubro a esperança e o salva-vidas do bloco conservador oposicionista-midiático é a crise. A ideia é que ela ponha abaixo os modestos porém palpáveis ganhos recentes do povão e de cambulhada derrube a popularidade do presidente e as chances do(a) sucessor(a).
Há um paradoxo irônico nesse esforço para pintar com as cores mais tétricas o colapso da economia capitalista global e muito especialmente suas repercussões no Brasil. Afinal, não são eles os devotos do livre mercado que hoje exibe suas pústulas? Mas há coisas que essa gente põe acima da coerência ideológica: por exemplo, salvar 2010.
A crise de fato chegou ao Brasil, nada tem de ''marolinha'' e há motivos para crer que ainda não bateu no fundo do poço. Os cidadãos sabem disso.No Ibope, entre dezembro para março, os que acreditam numa superação ainda neste semestre diminuíram de 23% para 4%; enquanto subiram de 21% para 40% os que só veem a recuperação em 2010 ou depois. No Datafolha, desde novembro, cresceram 15 pontos (de 44% para 59%) os que esperam mais desemprego; 83% avaliaram que a crise é muito grave ou grave.
Mas, a julgar pelas duas pesquisas, essa percepção não derrubou a avaliação do governo. Esta apenas retornou aos níveis de setembro, que foram um recorde só batido pelos de novembro-dezembro. Os dois institutos atestam uma notável persistência, com saldo de popularidade nas capitais e no interior, em todas as regiões, faixas de renda e de escolaridade.
Quando se cruza a percepção da crise com a imagem do governo, é como se os brasileiros tivessem resolvido dar a Lula um crédito de confiança. Mas esse crédito tem seu prazo de validade, que com certeza não vai até outubro de 2010.
Até lá, o bloco oposicionista-midiático que hoje se exaspera continuará a apostar na catástrofe, torcer para que a crise arrebente o Brasil, já que esta aparece como sua única chance. Ao passo que para o governo a contagem se inverte: desde já urge passar às mudanças capazes de fazer da crise uma oportunidade, como tem dito o presidente Lula, para que estas frutifiquem e justifiquem o crédito de que desfruta.
Para isso o presidente terá que ajustar contas com os bolsões neoliberais encravados de longa data em seu governo e sua orientação. O mais célebre deles, a política de juros do Banco Central de Henrique Meirelles, tornou-se também o seu símbolo: a paquidérmica lentidão nos cortes recentes da taxa Selic pelo Copom (Comitê de Política Monetária) continua a merecer críticas, desde os trabalhadores e seus sindicatos até os setores do capital produtivo. Uma medida incisiva nessa área teria efeito real na área ainda estrangulada do crédito e um enorme sentido simbólico.
EDITORIAL www.vermelho.org.br
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