Não deixa de ser curioso que a mesma bolsa de valores que fez boa parte dos gestores derrapar no ano passado tenha permitido ganhos gigantescos nos anos anteriores, lembra a revista EXAME, na matéria que publica sob o título "Um arranhão na aposentadoria". Esse foi o caso da caixa de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ, maior fundo de pensão da América Latina. Em 2008, as perdas chegaram a 11,5%, consequência, principalmente, da grande fatia aplicada em renda variável - 65% de seu patrimônio. Além da queda natural protagonizada pelo mercado de ações, a Previ teve de enfrentar casos extremos de desvalorização de alguns papéis nos quais investia, como Sadia e Aracruz. Isso fez a Previ perder 26 bilhões de reais no ano passado.
A situação foi ruim no Brasil, mas não ficou nem perto da realidade enfrentada pelos fundos de pensão em outros países. Nos Estados Unidos, o desempenho médio do setor em 2008 foi de 21,5% negativos, um efeito da alta exposição à bolsa de valores, que atinge cerca de dois terços das aplicações. O maior fundo de pensão do mundo, o Calpers, que atende mais de 1,6 milhão de funcionários públicos da Califórnia, perdeu mais de um quarto de seu patrimônio desde julho do ano passado. Empresas privadas, como Alcoa, DuPont, IBM e Whirlpool, tiveram de congelar a concessão de novos benefícios em seus planos. A dificuldade se repetiu em diversos lugares. Segundo a OCDE, o clube dos países ricos, a rentabilidade média mundial dos fundos de pensão em 2008 foi de -20%. "Os brasileiros perderam menos porque são bem mais conservadores. Os americanos, sim, têm com o que se preocupar", diz José Roberto Savoia, professor de finanças da Universidade de São Paulo e consultor na área de previdência.
Susto à parte, o maior problema no Brasil é menos o tombo do ano passado e mais o tortuoso caminho que os gestores têm pela frente. Além do cenário incerto na bolsa, os fundos de pensão estão vendo os rendimentos na renda fixa ficar cada vez menores com as consecutivas quedas da Selic. A estimativa do mercado é que a taxa de juro real termine o ano perto de 5% - um desafio para um setor acostumado a conviver com taxas que superavam a meta de rentabilidade de 6%. Boa parte dos gestores já está revendo suas estratégias. "Uma área atrativa para melhorar os resultados são os imóveis. No ano passado, nossos investimentos imobiliários renderam 21%", diz Sérgio Rosa, presidente da Previ. O fundo de pensão da Petrobras está buscando maiores rentabilidades com os investimentos em crédito privado, como as debêntures de empresas. "Como a renda fixa pública está com tendência de baixa, agora estamos procurando alternativas na renda fixa privada", diz Wagner Pinheiro de Oliveira, presidente da Petros, fundo de pensão da Petrobras. O certo é que a crise foi um divisor de águas para o setor de previdência complementar. Daqui em diante, não há mais investimentos de risco baixo e retorno alto.
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