Alega-se que a polícia do governador tucano José Serra, que é candidato à sucessão do presidente Luís Inácio Lula da Silva na eleição em 2010, não é preparada para ações desse tipo, e há inclusive quem tente atribuir a responsabilidade pelo episódio apenas a uma alegada ''falta de habilidade política'' da reitora.
São alegações que merecem reflexão. Em primeiro lugar, a tese de despreparo da polícia não é correta: ao contrário, ela é preparada para agir exatamente dessa maneira. É o jeito tucano de tratar os movimentos sociais e a luta dos trabalhadores: na ponta do chicote, encarando a questão social como caso de polícia.
Em segundo lugar, qualquer tentativa de jogar o custo político da repressão sobre os ombros da reitora não passa de tergiversação. Como mostraram os jornais nos últimos dias, partiu do próprio governador Serra a pressão para que ela chamasse a polícia contra a greve.
A agressão policial contra os grevistas é típica das ditaduras. Levar soldados armados para dentro das universidades, enxovalhando sua autonomia, faz parte também daquele receituário autoritário. A greve da USP, que já dura 50 dias, quer aumento salarial, a readmissão de um funcionário demitido injustamente, o fim de processos contra funcionários que participaram de greves, o cancelamento de um absurdo programa de ''educação'' à distância implantado pelo tucanato, e a mudança no plano de carreira dos professores.
A reitora, em artigo na Folha de S. Paulo, defende-se com linguagem semelhantes à dos governantes militares. Acusa os manifestantes ''violência para alcançar seus fins'', e fala em ''tolerância'', ''diálogo'', ''convivência social pacífica''. Tudo o que ela e seu governo não fazem, ao sonhar com um movimento social ''bem comportado'', que age de acordo com um roteiro aceitável aos que estão do outro lado da luta social. Santa ingenuidade imaginar que o movimento social pode ocorrer de acordo com os desejos dos que mandam, e acima de tudo sem pressioná-los! O teste democrático dos que mandam é justamente compreender esta complexidade e negociar, simplesmente negociar, com os trabalhadores para alcançar o entendimento em relação às reivindicações.
A agressão aos grevistas e à autonomia universitária ocorrida no dia 9, na USP, precipitou os acontecimentos e uniu, no mesmo lado da trincheira, protagonistas que até então discordavam sobre o movimento, aproximando estudantes, funcionários e professores que não concordavam com a greve. E começa a se levantar um clamor pela saída da reitora Suely Vilela. É uma demanda justa. Mas ela não pode deixar na sombra o principal responsável pela repressão, o governador tucano José Serra, comandante da polícia que jogou bombas e balas contra os manifestantes. E um dos principais adversários dos movimentos sociais. O eleitor precisa estar alerta e lembrar-se disso em outubro de 2010, quando for escolher o sucessor do presidente Lula. A USP está sob ocupação policial-militar desde o dia 3 de junho. A reitora pediu a presença das tropas, e José Serra, do PSDB, concordou e atendeu a esse pedido insano.
Editorial do VERMELHO <http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=57852>
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