Estudantes e funcionários da Universidade de São Paulo (USP) e homens da Polícia Militar entraram em confronto na entrada principal do campus da Cidade Universitária (zona Oeste da capital) por volta das 17h desta terça-feira (9).
Segundo informações preliminares, o confronto teria começado em frente ao portão principal da universidade, depois que alguns estudantes atiraram garrafas e pedras na direção da PM. Em resposta, a tropa jogou bombas de efeito moral e disparou balas de borracha contra os manifestantes. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência recebeu pelo menos dois policias feridos. Um estudante foi encaminhado para o Hospital Universitário.
Funcionários da USP estão greve desde 5 de maio. A paralisação teve a adesão de parte dos estudantes e professores na última sexta-feira (5). Segundo a assessoria de imprensa da USP, havia adesão de 10% dos 15 mil trabalhadores não-docentes de todos os campi. O número diverge do informado pelo sindicato dos funcionários, que declara adesão de 60% ao movimento.
Cenas de guerra
O confronto começou no portão principal da Cidade Universitária, ao lado da Academia de Polícia e acesso à avenida Valdemar Ferreira. Estudantes relataram à reportagem do UOL que um desentendimento entre manifestantes e policiais teria iniciado o confronto, sem precisar o fato que teria deflagrado a reação policial. A PM alega que foi provocada por estudantes e funcionários.
A reação da Força Tática da PM deu-se com uso de gás lacrimogênio, bombas de efeito moral e disparos de balas de borracha. Diante da ofensiva da polícia, o grupo formado por algumas centenas de estudantes e funcionários passou a recuar para dentro do campus. O avanço da PM chegou até o prédio da História, a quase um quilômetro do portão principal da USP.
O coronel Cláudio Longo, responsável pela operação policial na USP, definiu a ação como "apenas uma dispersão". Segundo ele, os estudantes provocaram os militares e ameaçaram os motoqueiros que garantiam o fluxo do trânsito de carros na entrada principal do campus. "Eles vieram com provocações. Alguns beberam e estavam fora de si." Longo afirma que a situação está sob controle. "Estamos calmos, só esperando o retorno dos alunos". Pelo menos três pessoas foram detidas durante o episódio e encaminhadas para o 93º Distrito Policial, onde prestam depoimento.
Questionado sobre a participação do governador José Serra no episódio, o coronel optou por uma resposta evasiva. "Isso não é minha decisão. Isso é da lei. Aqui não é bagunça".
Quase uma hora depois do começo do primeiro embate, que ocorreu por volta das 17h, o cheiro do gás lacrimogêncio ainda pairava no ar. Atendentes da uma unidade Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) que estava no local distribuiu máscaras para aliviar os efeitos do gás.
As bombas de efeito moral continuaram estourando por cerca de uma hora também. E o acesso ao prédio da História estava dificultado. O receio dos transeuntes era de ser confundidos com os manifestantes.
Outro funcionário, que trabalha há 18 anos na reitoria, estava espantado com a ação da PM no campus. "A polícia está tratando com bombas [os manifestantes]", disse o homem que preferiu não se identificar.
Às 19h, muitos carros de polícia ainda cercavam o prédio da reitoria. Na rua do Anfiteatro, a força tática da PM segue em formação, isolando parte do acesso com escudos. Havia menos de cem manifestantes no local, a maioria próxima à praça do Relógio.
Por volta de 19h20, um ônibus chegou ao campus com reforço policial. Segundo a assessoria de comunicação da PM, os militares permanecerão na Cidade Universitária até que a situação volte à normalidade.
Nota de repúdio
A Associação dos Docentes da USP (Adusp) divulgou nota de repúdio à ação da PM na USP, e responsabilizou as autoridades universitárias pelo ocorrido. "A responsabilidade do que está ocorrendo é das autoridades universitárias, que requisitaram as forças policiais para o local onde estava se realizando uma manifestação pacífica de estudantes e funcionários técnico-administrativos."
Na nota, a Adusp pede que "todas as entidades democráticas da sociedade paulista e brasileira a se manifestarem contra a barbaridade que está ocorrendo no campus Butantã da USP." A associação marcou para esta quarta-feira (10) uma nova assembleia para discutir a paralisação.
Versão da PM
Em nota oficial, a PM afirmou que "acompanhava as manifestações, objetivando garantir a ordem pública, no momento em que uma guarnição foi cercada por manifestantes, os quais, de mãos dadas, isolaram policiais militares ao centro, de forma ameaçadora e hostil. Houve a necessidade de intervenção da tropa, com a utilização de equipamentos não letais e técnicas específicas para restauração da ordem."
A PM classificou ainda como autoritária e prepotente a manifestação do grupo contra a presença de tropas dentro da Cidade Universitária.
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