Por Lúcia Rodrigues
Logo após ser nomeada para o cargo de reitora da USP, em 2005, pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB), a farmacêutica Suely Vilela Sampaio declarou à imprensa que gastava a maior parte de seu dinheiro com cremes e roupas. À época, ela também confidenciou que pretendia fazer uma cirurgia plástica para ficar mais bonita. Apesar dos comentários fúteis, é direito dela investir no próprio visual.
O lamentável é que as preocupações da reitora da universidade mais importante da América Latina, não se estendam à instituição que dirige. Suely Vilela acaba de cravar em seu currículo, a pecha de reitora que permitiu que PM transformasse a USP em uma praça de guerra.
É claro, que ela não tomou a decisão sozinha. O governador José Serra (PSDB) deu o aval para que, a especialista em animais venenosos, chamasse a PM para sitiar a universidade, com policias armados, inclusive, de submetralhadoras.
Por absoluta falta de habilidade, a reitora Suely Vilela transformou reivindicações trabalhistas em caso de polícia. A prática é corriqueira em regimes ditatoriais. O próprio presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, sentiu na pele o peso da repressão, quando comandava os metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.
Na USP, assim como nas greves do ABC dos anos 70, a polícia agrediu e prendeu manifestantes. A imprensa também aproveita para demonizar lideranças do movimento sindical uspiano, assim como fez há 30 anos com Lula.
Claudionor Brandão, diretor do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), demitido pela reitora em função de sua atuação sindical, é a bola da vez. Foi transformado pela mídia em uma espécie de Nero da USP.
Anos de chumbo
Desde 1968, quando os tanques do Exército invadiram a Cidade Universitária, para prender opositores do regime, não se via cenas de barbárie como as registradas no final da tarde de terça-feira, dia 09 de junho.
Ao colocar a PM no campus, a reitora Suely Vilela deu sinal verde para a repressão agir. O ambiente do conhecimento, forçadamente teve de ceder lugar ao armamento do choque: bombas, tiros de borracha, cassetetes, escudos e vôos rasantes dos helicópteros militares. As imagens da selvageria praticada pela Polícia Militar, e que percorreram o mundo, falam por si.
No prédio da reitoria, recolhida em seu gabinete, Suely Vilela, assistiu a tudo pela TV, confortavelmente reclinada em sua poltrona. A tranqüilidade da reitora, no entanto, pode estar com os dias contados. O ataque militar gerou revolta e consternação na comunidade acadêmica. Até mesmo professores que não haviam aderido à greve, passaram a criticá-la abertamente.
“Fora Suely” e “fora PM” são as palavras mais ouvidas no campus. A Adusp (Associação dos Docentes da USP) já protocolou a exigência na reitoria. Acuada, a reitora escreveu artigo para a imprensa tentando justificar o injustificável. Segue na linha da intervenção do governador José Serra, que considerou a ação da PM correta.
A primeira mulher a assumir o cargo mais importante da USP, entra para o rol de persona non grata no círculo daqueles que defendem o diálogo ao invés do açoite.
Pau-de-arara
Uma funcionária do comando de greve, que prefere não ter o nome revelado com medo de represálias, afirma que as provocações dos militares aos líderes do movimento têm sido rotineiras. Se a liderança for mulher, as provocações se tornam mais pesadas. “Fazem gestos obscenos com a língua”, conta a trabalhadora.
Na manhã de terça-feira, dia 09, enquanto ela e mais duas colegas distribuíam panfletos do sindicato, nos fundos da reitoria, um grupo de policiais fazia comentários provocativos em voz alta. Um perguntava: “essa aí (manifestante) dá pra pendurar (no pau-de-arara), não dá?” Ao que o outro prontamente respondeu: “ô se dá”. Os demais militares riam da provocação feita pelos colegas de farda.
A provocação dos militares é uma alusão ao pau-de-arara, instrumento de tortura empregado pela repressão contra presos políticos durante a ditadura e vigente ainda hoje em delegacias e presídios, para castigar prisioneiros comuns.
Os resquícios do golpe de 64 estão presentes nas práticas policiais. O combate à guerrilha em São Paulo, nos anos 70, é destacado como um grande feito, no sítio da PM paulista na internet, em junho de 2009. O texto militar informa que as principais atividades da tropa de choque estão relacionadas “ao controle de distúrbios civis e à contra guerrilha rural e urbana”.
A mentalidade repressiva da polícia contra os movimentos sociais, infelizmente, não é coisa do passado. Isso talvez explique a presença de armamento letal, como pistolas, revólveres e submetralhadoras dentro campus universitário. Funcionários, estudantes e professores ainda são vistos pelos militares, como inimigos internos.
Questionado pela reportagem de Caros Amigos sobre a presença de um sargento portando uma submetralhadora, em frente ao Cepeusp (Centro de Práticas Esportivas da USP), o tenente-coronel Cláudio Miguel Marques Longo, comandante da operação, silenciou. Ao ver a foto publicada no jornal da Adusp, justificou afirmando que o policial voltava de um assalto a banco.
Lúcia Rodrigues é jornalista
No prédio da reitoria, recolhida em seu gabinete, Suely Vilela, assistiu a tudo pela TV, confortavelmente reclinada em sua poltrona. A tranqüilidade da reitora, no entanto, pode estar com os dias contados. O ataque militar gerou revolta e consternação na comunidade acadêmica. Até mesmo professores que não haviam aderido à greve, passaram a criticá-la abertamente.
“Fora Suely” e “fora PM” são as palavras mais ouvidas no campus. A Adusp (Associação dos Docentes da USP) já protocolou a exigência na reitoria. Acuada, a reitora escreveu artigo para a imprensa tentando justificar o injustificável. Segue na linha da intervenção do governador José Serra, que considerou a ação da PM correta.
A primeira mulher a assumir o cargo mais importante da USP, entra para o rol de persona non grata no círculo daqueles que defendem o diálogo ao invés do açoite.
Pau-de-arara
Uma funcionária do comando de greve, que prefere não ter o nome revelado com medo de represálias, afirma que as provocações dos militares aos líderes do movimento têm sido rotineiras. Se a liderança for mulher, as provocações se tornam mais pesadas. “Fazem gestos obscenos com a língua”, conta a trabalhadora.
Na manhã de terça-feira, dia 09, enquanto ela e mais duas colegas distribuíam panfletos do sindicato, nos fundos da reitoria, um grupo de policiais fazia comentários provocativos em voz alta. Um perguntava: “essa aí (manifestante) dá pra pendurar (no pau-de-arara), não dá?” Ao que o outro prontamente respondeu: “ô se dá”. Os demais militares riam da provocação feita pelos colegas de farda.
A provocação dos militares é uma alusão ao pau-de-arara, instrumento de tortura empregado pela repressão contra presos políticos durante a ditadura e vigente ainda hoje em delegacias e presídios, para castigar prisioneiros comuns.
Os resquícios do golpe de 64 estão presentes nas práticas policiais. O combate à guerrilha em São Paulo, nos anos 70, é destacado como um grande feito, no sítio da PM paulista na internet, em junho de 2009. O texto militar informa que as principais atividades da tropa de choque estão relacionadas “ao controle de distúrbios civis e à contra guerrilha rural e urbana”.
A mentalidade repressiva da polícia contra os movimentos sociais, infelizmente, não é coisa do passado. Isso talvez explique a presença de armamento letal, como pistolas, revólveres e submetralhadoras dentro campus universitário. Funcionários, estudantes e professores ainda são vistos pelos militares, como inimigos internos.
Questionado pela reportagem de Caros Amigos sobre a presença de um sargento portando uma submetralhadora, em frente ao Cepeusp (Centro de Práticas Esportivas da USP), o tenente-coronel Cláudio Miguel Marques Longo, comandante da operação, silenciou. Ao ver a foto publicada no jornal da Adusp, justificou afirmando que o policial voltava de um assalto a banco.
Lúcia Rodrigues é jornalista
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