Por Bernardo Joffily
A má vontade da mídia hegemônica pode ser aquilatada pela coluna de Eliane Cantanhêde na Folha de S.Paulo de hoje. A jornalista reclama que nenhuma das três perguntas selecionadas seja "obre mensalão, aloprados, dossiês, muito menos sobre a operação de salvamento do Sarney e de humilhação do PT". Não ocorre a ela que estes são temas tão superlativamente esmiuçados por veículos como a Folha que, com toda certeza, uma coluna a mais apenas choveria no molhado.
Mas a Cantanhêde anda preocupada. Lula já tem o programa de rádio Café com o Presidente, tem o site da Presidência, depois, virão um blog e até um twitter, para interagir com a opinião pública, "é Lula para todo lado", onde já se viu?
"Para isso existe e resiste a imprensa independente, que mantém espaços de opinião, ao lado do farto noticiário diário sobre o presidente, para trazer ao debate a crítica, o contraponto, o questionamento real, a saudável provocação. É claro que Lula e os lulistas não gostam. [...] Mas é democrático", pontifica a colunista. "Ainda mais quando o presidente se coloca acima do bem e do mal. E sonha com a unanimidade."
É duvidoso que Lula, um político que, como ele costuma dizer, "tem lado", sonhe com a unanimidade: quem "tem lado" sempre desagrada o lado de lá. Basta ver o que pensam os barões da mídia para verificar que não há chance de unanimidade à vista.
Porém afora a unanimidade é isso mesmo, Eliane Cantanhêde: bem vinda ao século 21. Agora vai ser assim. Com a revolução comunicacional em curso, quem tiver o que dizer, seja presidente da República, jornalista ou outro ser humano qualquer, tem o direito à palavra e, dependendo do que diga, será ouvido. A coluna de Lula, com suas perguntas e respostas diretas, certamente terá audiência.
Parafraseando a jornalista, é claro que os barões da mídia não gostam. Mas é democrático. Veja portanto a íntegra da coluna de estreia de Lula.
"Natália Miranda Vieira, 36 anos, professora universitária de Natal (RN) - Como o governo federal vai garantir que não haja uma sangria de dinheiro público nas obras que serão realizadas para a Copa de 2014, a exemplo da que ocorreu nas obras para os Jogos Pan-americanos de 2007?
Presidente Lula - Não houve sangria do dinheiro público. Os investimentos no Pan superaram o previsto porque o planejamento inicial, que não foi da responsabilidade do nosso governo, não previu itens necessários para a execução do evento, como por exemplo, segurança pública e a capacidade de 45 mil lugares do estádio João Havelange, projetado para apenas 10 mil pessoas. O governo federal teve que arcar com compromissos do estado e do município, o que não acontecerá com a Copa de 2014. Vamos fazer um planejamento detalhado das obras e depois reunir representantes dos estados e dos municípios sedes para definir responsabilidades, dando transparência ao processo. O Ministério do Esporte vai monitorar as obras para que tudo esteja pronto antes de 2014.
Leila Dalgolbo, 41 anos, pensionista de Cariacica (ES) - Em relação ao programa Minha Casa, Minha Vida, gostaria de saber por que não é feito o desconto das prestações em folha do INSS e se legaliza de vez a tão sonhada casa própria dos menos favorecidos? E por que as pessoas não podem se cadastrar pelo computador em vez de ficarem mofando em imensas filas?
Presidente Lula - O desconto na folha de pagamentos do INSS já é amplamente adotado pelo sistema bancário brasileiro e pode vir a ser realizado pelo programa Minha Casa, Minha Vida. É uma segurança para os bancos e uma comodidade para os pensionistas. Em relação aos trabalhadores da ativa, os descontos poderão vir a ser feitos na folha de pagamentos. Quanto à possibilidade de cadastramento pela internet, sua pergunta é, na verdade, uma ótima sugestão. As áreas específicas do governo serão acionadas para o estudo e a possível adoção dessa alternativa. O cadastramento também pode ser feito pelo 0800-726-0101 da Caixa Econômica. O mais importante é que o programa atende a boa parte da demanda por moradia e cria um grande número de empregos na construção civil e nas empresas que produzem telhas, tinta, canos, pias, tijolos, vasos, tomadas, torneiras, chuveiros etc., tudo contado aos milhões.
Anna Maria Marcus, 60 anos, dona de casa de Diadema (SP) - Diariamente a gente vê na televisão o caos na saúde nos principais estados brasileiros e o mau atendimento nos hospitais públicos. Por que é tão difícil oferecer assistência médica de qualidade pelo SUS?
Presidente Lula - Sabemos que há problemas no SUS, como filas e dificuldades para se marcar um exame ou consulta, o que é um transtorno para as pessoas mais fragilizadas. Conhecemos essas deficiências e estamos permanentemente tentando eliminá-las. A questão é que temos o maior sistema de saúde pública do mundo. Imagine que 70% dos brasileiros dependem exclusivamente dele. E o restante é beneficiado em campanhas de vacinação, atendimentos de urgência, transplantes e aquisição de medicamentos de alto custo. O financiamento desse sistema é um desafio gigantesco. E as demandas aumentam sem parar e variam de natureza, devido ao crescimento da população e da porcentagem de idosos. De 2002 para 2008, a verba que o governo repassa a estados e municípios triplicou, passando de R$ 12 bilhões para R$ 37 bilhões. É bom lembrar ainda que, com a derrubada da CPMF, perdemos volume expressivo de recursos, que esperamos recompor com a regulamentação, pelo Congresso, da Emenda Constitucional 29."
Nenhum comentário:
Postar um comentário