terça-feira, 7 de julho de 2009

Lula lança O Presidente Responde de olho no povão

A grande mídia não gostou, para variar. Mas a coluna semanal O Presidente Responde, assinada por Luiz Inácio Lula da Silva em 94 jornais do país, visa falar diretamente ao brasileiro comum, por cima da má vontade dos barões da grande mídia. Em sua estréia, nesta terça-feira (7), Lula responde a três mulheres. Fala dos gastos governamentais com a Copa de 2014, do modo de pagar o programa Minha Casa, Minha Vida, das filas do SUS - coisas da "ponta da linha" da relação governo-cidadãos.

Por Bernardo Joffily

A má vontade da mídia hegemônica pode ser aquilatada pela coluna de Eliane Cantanhêde na Folha de S.Paulo de hoje. A jornalista reclama que nenhuma das três perguntas selecionadas seja "obre mensalão, aloprados, dossiês, muito menos sobre a operação de salvamento do Sarney e de humilhação do PT". Não ocorre a ela que estes são temas tão superlativamente esmiuçados por veículos como a Folha que, com toda certeza, uma coluna a mais apenas choveria no molhado.

Mas a Cantanhêde anda preocupada. Lula já tem o programa de rádio Café com o Presidente, tem o site da Presidência, depois, virão um blog e até um twitter, para interagir com a opinião pública, "é Lula para todo lado", onde já se viu?

"Para isso existe e resiste a imprensa independente, que mantém espaços de opinião, ao lado do farto noticiário diário sobre o presidente, para trazer ao debate a crítica, o contraponto, o questionamento real, a saudável provocação. É claro que Lula e os lulistas não gostam. [...] Mas é democrático", pontifica a colunista. "Ainda mais quando o presidente se coloca acima do bem e do mal. E sonha com a unanimidade."

É duvidoso que Lula, um político que, como ele costuma dizer, "tem lado", sonhe com a unanimidade: quem "tem lado" sempre desagrada o lado de lá. Basta ver o que pensam os barões da mídia para verificar que não há chance de unanimidade à vista.

Porém afora a unanimidade é isso mesmo, Eliane Cantanhêde: bem vinda ao século 21. Agora vai ser assim. Com a revolução comunicacional em curso, quem tiver o que dizer, seja presidente da República, jornalista ou outro ser humano qualquer, tem o direito à palavra e, dependendo do que diga, será ouvido. A coluna de Lula, com suas perguntas e respostas diretas, certamente terá audiência.

Parafraseando a jornalista, é claro que os barões da mídia não gostam. Mas é democrático. Veja portanto a íntegra da coluna de estreia de Lula.

"Natália Miranda Vieira, 36 anos, professora universitária de Natal (RN) - Como o governo federal vai garantir que não haja uma sangria de dinheiro público nas obras que serão realizadas para a Copa de 2014, a exemplo da que ocorreu nas obras para os Jogos Pan-americanos de 2007?
Presidente Lula - Não houve sangria do dinheiro público. Os investimentos no Pan superaram o previsto porque o planejamento inicial, que não foi da responsabilidade do nosso governo, não previu itens necessários para a execução do evento, como por exemplo, segurança pública e a capacidade de 45 mil lugares do estádio João Havelange, projetado para apenas 10 mil pessoas. O governo federal teve que arcar com compromissos do estado e do município, o que não acontecerá com a Copa de 2014. Vamos fazer um planejamento detalhado das obras e depois reunir representantes dos estados e dos municípios sedes para definir responsabilidades, dando transparência ao processo. O Ministério do Esporte vai monitorar as obras para que tudo esteja pronto antes de 2014.
Leila Dalgolbo, 41 anos, pensionista de Cariacica (ES) - Em relação ao programa Minha Casa, Minha Vida, gostaria de saber por que não é feito o desconto das prestações em folha do INSS e se legaliza de vez a tão sonhada casa própria dos menos favorecidos? E por que as pessoas não podem se cadastrar pelo computador em vez de ficarem mofando em imensas filas?
Presidente Lula - O desconto na folha de pagamentos do INSS já é amplamente adotado pelo sistema bancário brasileiro e pode vir a ser realizado pelo programa Minha Casa, Minha Vida. É uma segurança para os bancos e uma comodidade para os pensionistas. Em relação aos trabalhadores da ativa, os descontos poderão vir a ser feitos na folha de pagamentos. Quanto à possibilidade de cadastramento pela internet, sua pergunta é, na verdade, uma ótima sugestão. As áreas específicas do governo serão acionadas para o estudo e a possível adoção dessa alternativa. O cadastramento também pode ser feito pelo 0800-726-0101 da Caixa Econômica. O mais importante é que o programa atende a boa parte da demanda por moradia e cria um grande número de empregos na construção civil e nas empresas que produzem telhas, tinta, canos, pias, tijolos, vasos, tomadas, torneiras, chuveiros etc., tudo contado aos milhões.
Anna Maria Marcus, 60 anos, dona de casa de Diadema (SP) - Diariamente a gente vê na televisão o caos na saúde nos principais estados brasileiros e o mau atendimento nos hospitais públicos. Por que é tão difícil oferecer assistência médica de qualidade pelo SUS?
Presidente Lula - Sabemos que há problemas no SUS, como filas e dificuldades para se marcar um exame ou consulta, o que é um transtorno para as pessoas mais fragilizadas. Conhecemos essas deficiências e estamos permanentemente tentando eliminá-las. A questão é que temos o maior sistema de saúde pública do mundo. Imagine que 70% dos brasileiros dependem exclusivamente dele. E o restante é beneficiado em campanhas de vacinação, atendimentos de urgência, transplantes e aquisição de medicamentos de alto custo. O financiamento desse sistema é um desafio gigantesco. E as demandas aumentam sem parar e variam de natureza, devido ao crescimento da população e da porcentagem de idosos. De 2002 para 2008, a verba que o governo repassa a estados e municípios triplicou, passando de R$ 12 bilhões para R$ 37 bilhões. É bom lembrar ainda que, com a derrubada da CPMF, perdemos volume expressivo de recursos, que esperamos recompor com a regulamentação, pelo Congresso, da Emenda Constitucional 29."

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