quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Disputar por disputar, eu acredito que as pessoas de bom senso e compromisso não fariam. Disputa-se para se defender um projeto, ideias e causas -MARINA SILVA

Marina, sua saída para o PV já está decidida?" "Não"
De repente, o tema do dia é a senadora Marina da Silva, do PT do Acre, mas convidada pelo PV a concorrer à Presidência. Caravanas e uma carta abertade petistas entoam o "Fica Marina", enquanto a mídia mercantil escolheu o "Vai Marina". Apenas a ex-ministra do Meio Ambiente, no olho do furacão, não parece ter pressa, a julgar por suas palavras em entrevista à rádio CBN.

Por Bernardo Joffily

Marina: "Minha trajetória é no socioambientalismo"
O entrevistador da rádio do Grupo Globo foi direto ao ponto: "Sua saída para o PV já está decidida?" E a resposta de Marina foi: "Não".

"Eu estou num processo de discussão, que começou pelos meus companheiros de 30 anos de PT no Acre, ouvindo. Estou buscando um diálogo e vou firmar um convencimento interno. Não é verdade que eu tenha já uma decisão a priori", afirmou a senadora em seguida.

Um debate em três momentos

Marina coloca que a primeira discussão é sair ou não do PT, e a segunda é entrar ou não no PV. Vê nele um partido verde "tradicional", do tipo europeu. Enquanto ela coloca que sua trajetória "é no socioambientalismo, buscando novos paradigmas para o processo de desenvolvimento".

Só após decidir sobre PT ou não PT, PV ou não PV, Marina abriria, segundo disse na entrevista, a discussão sobre candidatura. "Não faz parte do meu feitio sair de um partido para ser candidata. Um processo doloroso que eu fiz, como este, é para uma discussão programática", afirmou.

O entrevistador quis saber se a idéia da candidatura não "anima" a senadora, até para transformar a questão do meio ambiente "em pauta nacional". Novamente a resposta foi para baixar a bola:

"Isso não vem a priori. Disputar por disputar, eu acredito que as pessoas de bom senso e compromisso não fariam. Disputa-se para se defender um projeto, ideias e causas. É essa a discussão que eu estou fazendo. A primeira [discussão] é a saída ou nção do PT, partido que eu ajudei a construir, que de alguma forma tenho contribuido e que tem dado uma contribuição excepcional em vários aspectos da vida democrática, social e política do país, com todas as dores e delícias de sermos o que somos."

(Ouça a íntegra da entrevista de Marina na CBN) <http://cbn.globoradio.globo.com/home/2009/08/12/EM-ENTREVISTA-A-CBN-MARINA-SILVA-DIZ-QUE-AINDA-BUSCA-DIALOGO-E-NAO-CONFIRMA-SAIDA-DO.htm>

Pesquisa vistosa e vice oferecido

O comedimento de Marina na entrevista contrasta com o frisson que o convite do PV provocou sobretudo na mídia dominante. Ninguém registra que o líder do partido da Câmara e um dos idealizadores da campanha é o deputado José Sarney Filho (MA), filho do presidente do Senado, eleito pela opinião publicada como o Grande Satã da temporada.

O Estadão Online divulgou nesta quarta os números de uma pesquisa encomendada pelo PV ao Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe). A pesquisa foi feita por telefone, porém teria margem de erro de apenas 2,2%. Foi coletada em julho mas só tabulada nesta terça-feira, sempre segundo a notícia.

Conclusão do Estadão, único órgão a veicular os números: "O tamanho do estrago feito pela senadora Marina Silva (PT-AC) na candidatura da ministra Dilma Rousseff (PT) finalmente vem a público, em números precisos".

Eis os "números precisos", e vistosos, do Ipespe. No primeiro cenário, José Serra 28%, Ciro Gomes (PSB) 16%, Dilma (14%), Heloísa Helena (PSOL) 13% e Marina em quinto, com 10%. No segundo, sem Heloísa, Marina sobe e empata com Dilma em 14% (Serra lidera com 30% e Ciro fica com 22%). Quando Ciro também é tirado da disputa, Serra sobe para 37% e Marina vence Dilma por 24% a 16%. E na última hipótese, com Aécio e sem Ciro, Marina lidera com 27%, contra 25% do governador mineiro e 19% de Dilma.

Marina tem até um vice oferecido, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que em 2006 disputou a Presidência. Indagado pelo portal Terra se a senadora está "pronta para deixar o PT ou ainda tem muitas dúvidas", Cristovam garantiu: "Eu senti ela pronta para fazer a sua opção, atendendo esse apelo da história".

Já a coluna Panorama Político, do jornal O Globo desta quarta-feira, foi ainda mais afoita. Disse que durante um encontro nesta terça-feira, Marina teria "confidenciado" ao senador Cristovam que será candidata à presidência em 2010.

Gabeira planeja subir em dois palanques

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que visitou Marina nesta quarta-feira em sua casa, saiu da conversa com uma declaração mais sóbria. Disse que "o que falta para ela talvez é uma definição emocional para deixar um partido em que esteve por 30 anos. Mas postou no Twitter que a possibilidade de a petista "entrar no PV e ser candidata à Presidência é forte".

Em outro post, Gabeira, um verde muito próximo e tradicionalmente aliado dos tucanos - que o apoiaram para prefeito carioca em 2008 e prometem repetir a dose para governador em 2010 - puxou a brasa para sua própria sardinha eleitoral: "Marina quer me ver candidato ao governo do Rio, mas a engenharia para o apoio dos potenciais aliados é decisiva. Sem ele, fica difícil".

Em 2008, o PSDB contribuiu com R$ 1 milhão para a campanha de Gabeira no Rio. Em 2010, ele tem como "entusiastas de sua candidatura o governador de São Paulo, José Serra, e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o que o leva a estudar a hipótese de subir em dois palanques, o de Serra e o de Marina, segundo reportagem do Valor Econômico (clique aqui para ver a íntegra <http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=113481&id_secao=1> ).

Os enviados e a carta aberta do PT

Por fim, há o movimento do PT para manter a segurar Marina em sua legenda. O provável futuro presidente do partido, ex-senador José Eduardo Dutra (SE), e o atual, deputado Ricardo Berzoini, foram procurar a senadora. Seus colegas de bancada Eduardo Suplicy e Aloizio Mercadante, idem.

O ex-ministro e influente petista José Dirceu, em seu blog, preferiu adiantar o debate sobre como ficará o mandato da senadora em caso de troca de partido. "Não podemos deixar de registrar aquilo que não é apenas lei ou decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), a imposição da fidelidade partidária. Esta resulta de uma conquista do PT e de seus filiados, dos anos de luta e sacrifícios dessa militância", diz Dirceu.

Mais diplomática, a bancada do PT no Senado divulgou uma Carta aberta à companheira senadora Marina Silva. Diz que "a identidade que une Marina Silva ao PT é inquebrantável" e que "desejamos sinceramente que a nossa querida companheira Marina Silva permaneça no Partido dos Trabalhadores, mas qualquer que seja a sua decisão, seu vínculo com o PT jamais se quebrará". Veja a íntegra da mensagem, que o senador Paulo Paim (PT-RS) desejava mais "incisiva":

"A trajetória de Marina Silva se confunde com a trajetória do PT. Ambos surgiram muito pequenos e humildes e tiveram que enfrentar obstáculos quase intransponíveis para se tornarem o que são hoje.

Mas autoritarismo, censura, preconceitos, ausência de oportunidades e de condições econômicas, discriminação política e dos veículos de comunicação foram todos dura e pacientemente vencidos nessa trajetória comum. Marina Silva, de pequena menina pobre e analfabeta de um seringal do Acre, transformou-se numa importante figura pública do país e persona de prestígio internacional. O PT, de um pequeno e quixotesco aglomerado de cidadãos que lutavam pela democracia e por um país melhor, tornou-se o partido que governa, com grande êxito, o país há sete anos. Com eles, cresceu também o Brasil.

No Senado, acompanhamos a trajetória de Marina Silva e lutamos lado a lado com ela pelas melhores causas da nação. Doce e determinada, calma e perseverante, Marina Silva contribuiu decisivamente para a estruturação do partido e sempre teve uma ação construtiva na bancada. À frente do Ministério do Meio Ambiente por seis anos, Marina Silva teve um desempenho histórico que contribuiu substancialmente na luta pela sustentabilidade ambiental no Brasil, com o apoio de seus companheiros de bancada e de partido. Destacou-se, lutou, perseverou. Engrandeceu seu nome, o do seu partido e o do seu país.

Trajetórias como essa só se constroem com sonhos. Sonhos coletivos que transformam a realidade. Assim, a identidade que une Marina Silva ao PT é inquebrantável, pois ela foi forjada na luta comum por um país próspero e justo, no qual todos tenham oportunidades. Uma luta que continua.

Por isso, desejamos sinceramente que a nossa querida companheira Marina Silva permaneça no Partido dos Trabalhadores, sua casa política, e prossiga nessa trajetória coletiva que já conquistou tanto, mas que tem tanto ainda para conquistar.

Mas qualquer que seja a sua decisão, seu vínculo com o PT jamais se quebrará. Sempre será assim, esteja onde ela estiver. E, esteja onde ela estiver, terá nosso carinho, nossa admiração, nossa história comum."

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