domingo, 16 de agosto de 2009

Já vai tarde!

Em Recife, acaba gestão do polêmico bispo que excomungou médicos por aborto de menina



RECIFE - Alvo de polêmica quando disse que "o aborto é mais grave do que o estupro", o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, deixa neste domingo o comando da terceira mais importante arquidiocese do país, ao final de uma gestão controvertida. Além de excomungar médicos e autoridades que ajudaram a interromper a gestão da garota de 9 anos violentada pelo padrasto, ele marcou sua gestão pela perseguição a sacerdotes, desarticulação das pastorais e pelo fechamento dos centros de formação teológica.

A comunidade católica local está preparando uma festa para receber o sucessor de dom José, o beneditino dom Fernando Saburido. As comemorações incluem caminhada pelas ruas do centro e uma grande missa campal no Marco Zero, ponto tradicional de concentração popular dos grandes eventos da capital.

Dom Dedé - como é mais conhecido - sucedeu em 1985 a dom Hélder Câmara, que marcou sua atuação como um religioso com voz atuante contra a ditadura militar. Os católicos reclamam que dom Dedé desestruturou toda a obra deixada por dom Hélder e passou a demitir os padres progressistas. Foram vinte afastados, inclusive o secretário executivo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Regional Nordeste II, Hermínio Canova.

Ele destituiu entidades de ação destacada em Recife, como a Comissão de Justiça e Paz, criada por dom Hélder. Fechou centros como o Instituto de Teologia de Recife e o Seminário Regional Nordeste II, de orientação inspirada na Teologia da Libertação.

Em julho de 1989, proibiu que umbandistas lavassem a calçada da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, durante a festa da padroeira de Recife, pondo fim a uma tradição secular. Em janeiro de 2007, acionou o Vaticano contra o padre Edwaldo Gomes, que tem 53 anos de sacerdócio e 39 de atuação na paróquia de Casa Forte, um dos bairros mais sofisticados do Recife. Isso porque, durante a missa do jubileu de sacerdócio, o padre Edwaldo foi homenageado por um pastor anglicano. Há um preceito no Direito Canônico proibindo pessoas de outras religiões de participar da liturgia católica.

Dom Dedé não quis comentar as acusações nem fazer um balanço da sua gestão. Mas ao anunciar sua aposentadoria, ele disse ter a consciência tranquila e o dever cumprido. Inclusive no caso do aborto. A última vez em que se manifestou foi há oito dias, com uma nota paga, publicada nos jornais locais, ratificando que teve o apoio da Santa Sé no caso polêmico da menina grávida de gêmeos.




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