quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Resposta da Deputada Federal Maria do Rosário à Danuza Leão



 
 
 

Este Leão (Danuza) é manso

                                                                       Maria do Rosário*  

 

 

“As aparências enganam” e o que a colunista Danuza revela, “Na Sala”, não condiz com o que se passa na alcova da imprensa e do poder – coisas que ela carrega no DNA, conhece como ninguém e é a mais perfeita tradução desta mistura tão nociva ao país nas últimas seis décadas. Não a conheço, não a tenho como leitura freqüente, mas nutro por ela uma leve simpatia pelo simples fato de ser uma mulher que soube ocupar seus espaços e sair da sombra do ex-marido poderoso e da irmã – esta sim, genial e famosa.

 

Pois, em artigo recente, o Leão Danuza rugiu para cima da ministra Dilma Rousseff em um texto carregado de preconceitos, juízos de valor e intenções (más) dissimuladas. As opiniões pessoais desta moça é um direito inalienável dela. Contestá-la, com mais respeito do que ela teve pela Ministra, é igualmente democrático.

 

O fato é que este mesmo Leão que ruge contra a Ministra – misturando vida pública e privada em uma colcha de retalhos de asneiras – é manso e cordato diante dos chicotes de seus domadores. Seus urros são seletivos e de rei das selvas torna-se o bobo da corte da campanha para que um tucano volte a reinar.

 

Ao contrário de Danuza, conheço Dilma Rousseff muito antes de ela sonhar em ser Ministra Chefe da Casa Civil ou antever a possibilidade de se tornar Presidente da República – não fosse esta real possibilidade, talvez, os leões não estariam rugindo pra ela. Sei de seus traumas – não aqueles chiliques que levam dondocas aos anos de divã – mas daqueles causados pela prisão e pela tortura.

 

Dizer que Dilma fala “com aquela voz de general da ditadura no quartel”, como afirma Danuza em seu abominável artigo, é desrespeitoso com o passado da ministra, que aos 19 anos estava sob o jugo destes verdugos, enquanto corajosas – e medrosas – colunistas de hoje compactuavam com o regime, seja pelo silêncio, seja pelas viagens psicodélicas, seja pelas viagens ao redor do mundo.

 

Não sei baseado em que a colunista afirma que “não existe em Dilma um só traço de meiguice, doçura, ternura”. Quantas vezes, por exemplo, ela viu o ex-ministro Serra sorrir em oito anos de governo FHC? Não sei se pelos caninos vampirescos, mas a coisa mais difícil para os marqueteiros tucanos é colocar um sorriso simpático no hoje governador tucano. O que não me autoriza – nem a ninguém – a prejulgar ou questionar sua sensibilidade, seus amores, suas paixões e seus gestos de civilidade.

 

O medo de Danuza não tem parentesco com o medo de Regina Duarte na campanha de 2002 – aquilo foi apenas um truque publicitário que deu em nada. O texto de Danuza tem sim a mesma gênese e leviandade das afirmações de Collor sobre a vida privada do Presidente Lula. Se o olhar “possuído” de Collor é público e notório, a semelhança de suas práticas tem simbiose perfeita com o papel voluntariamente desempenhado por Danuza.

 

Dilma Rousseff é uma administradora severa, exigente com seus subordinados? Não sei, mas penso que, se for, é uma qualidade, não um defeito. Na vida privada da Ministra – que acompanho desde os tempos de Rio Grande do Sul – ela sempre foi uma mulher apaixonada, uma mãe amantíssima e uma figura profundamente sensível com as questões sociais, sejam as coletivas ou as individuais.

 

Aqui cabe um parêntesis. Durante o apagão energético do governo tucano/danuza, o Rio Grande do Sul escapou do racionamento graças sobretudo ao trabalho da então secretária Dilma. Naquela ocasião – e para isto há inúmeros testemunhos – toda a preocupação da hoje ministra era com os pequenos consumidores de energia, aquela gente que mal conta com um pequeno ferro elétrico e três lâmpadas pra se aquecer e que não poderia – em nenhuma hipótese, dizia ela – ficar privada de energia em suas casas.

 

A ministra hoje, além da ira dos leões que não a querem como sucessora de Lula enfrenta e vence uma luta contra o câncer. Sobre este episódio, que ela tratou com a mais absoluta altivez e transparência, uma informação que se tornou pública – e que a colunista Danuza preferiu desconhecer – joga por terra todo o argumento do preconceituoso artigo.

 

Quando soube que teria que enfrentar um tratamento deveras demorado e doloroso, Dilma disse que o mais difícil não foi tomar conhecimento da doença. Foi ter que contar o fato para a mãe e para a filha. De acordo com ela, é lancinante a dor de ter que dar uma notícia como esta e ainda ter que consolar o coração das pessoas que ama. Deus é grande, afirma Danuza, na única frase não descartável do seu artigo. E é a grandeza deste Deus que está devolvendo a saúde plena a nossa Dilma. E Ele, com certeza, vai também restituir a verdade ofendida por artigos como este, e vai conduzir o país para um debate, sereno e democrático que sempre precisa ser travado.

 

Maria do Rosário é deputada federal (PT/RS) e presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. 

 


 

QUEM TEM MEDO DA DOUTORA DILMA?

Danuza Leão (*)

 

VOU CONFESSAR: morro de medo de Dilma Rousseff. Não tenho muitos medos na vida, além dos clássicos: de barata, rato, cobra. Desses bichos tenho mais medo do que de um leão, um tigre ou um urso, mas de gente não costumo ter medo. Tomara que nunca me aconteça, mas se um dia for assaltada, acho que vai dar para levar um lero com os assaltantes (espero); não me apavora andar de noite sozinha na rua, não tenho medo algum das chamadas “autoridades”, só um pouquinho da polícia, mas não muito.


Mas de Dilma não tenho medo; tenho pavor. Antes de ser candidata, nunca se viu a ministra dar um só sorriso, em nenhuma circunstância.
Depois que começou a correr o Brasil com o presidente, apesar do seu grave problema de saúde, Dilma não para de rir, como se a vida tivesse se tornado um paraíso. Mas essa simpatia tardia não convenceu. Ela é dura mesmo.


Dilma personifica, para mim, aquele pai autoritário de quem os filhos morrem de medo, aquela diretora de escola que, quando se era chamada em seu gabinete, se ia quase fazendo pipi nas calças, de tanto medo. Não existe em Dilma um só traço de meiguice, doçura, ternura.


Ela tem filhos, deve ter gasto todo o seu estoque com eles, e não sobrou nem um pingo para o resto da humanidade. Não estou dizendo que ela seja uma pessoa má, pois não a conheço; mas quando ela levanta a sobrancelha, aponta o dedo e fala, com aquela voz de general da ditadura no quartel, é assustador. E acho muito corajosa a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, que está enfrentando a ministra afirmando que as duas tiveram o famoso encontro. Uma diz que sim, a outra diz que não, e não vamos esperar que os atuais funcionários do Palácio do Planalto contrariem o que seus superiores disserem que eles devem dizer. Sempre poderá surgir do nada um motorista ou um caseiro, mas não queria estar na pele da suave Lina Vieira. A voz, o olhar e o dedo de Dilma, e a segurança com que ela vocifera suas verdades, são quase tão apavorantes quanto a voz e o olhar de Collor, quando ele é possuído.

 

Quando se está dizendo a verdade, ministra, não é preciso gritar; nem gritar nem apontar o dedo para ninguém. Isso só faz quem não está com a razão, é elementar.


Lembro de quando Regina Duarte foi para a televisão dizer que tinha medo de Lula; Regina foi criticada, sofreu com o PT encarnando em cima dela -e quando o PT resolve encarnar, sai de baixo. Não lembro exatamente de que Regina disse que tinha medo - nem se explicitou-, mas de uma maneira geral era medo de um possível governo Lula. Demorei um pouco para entender o quanto Regina tinha razão. Hoje estamos numa situação pior, e da qual vai ser difícil sair, pois o PT ocupou toda a máquina, como as tropas de um país que invade outro. Com Dilma seria igual ou pior, mas Deus é grande.

 

Minha única esperança, atualmente, é a entrada de Marina Silva na disputa eleitoral, para bagunçar a candidatura dos petistas. Eles não falaram em 20 anos? Então ainda faltam 13, ninguém merece.

 

Seja bem-vinda, Marina. Tem muito petista arrependido para votar em você e impedir que a mestra em doutorado, Dilma Rousseff, passe para o segundo turno.

 

Folha de São Paulo, 16 de agosto de 2009 

 

 

 (*) Jornalista

 

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