Este Leão (Danuza) é manso Maria do Rosário* “As aparências enganam” e o que a colunista Danuza revela, “Na Sala”, não condiz com o que se passa na alcova da imprensa e do poder – coisas que ela carrega no DNA, conhece como ninguém e é a mais perfeita tradução desta mistura tão nociva ao país nas últimas seis décadas. Não a conheço, não a tenho como leitura freqüente, mas nutro por ela uma leve simpatia pelo simples fato de ser uma mulher que soube ocupar seus espaços e sair da sombra do ex-marido poderoso e da irmã – esta sim, genial e famosa. Pois, em artigo recente, o Leão Danuza rugiu para cima da ministra Dilma Rousseff em um texto carregado de preconceitos, juízos de valor e intenções (más) dissimuladas. As opiniões pessoais desta moça é um direito inalienável dela. Contestá-la, com mais respeito do que ela teve pela Ministra, é igualmente democrático. O fato é que este mesmo Leão que ruge contra a Ministra – misturando vida pública e privada em uma colcha de retalhos de asneiras – é manso e cordato diante dos chicotes de seus domadores. Seus urros são seletivos e de rei das selvas torna-se o bobo da corte da campanha para que um tucano volte a reinar. Ao contrário de Danuza, conheço Dilma Rousseff muito antes de ela sonhar em ser Ministra Chefe da Casa Civil ou antever a possibilidade de se tornar Presidente da República – não fosse esta real possibilidade, talvez, os leões não estariam rugindo pra ela. Sei de seus traumas – não aqueles chiliques que levam dondocas aos anos de divã – mas daqueles causados pela prisão e pela tortura. Dizer que Dilma fala “com aquela voz de general da ditadura no quartel”, como afirma Danuza em seu abominável artigo, é desrespeitoso com o passado da ministra, que aos 19 anos estava sob o jugo destes verdugos, enquanto corajosas – e medrosas – colunistas de hoje compactuavam com o regime, seja pelo silêncio, seja pelas viagens psicodélicas, seja pelas viagens ao redor do mundo. Não sei baseado em que a colunista afirma que “não existe em Dilma um só traço de meiguice, doçura, ternura”. Quantas vezes, por exemplo, ela viu o ex-ministro Serra sorrir em oito anos de governo FHC? Não sei se pelos caninos vampirescos, mas a coisa mais difícil para os marqueteiros tucanos é colocar um sorriso simpático no hoje governador tucano. O que não me autoriza – nem a ninguém – a prejulgar ou questionar sua sensibilidade, seus amores, suas paixões e seus gestos de civilidade. O medo de Danuza não tem parentesco com o medo de Regina Duarte na campanha de 2002 – aquilo foi apenas um truque publicitário que deu em nada. O texto de Danuza tem sim a mesma gênese e leviandade das afirmações de Collor sobre a vida privada do Presidente Lula. Se o olhar “possuído” de Collor é público e notório, a semelhança de suas práticas tem simbiose perfeita com o papel voluntariamente desempenhado por Danuza. Dilma Rousseff é uma administradora severa, exigente com seus subordinados? Não sei, mas penso que, se for, é uma qualidade, não um defeito. Na vida privada da Ministra – que acompanho desde os tempos de Rio Grande do Sul – ela sempre foi uma mulher apaixonada, uma mãe amantíssima e uma figura profundamente sensível com as questões sociais, sejam as coletivas ou as individuais. Aqui cabe um parêntesis. Durante o apagão energético do governo tucano/danuza, o Rio Grande do Sul escapou do racionamento graças sobretudo ao trabalho da então secretária Dilma. Naquela ocasião – e para isto há inúmeros testemunhos – toda a preocupação da hoje ministra era com os pequenos consumidores de energia, aquela gente que mal conta com um pequeno ferro elétrico e três lâmpadas pra se aquecer e que não poderia – em nenhuma hipótese, dizia ela – ficar privada de energia em suas casas. A ministra hoje, além da ira dos leões que não a querem como sucessora de Lula enfrenta e vence uma luta contra o câncer. Sobre este episódio, que ela tratou com a mais absoluta altivez e transparência, uma informação que se tornou pública – e que a colunista Danuza preferiu desconhecer – joga por terra todo o argumento do preconceituoso artigo. Quando soube que teria que enfrentar um tratamento deveras demorado e doloroso, Dilma disse que o mais difícil não foi tomar conhecimento da doença. Foi ter que contar o fato para a mãe e para a filha. De acordo com ela, é lancinante a dor de ter que dar uma notícia como esta e ainda ter que consolar o coração das pessoas que ama. Deus é grande, afirma Danuza, na única frase não descartável do seu artigo. E é a grandeza deste Deus que está devolvendo a saúde plena a nossa Dilma. E Ele, com certeza, vai também restituir a verdade ofendida por artigos como este, e vai conduzir o país para um debate, sereno e democrático que sempre precisa ser travado. Maria do Rosário é deputada federal (PT/RS) e presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário