AÉCIO NEVES
Fila existe em ponto de ônibus e é sempre muito desagradável
Mineiro rejeita tese de candidatura natural de Serra à Presidência e defende prévias no PSDB
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Exaltando sua capacidade de agregação como trunfo, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, 49, negou ontem que tenha selado um acordo com o governador de São Paulo, José Serra, 67, para dispensa de prévia na escolha do candidato do PSDB à Presidência. Ontem, pouco antes de almoçar com Serra, em São Paulo, Aécio pregou "ao novo" na política.
FOLHA - Expressões suas como "o tempo dirá" ou "outros instrumentos [que não as prévias]" sinalizam um recuo. Existe esse recuo?
AÉCIO NEVES - Não. Continuo achando as prévias o melhor instrumento não só de escolha do candidato, mas para mobilização das bases. Quando falo em outros instrumentos, é porque essa não é uma decisão solitária. Reafirmo que seria um grande equívoco o PSDB novamente definir seu candidato a partir de um pequeno grupo.
FOLHA - E a pesquisa?
AÉCIO - É um instrumento valioso. Mas tem que levar em consideração o nível de conhecimento e de rejeição do candidato. Outros fatores, como a possibilidade de ampliação de aliança, certamente serão levados em conta se a decisão for submetida ao conjunto de tucanos do país inteiro, não apenas de alguns poucos Estados. Não seria correto desprezar uma candidatura que apresenta índices tão expressivos como a do governador Serra. Esse é um componente importante. Mas precisamos incorporar outros. Numa eleição, mais importante que a largada é a chegada.
FOLHA - O sr. aponta a capacidade de ampliação como vantagem. Acha que amplia mais do que o Serra?
AÉCIO - Não coloco como vantagem. Mas como necessidade. Não apenas para vencer, mas, principalmente, governar. Seria natural que buscássemos desde já, além do DEM e PPS, agregar alguns outros atores vitais para a governabilidade. Não cabe a mim dizer quem tem melhores condições para construir essa aliança. Mas tenho trabalhado na busca da atração de outros parceiros.
FOLHA - É um ponto positivo?
AÉCIO - Meu perfil, a construção política que fiz ao longo da vida, me permitiriam atrair alguns outros atores. Digo isso respaldado pelas manifestações públicas desses atores.
FOLHA - O sr. diz que está ultrapassado o modelo oposição x governo.
AÉCIO - O Brasil está em busca de uma nova convergência política. Esse maniqueísmo, onde a disputa pelo poder prevalece se exauriu. O retrato da política é que temos um país polarizado. De um lado o PT, com seus aliados. De outro lado o PSDB, com os seus. Aquele que perde vai para um canto do ringue, criando dificuldades para quem venceu. Devemos fugir, nas próximas eleições, do roteiro de 94, 98, 2002 e 2006.
FOLHA - A candidatura do Serra encarna mais esse antagonismo?
AÉCIO - O governador Serra, se for candidato, terá condições também de atrair algumas forças políticas. Seria leviandade dizer que atraio mais. Estou dizendo que meu perfil traz uma atração natural até pelas relações que construí.
FOLHA - Sente-se pressionado a ocupar a vice?
AÉCIO - De forma alguma, até porque o partido sabe que esse tipo de pressão comigo não funciona. Não seria desonra ser candidato a vice. Apenas repito: seria presunção do PSDB achar que, solitariamente, pode montar uma chapa, vencer as eleições e governar.
FOLHA - O sr. não seria vice?
AÉCIO - Não cogito isso. Não acho que seja produtivo, não tem o efeito eleitoral que alguns podem achar. Meu nome está colocado por setores do partido como possibilidade à Presidência. Não sendo candidato à Presidência, não preciso de compensação.
FOLHA - Avaliação que aqui se faz é que com São Paulo e Minas...
AÉCIO - "Aqui se faz". É uma avaliação que alguns setores fazem. Respeito. Da mesma forma tenho certeza que será respeitada minha posição.
FOLHA - Essa avaliação é feita em cima da performance do PSDB em Minas nas eleições de 2002 e 2006. O sr. foi bem. O PSDB levou uma surra. Dizem que o sr. amarrado ao projeto garantiria vitória em Minas.
AÉCIO - É uma avaliação equivocada e injusta. Se não tivemos o resultado que queríamos, é porque enfrentamos o presidente Lula, com altíssima popularidade. Não foi o caso específico de Minas.
FOLHA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse mesmo que o sr. também seria responsabilizado por uma eventual derrota?
AÉCIO - Nunca houve essa conversa. Até porque o presidente FHC tem por mim o respeito que tenho por ele. Não existe essa cobrança.
FOLHA - No Rio Grande do Sul, acredita numa aliança com o PMDB?
AÉCIO - Devemos buscar com o PMDB. O caminho natural é uma grande aliança que vai disputar contra o PT. Até mesmo com a participação do prefeito Fogaça como candidato. Mas temos que permitir que a governadora Yeda [Crusius] conduza esse processo.
FOLHA - O sr. fez acordo com Serra para que não haja prévia?
AÉCIO - Nunca houve isso. Nem para a composição das chapas. Respeito os que defendem a chapa só do PSDB. Respeito os contrários às prévias. Mas tenho uma posição oposta. Não houve nenhum acordo.
FOLHA - Derrotado na prévia, vai concorrer ao Senado?
AÉCIO - Não há essa definição. Um caminho natural seria o Senado. Não quero especular. Meu nome está colocado como opção para presidente.
FOLHA - Em São Paulo, diz-se que Serra já fez sacrifícios pelo partido. Que é a vez do seu sacrifício partidário. Que em política existe fila...
AÉCIO - É uma opinião que respeito de algumas lideranças de São Paulo. Se você for conversar com políticos de Minas, a visão é outra. A nenhum, pode-se cobrar sacrifícios. Todos fizemos nossa parte. Não é isso que está em questão. Não se trata também de fila. Na verdade, onde existe fila é em ponto de ônibus e é sempre muito desagradável. Candidato é aquele que apresentar melhores condições de vitória.
AÉCIO - É a candidata apontada pelo presidente. É uma candidata que tem inúmeras virtudes. Essa eleição não será fácil para ninguém. Aqueles que acham que, com uma canetada, um discurso, Lula elege seu candidato se decepcionarão. Aqueles que acham que os números das pesquisas que nos favorecem hoje garantem nossa eleição também podem se decepcionar. É hora de termos cautela. Trabalharmos a construção de um projeto para o país. As pessoas precisam olhar para o candidato do PSDB e identificar com clareza algo novo, algo diferente do que está aí.
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