O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), em campanha permanente pela Presidência, declarou-se ontem (2) "amigo dos pobres" ao anunciar a redução de 1% para 0,7% da taxa mensal de juro aplicada pelo Banco do Povo Paulista em empréstimo para a população de baixa renda.
Atribuindo ao ex-ministro da Saúde Adib Jatene a constatação "perfeita" de que "o problema de pobre não é ser pobre, mas só ter amigos pobres", Serra afirmou que aquele era um gesto de amizade. "Não vou dizer que o governo do Estado é rico, porque não há dinheiro sobrando, mas somos amigos dos pobres. Esse crédito do povo é uma forma de amizade".
Pois bem, basta uma rápida consulta nos jornais da última quinzena para desconstruir o discurso de Serra. Três fatos recentes mostram que a propalada "amizade" do governo tucano com os pobres é, no mínimo, estranha.
No último dia 24 de agosto, a polícia militar de Serra despejou com truculência, na base do cassetete e de bombas de gás lacrimogêneo, mais de 700 famílias que ocupavam há dois anos um terreno abandonado na zona sul da capital paulista. Desde então, muitas destas famílias estão jogadas à própria sorte, vivendo em barracos improvisados nas calçadas de ruas próximas ao terreno do qual foram expulsas, um drama humano ignorado pelo governo estadual.
Nesta semana, mais uma vez a polícia de Serra mostrou sua truculência contra os pobres paulistas ao reprimir uma manifestação na favela Heliópolis. Os moradores protestavam contra a morte uma jovem de 17 anos, atingida por um tiro disparado por um guarda civil metropolitano. José Serra qualificou os moradores que organizaram o protesto como "vândalos".
Mas a pá de cal nesta ladainha de "amigos dos pobres" veio com a aprovação, ontem (2), de um projeto que entrega nas mãos de entidades privadas todos os hospitais públicos paulistas. A base serrista na Assembléia Legislativa passou o rolo compressor sob o debate da proposta e, por 55 votos a 17, aprovou o projeto de lei que permite que todos os hospitais estaduais sejam terceirizados e, apesar de públicos, atendam a pacientes particulares e de planos de saúde, mediante cobrança. É o projeto tucano de privatizações, levado adiante em São Paulo pelo cacique José Serra.
À proposta aprovada ontem foi acrescentada a permissão para que também as instalações estaduais culturais e de esportes estaduais sejam terceirizadas, como museus e clubes.
O projeto é recheado de argumentos, estatísticas e promessas de economia de recursos, mas no final das contas é uma privatização disfarçada dos equipamentos de saúde construídos com dinheiro público, muito dinheiro, diga-se, não só do governo estadual, mas especialmente da União.
Com isso, os pacientes que pagarem ou utilizarem seus planos de saúde terão atendimento diferenciado e preferencial. Os pobres que serão atendidos pelo SUS serão confinados a filas intermináveis e às mesmas condições precárias que caracterizam o serviço de saúde em São Paulo, numa segregação que agride frontalmente o princípio da isonomia e igualdade estabelecido pela Constituição ao criar o SUS. E com um agravante: agora, os pobres terão que se contentar com apenas 75% das vagas nos hospitais públicos, pois os outros 25% serão reservados para os que podem pagar pelo atendimento.
Além do problema da segregação, a gestão de saúde entregue às organizações sociais (OSs) não só é mercantilista como também escapa aos controles próprios dos órgãos públicos, abrindo as portas do sistema para a corrupção. O extinto PAS, de Paulo Maluf, que o diga.
E pensar que o responsável por essa proposta que prejudica o povo pobre partiu de um governador que gosta de se proclamar o "melhor ministro da Saúde" que o país já teve e que dirige um partido que se posiciona contra a CPMF com o argumento de que o Estado já dispõe de recursos suficientes para financiar a saúde.
É este manancial de contradições que desmente o falso discurso de "amigo dos pobres" do governador José Serra. Um político que, cada vez mais, revela-se um grande amigo do mercado, da mídia e da elite.Do povo, é muy amigo...
http://www.vermelho.org.br/editorial.php?id_editorial=607&id_secao=16
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