sexta-feira, 16 de outubro de 2009

BIRA DANTAS DESABAFA

Mau gosto em charge tem limite? Ou: que m&#%@ estas charges do Sponholz!
Por Bira Dantas
26/05/2008

Dividimos com mais de 50 chargistas de norte a sul do país a mesma página diariamente. Como faço normalmente, posto minha charge lá e dou uma sapeada pra ver as dos colegas. Costumo ver todas e a grande maioria é extremamente crítica ao governo Lula. Tudo bem. Eu sou de centro-esquerda, reformista, pelego (rs), mas não sou mal-humorado. Tem coisas que realmente me tiram do sério e perco logo meu bom humor. Como a charge do paranaense Roque Sponholz, com um menino com papel higiênico embaixo do braço dizendo: "Mamãe, eu quero fazer Chávez na casa do Pedrinho". Quanta falta de respeito. Quanta grosseria. Fiquei indignado ao ver esta charge. Que ele seja de direita, tudo bem, qualquer um pode ser o que bem entender. Até querer o nazismo de volta, mas vai pagar o preço por declarar isso publicamente. Odiar Lula, Chávez, etc, é um direito seu e ninguém tem nada com isso. Mas a falta de profissionalismo é grave.

Compromisso com os fatos
Há alguns meses ele soltou uma charge mostrando o Lula bebendo caipirinha, deitado na rede e dizendo que o negócio dele era aumentar, por isso ia aumentar o IPTU de Porto Alegre. Espera aí! IPTU é imposto MUNICIPAL e o Lula é do governo federal. O Sponholz não sabe disso? Como? Ele é arquiteto com 33 anos de experiência, será que é um desavisado? Será que deviam caçar o CRA dele? E a prefeitura de POA tem a tucana Yeda Crusius no poder, ora essa, nada de petistas por lá.

m&#%@
Eu gosto do governo Lula (todo mundo sabe disso, a torcida do Corinthians, inclusive), do Chávez e do Morales. Gosto mesmo. São latino-americanos como nós, dividem uma mesma história de povos invadidos e colonizados conosco. São hermanos! Mesmo gostando deles, não faço charges dizendo "Lula é gênio", "Evo Morales é o maior" e "Chaves é o grande líder", pois seriam babacas, infantis, pueris. A charge do Sponholz diz que o Chaves é m&#%@, e é exatamente isso que ela é: infantil, pueril. Como um moleque que solta PUM e acha graça. Fala xixi e cocô baixinho pro colega achar que está cometendo a maior transgressão de rebeldia. As suas charges constantemente mostrando que as obras de Lula são de cocô, que Evo Morales é b#$+@, Chaves é m&#%@ é extremamente infantil, cansativo, despolitizado e de mau gosto. É um direito dele? Será? Parece antes disso, uma fixação meio escatológica, o que se comprova nesta sua idéia, expressa em seu site: “Ao invés de vias expressas, ciclovias, perimetrais e quetais, em nome dos pedestres residentes fixos ou nômades turistas, conclamamos as autoridades competentes para providências urgentes, ao menos com a construção de uma "cocô-via" destinada aos melhores amigos do homem. Que os arquitetos e urbanistas levem esta crescente população canina na mais alta consideração quando da elaboração de seus planos urbanos. Nossos calçados e nossos narizes, agradecem”.

Balas trocadas não doem?
O que ele acharia se eu fizesse uma charge de um menino dizendo: "Mãe, eu quero fazer uma charge do Sponholz na casa do Pedrinho"? Como disse Einstein "neste mundo, tudo é relativo" e outro, menos famoso: “pimenta no fiofó dos outros é refresco”.

Preconceito
É um juízo preconcebido, uma atitude discriminatória contra pessoas ou situações diferentes daqueles que consideramos nossos. Costuma indicar desconhecimento pejorativo de uma pessoa ao que lhe é diferente. O preconceito é causado pela ignorância ou pela não aceitação de que o outro é diferente. É como a Veja procede. Mete o pau em todo aquele que se posiciona anti-Bush. É só ver as capas que o Dálcio é obrigado a fazer (como esta). Eles dão a linha, o ilustrador é um mero reprodutor das idéias preconceituosas dos editores da Abril: desenhe o Lula segurando cães com a cabeça de Marx, Trotski e Stalin. Faça o Itamar de maluco e assim vai...

Em outra charge Sponholz tenta dizer que o Lula evita ir para o Sul (onde seria rejeitado por uma população mais branca, rica, inteligente e européia) para escolher o Norte (onde teria um povo pobre, feio, burro, etc). E é fácil notar o preconceito do Sponholz numa charge dos cartões corporativos em que FHC diz que a vida dele e de Dona Ruth são livros abertos e primeira-dama Marisa diz que nem livros têm. Cara-de-pau tem limite, até em charge. FHC foi conhecido por não investigar denúncias e engavetar pedidos de CPI através do Geraldo Brindeiro, procurador geral da União. Foi Lula que inaugurou o site Transparência Brasil que propiciou se localizar todos os erros cometidos e com ele a PF, que vivia às moscas na Era FHC, está dando duro para investigar todas denúncias dentro e fora do governo. Dá vontade de falar pro Sponholz: "Hellllllllllllllllllooooooooooooooo! Em que país você vive?". Por isso é fácil ver as charges de Sponholz nos blogs mais reacionários da Internet, recheados de termos como petralhas e comentários baixos como este: “Elegeram um invertebrado e agora se surpreendem? Eu quero acreditar que as urnas eletrônicas foram programadas para favorecer o invertebrado, caso contrário, fico mais perplexa ainda.” O preconceito é algo tão agressivo e intimidatório que não deveria ter espaço no Humor. A não ser no Humor de Mau Gosto...

Se eu editasse uma revista de charges, as do Sponholz não entraríam NUNCA! Não é só o desenho que é ruim. As idéias dele são raivosas, preconceituosas. Ele tem raiva do Brasil ter um presidente feio, pobre, nordestino, sindicalista, de esquerda. Esse é o problema do Roque, fazer charge tentando desmoralizar
a personagem dela. Ele não percebe que fazer charge é fazer política. Ele acha que fazer charge é chamar pro pau, é dar uma de “cansado”, sair da boutique com jogging importado e ir fazer uma passeata pelos direitos dos abastados. É jogar ovos nas empregadas domésticas que passam no calçadão da Vieira Souto (como se elas não tivessem esse direito). Ele se acha grande coisa. Que pequeno!

E não é que eu não goste de charges que critiquem o governo Lula ou a esquerda. Quando são focadas em notícias factuais, inteligentes, bem-humoradas, eu racho o bico. Quando dão pontadas, eu as acho interessantes. Afinal, quem não ri de si próprio, não ri do mundo. E quem se sente acima das críticas, não deve criticar. Por isso eu acho que tudo tem limite sim. E a gente não deve passar a mão na cabeça de quem produz arte de péssima qualidade, dizendo: "Você tem o direito de publicar isso e eu defenderei este direito até o fim". Todos nós podemos melhorar, sempre. E não é através da agressão pura e simples que vamos fazer isso.

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