Depois de SP, livros escolares com palavrão geram polêmica em Minas Gerais
SÃO PAULO - Uma polêmica ganhou as ruas de Minas Gerais. Após
casos semelhantes em São Paulo,
agora foram os alunos da rede estadual mineira de ensino que receberam livros com palavrões.
Palavras de baixo calão aparecem em textos de literatura, usados em frases em que os personagens demonstram raiva. No texto aparece frases como "Quem foi o grande filho da p... que me derrubou?" e "Carimbê fica com vontade de mandá-lo tomar no c..."
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Eu fiquei bem assustada, porque eu nunca tinha visto um livro com essas palavras. São bem pesadas mesmo. Eu não gosto que falem, não falo
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O livro foi distribuído para alunos do Ensino Fundamental até o 9º ano e provocou a indignação de pais, professores e alunos. A dona de casa Rosane Ferreira levou um susto ao ler livros da filha. Entre textos, exercícios de português e matemática, ela encontrou palavrões.
- Eu fiquei bem assustada, porque eu nunca tinha visto um livro com essas palavras. São bem pesadas mesmo. Eu não gosto que falem, não falo, e não aceito que falem também - afirma.
Um professor de português, que não quer se identificar, se recusou a usar o livro em sala de aula.
- Eu fiquei indignado. O aluno, por mais que fale esse tipo de palavras, não é na escola que ele deve aprender. Aliás, na minha sala de aula nem o direito de falar isso ele tem - afirma.
- Eu não posso mandar os alunos rasgarem o livro que é do estado, mas minha vontade foi essa - diz o professor.
O professor, no entanto, não conseguiu impedir que os alunos tivessem acesso ao livro, que continua sendo usado para as aulas de matemática.
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O aluno, por mais que fale esse tipo de palavras, não é na escola que ele deve aprender
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- É uma falta de respeito, porque é uma escola. E isso não devia estar aqui. Não só por causa da gente, mas pelos professores também - comenta um aluno.
- Eu falei com meu professor que eu podia falar essas palavras, porque estava aprendendo no livro. Poderia falar em casa. É uma falta de respeito, porque é uma escola e isso não deve estar na escola. Não só para a gente, mas para os professores também - diz outro aluno.
A Secretaria de Educação de Minas Gerais informou que o livro foi aprovado pela equipe pedagógica e só deve ser usado por alunos que tenham mais de 15 anos.
O público leitor do livro tem idade mínima de 15 anos. O material didático, segundo ele, chegou com atraso. Somente em julho passado os adolescentes tiveram contato com a obra. Com o avançar da leitura, descobriram-se os termos.
O presidente da Federação das Associações de Pais e Alunos das Escolas Públicas de Minas Gerais (Fapaemg), Mário de Assis, afirmou que irá enviar hoje um ofício ao governador Aécio Neves cobrando explicações. O Ministério Público também deverá ser acionado. "Nenhum pai reclamou para a federação. Mas não me sentirei confortável caso meus filhos se dirijam a mim com os mesmos termos usados no livro", ponderou Assis.
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Por outro lado, a presidente da Associação de Professores Públicos de Minas (APPMG), Joana D’arc Gontijo, avalia que as expressões foram usadas em um contexto específico, que pretendia explorar as diversas formas de linguagem. "Não tem nada além do linguajar do dia a dia. Está mostrando a realidade nua e crua do brasileiro pobre. Indecente e imoral é roubar. Não estou defendendo o palavrão, mas houve um objetivo, que era mostrar uma comunicação mais simples", analisou Joana. Os professores deverão ser convidados pela associação para discutir o material.
Em nota, a SEE esclareceu que o livro foi examinado e aprovado pela equipe pedagógica da secretaria para ser usado na faixa etária que corresponde ao projeto. Foram distribuídos 15 mil exemplares aos alunos do programa. Ainda conforme a secretaria, o livro não será recolhido.
"O debate precisa sair da esfera moral. Recolher o livro seria lamentável. É um pecado privar os alunos de uma leitura crítica desse conteúdo", observou o pedagogo e professor da PUC Minas Luiz Carlos Rena. Outra observação do especialista é que o autor literário não precisa restringir sua liberdade. "Vale a pena debater e não condenar", disse.
Apesar de não ter tido contato com o livro, a estudante Natália Malta, 15, classificou o palavreado como impróprio. "Não acho correto para um livro. Me assusta um pouco."
OUÇA ABAIXO TRECHOS DAS ENTREVISTAS COM O PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO DE PAIS E A PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES:
Mário de Assis, presidente da Federação de Pais e Alunos das Escolas Públicas de Minas Gerais
Joana D'Arc Gontijo, presidente da Associação de Professores Públicos de Minas Gerais
Flash
O texto literário que suscitou a polêmica tem cinco páginas e está inserido no capítulo "Outras Histórias, Outros Mundos, Outras Vidas"
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Material constrange crianças
Esta não é a primeira vez que o uso de palavrões em livros didáticos levanta polêmica na relação entre pais e escolas no Brasil. Em maio passado, frases de duplo sentido e termos chulos foram descobertos em livros de alunos que cursam a 3ª série do ensino fundamental (faixa etária de 9 anos) de São Paulo. O material foi recolhido pelo governo.
Mas a polêmica não é novidade em São Paulo. Um livro didático de geografia, usado por alunos da 6ª série do ensino fundamental nas escolas públicas, indicava o Paraguai duas vezes em um mapa da América do Sul e excluía o Equador. Na época, a Secretaria de Educação informou que o problema era da editora, mas trocou os exemplares errados. (FP)
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