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Serra adere ao 'Eixo do Mal'
José Serra rompeu um silêncio público que se prolonga – não diz sequer se quer disputar a Presidência daqui a 10 meses – para falar de política externa. A Folha de S.Paulo publicou nesta segunda-feira (23) artigo do governador de São Paulo, condenando a visita ao Brasil do presidente do Irã. Rotulou Mahmoud Ahmadinejad como "um símbolo da negação de tudo o que explica a projeção do Brasil no mundo".
O governante do país mais populoso do Oriente Médio, incluído pelo ex-presidente George W. Bush em seu suposto Eixo do Mal, passou o dia em Brasília em visita oficial. Pediu ao presidente Luis Inácio Lula da Silva que ajude na busca da paz em sua sofrida região (como o fizeram, dias atrás, também os presidentes de Israel e da Autoridade Palestina). Apoiou explicitamente o ingresso do Brasil como menbro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Os conservadores contestam, entre outras coisas, o programa nuclear iraniano. Lula não concorda e defende o direito do Irã desenvolvê-lo para fins pacíficos e em concordância com as regras de organismos internacionais. "O que defendemos para nós, defendemos também para os outros países", disse Lula.
Serra, ao contrário, descreve o visitante como "chefe de um regime ditatorial e repressivo", e não se conforma com o resultado das eleições de maio, que condena como "notoriamente fraudulentas". Repete, com goebbelsiana persistência, a suposta negação do Holocausto pelo líder iraniano. Em suma, entoa toda a ladainha posta na praça por Bush.
O presidenciável tucano admite, no artigo, "a projeção do Brasil no mundo", embora de passagem e de má vontade. Mas a linha de Serra e seus correligionários – com destaque para o senador Azeredo "Mensalão Tucano" da Silveira (MG) – destaca-se por se opor em toda linha à política externa do governo Lula. Do ingresso da Venezuela no Mercosul ao golpe de Honduras, passando pelas negociações do gás boliviano e da energia elétrica paraguaia, não há um passo que o Brasil dê no do sem que essa gente reclame.
É de assombrar que os principais adversários da projeção mundial do Brasil se encontrem dentro de suas próprias fronteiras. Quanto mais o país ganha prestígio e audiência, mais resmungam e auguram desgraças esses Velhos do Restelo tupiniquins, viciados em subserviência colonizada.
Compreende-se que Serra se sinta constrangido em falar de política interna, em uma fase de vacas magras de sua pretensão presidencial. Melhor seria então que não buscasse logo este derivativo.
O Irã é uma grande nação, localizada quase nos antípodas do Brasil e distinta dele por vários motivos, a começar por sua cultura multimilenar tão contrastante com nossa condição de povo novo. Os dois países coincidem na decisão de jogar um papel ativo na busca de um mundo sem senhores ou capatazes. É justo e benéfico que se encontrem para conversarem como iguais.
Outra é a linha que procura confinar países inteiros em "Eixos do Mal" e listas discricionárias de "rogue states", selecionadas por um Bush qualquer. Essa não é, felizmente, a via da diplomacia brasileira. É lastimável que pareça ser a de José Serra
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