Com a pré-estreia do já polêmico "Lula, o Filho do Brasil", de Fábio Barreto, o 1º dia do Festival de Brasília promete. A cinebiografia do presidente, inspirada no livro de Denise Paraná, será exibida nesta terça (17) no Teatro Nacional de Brasília com toda a pompa e alguma circunstância que uma obra desse tipo suscita. Trata-se de um desses raros filmes sobre os quais um grande número de pessoas já tem opinião formada - seja contra ou a favor - mesmo antes de tê-lo visto.
Certo de que os 1,4 mil lugares do cinema desenhado por Oscar Niemeyer serão poucos para a noite de hoje, o presidente do Festival de Cinema de Brasília, Fernando Adolfo, providenciou 300 cadeiras extras. Habituado ao público jovem que frequenta o evento, ele incluiu, na aritmética dos convites, o chão do Cine Brasília. "Os corredores são largos, dá para sentar."
Os organizadores do Festival de Brasília nunca se sentiram tão prestigiados. "Sempre convidamos todo o corpo diplomático e os ministérios. Pela primeira vez, todos aceitaram o convite", diz Adolfo. Pelas contas da organização, haverá, ao menos, 300 pessoas ligadas ao Palácio do Planalto na primeira exibição pública de "Lula, o Filho do Brasil".
Os jornalistas credenciados quadruplicaram em relação a anos anteriores. Já a presença do presidente da República foi confirmada e desconfirmada uma dezena de vezes. A última informação é de que não irá, mas mandará a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
"A gente não tem a confirmação dele para nada. Ora dizem que vai, ora dizem que não vai", diz a produtora Paula Barreto. O vai-não-vai se estende às exibições no teatro Guararapes, no Recife, nesta quinta-feira, e na Vera Cruz,
O Estado natal do presidente é ponto estratégico no mapa do lançamento. O plano era fazer a exibição em Caetés, com a presença da família, mas, no país dos sem-tela, a opção mostrou-se complicada. "Era uma estrutura caríssima e, além disso, os órgãos antipirataria nos desaconselharam. Eles sugeriram que evitássemos exibições a céu aberto", diz a produtora.
Nos cafundós
O triângulo de cidades foi desenhado para dar conta da política, da família e do sindicalismo, envolvendo o filme numa atmosfera emocional. "A partir de agora, o filme vai poder ser julgado pelo que é", diz Bruno Wainer, responsável pela distribuição. "Todo mundo verá que é uma história forte e não tem nada a ver com política."
Será esse também o tom da publicidade que tomará rádios, jornais e ruas em duas semanas. Em 26/12, começa a campanha de TV, tiro final para a estreia nacional, em 1º/1. Até lá, pré-estreias voltadas a sindicalistas e políticos devem correr outras capitais. "Queremos ajudar a divulgar a história de um trabalhador de sucesso para mostrar a importância da filiação aos sindicatos", diz Wagner Freitas, dirigente da CUT, que organiza a venda de ingressos mais baratos para sindicatos.
"Queremos chegar aonde o cinema geralmente não chega", resume Paula Barreto. "Os dois cinemas de Garanhuns, por exemplo, nunca receberiam cópias na semana de estreia." Desta vez, receberão. Programas voltados à exibição de filmes em cidades órfãs de salas, como o Cine Tela Brasil e o Cine Magia, também foram mobilizados pelos produtores do candidato a blockbuster.
"A grande figura do filme não é Lula, é dona Lindu"
Luiz Carlos Barreto, de 81 anos, é o mais conhecido produtor do cinema nacional. Veterano fotógrafo do Cinema Novo (fez a direção de fotografia de Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos), Barretão, como é chamado, sabe o caminho das pedras das leis de incentivo. Não utilizou nenhuma delas na produção de Lula, o Filho do Brasil. "No orçamento de R$ 12 milhões e mais R$ 4 milhões de comercialização não entrou um centavo de lei de incentivo, nem federal, nem estadual nem municipal", declara, mostrando que se precaveu contra críticas futuras.
Ao ser questionado sobre o porque de ter resolvido produzir um filme sobre Lula, ele explicou que esse era um projeto de mais de dez anos. "Comecei a notar, em viagens, que, quando eu dizia que era brasileiro, perguntavam sobre Pelé, Ronaldo, mas também sobre Lula. E eu percebi que não sabia nada. Li o livro da Denise Paraná e achei que ali tinha um filme. Achei que era como uma fábula do tipo 'era uma vez um garoto muito pobre que se torna rei'", contou.
Barreto relata que o filme procura mostrar justamente a parte da vida de Lula antes de ele ser o sindicalista que chegou à presidência. "Mostra a história dele, da infância até a morte da mãe, quando era sindicalista". Em meio às polêmicas em torno do filme, o produtor trata logo de descartar qualquer conotação eleitoral na obra. "Lula não é candidato a nada. E o filme não transfere nada para a Dilma. É uma pressuposição indevida. O filme não é a favor da Dilma. Nem do PT. Depois que as pessoas assistirem, irão ver que a personagem principal é a mãe de Lula, dona Lindu (interpretada por Glória Pires), uma mulher fabulosa, uma lutadora", coloca.
Ele defende que Lula, na verdade, é um produto da dona Lindu. "Por isso, acho difícil as pessoas não se comoverem, sendo pró-Lula ou anti-Lula, com a história dessa mãe. Ela é a raiz desse filme", insiste. E à capiciosa pergunta acerca de sua opinião sobre o presidente, Barreto responde: "Admiro o Lula em vários aspectos, até em seu ar não doutoral, que irrita muita gente. O Lula é o povo brasileiro. Somos nós. Incomoda a quem está preso a modelos estrangeiros. Já votei nele, como já votei
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