sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sob os efeitos de uma 51

"O telefone tá piscando", e a Globo mandou calar Lucia Hippolito

Já confundiram o Super-Homem com um pássaro e até um avião. Mas, nestes anos sagrados para a grande mídia, quem há de não reconhecer, sob qualquer circunstância, a contundência da superjornalista Lucia Hippolito — a mais rebelde das “meninas do Jô”, emérita expoente do “padrão Ali Kamel de jornalismo”?

Por André Cintra

Num programa da Globo News exibido no final de 2009, Hippolito cometeu o singelo deslize de chamar o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, de “Gilmar Dantas”. |Mas explicou-se aos telespectadores: “Eu não posso nem dizer que eu tenho a primazia do ato falho. Ricardo Noblat, no seu... no seu... (blog?) um dia já o chamou de Gilmar Dantas”. Segundo o jornalista Paulo Henrique Amorrim, tratou-se apenas de “outra forma consagradora de o PiG (Partido da Imprensa Golpista) homenagear o Supremo Presidente do Supremo”.

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=122650&id_secao=6


Duas semanas depois, a maga do jornalismo nos brinda — agora na rádio CBN, também da Globo — com uma explanação cuja primazia é, finalmente, só dela. No caso, Hippolito interage (na realidade, faz o possível para falar) com o apresentador Roberto Nonato. Você pode ouvir o áudio da entrevista acima, mas, diante de uma demonstração de jornalismo honesto, corajoso e progressista, vale a pena transcrever o diálogo na íntegra.


ROBERTO NONATO: “Oi, Lucia Hippolito, boa noite!”

LUCIA HIPPOLITO (voz embargada): “Boa noite, Nonato. Boa noite, ouvintes da CBN.”

ROBERTO NONATO: “Ô, Lucia... O presidente Lula assinou o decreto que cria o grupo para elaborar o projeto da Comissão da Verdade, sobre violações de direitos no regime militar. E, para tentar resolver aquela crise entre os ministros da Defesa e dos Direitos Humanos, o texto não usa a apalavra ‘repressão’, Lucia. É uma tentativa de apagar o incêndio entre os ministros, né?”

LUCIA HIPPOLITO (a voz piora): “Olha, Luís (Luís?!? Não era Nonato?). Eu... eu... eu, particularmente, acho uma coisa muito complicada. Acho que o presidente... cometeu um... um erro político... no sentido de cooo... de cometer um... um... um mooonte de... de... de... erros.... De... de... de criar um monte de empresas... (empresas??? no Plano Nacional de Direitos Humanos?), um monte de brigas... nesse problema. Agora, eu acho o seguinte: desse ponto de vista exclusivo... das... das... ele num... das, das... dos direitos humanos, do ponto de vista dos direitos humanos... eu vou dizer uma coisa para você... é...”

ROBERTO NONATO: “Ô, Lucia... A gente vai tentar refazer o contato pra voltar daqui a pouco em melhores condições...”

LUCIA HIPPOLITO: “Éééé... esse... o telefone tá piscando (hã?)... tá... ele tá cortando a linha... (desligam o som).

ROBERTO NONATO: Tá, ok. Só um instantinho. Daqui a pouco a gente volta...

O resumo da ópera (bufa) é que nunca um apresentador da CBN esteve tão coberto de razão: silenciar Lucia Hippolito é a melhor maneira de ouvi-la “em melhores condições”.

www.vermelho.org.br

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