Entre dezembro último e este mês, a presidenciável Dilma Rousseff, do PT, ultrapassou José Serra, do PSDB, tanto do Nordeste como no Norte/Centro-Oeste, conforme a pesquisa Ibope/Diário do Comércio divulgada nesta quinta-feira (18). A informação não foi dada nem pelo diário que promoveu a pesquisa e nem pela grande mídia que a comentou. Mas está disponível no relatório do Ibope e você pode conferi-la no mapa que ilustra esta matéria.
Por Bernardo Joffily
Com informações do Ibope
Os dados regionais – e os sociais – ajudam a entender a pesquisa. Olhe o mapa ao lado. Ele mostra aonde Dilma foi buscar sua alta de oito pontos nacionalmente, bem acima da margem de erro, de dois pontos para cima ou para baixo; e aonde Serra perdeu dois pontos, dentro da margem de erro.
Os cenários regionais
Nem tudo são boas notícias para Dilma, que o PT deve lançar oficialmente como sua candidata no sábado. No Sul, a candidata do presidente Lula perdeu um ponto e seu adversário ganhou dois – ambos dentro da margem de erro. A vantagem de Serra, que já era de 17 pontos, aumentou para 20.
O resto foram boas notícias. No Sudeste, maior colégio eleitoral do país, a vantagem de Serra permanece grande, 22 pontos, mas caíu seis pontos.
Já no Nordeste e no Norte/Centro-Oeste ocorreu uma virada, segundo o Ibope. No fim do ano passado, segundo o Ibope, Serra tinha 16 pontos de vantagem no Nordeste e 11 pontos no Norte/Centro-Oeste. Agora está perdendo por cinco pontos numa região e por dois na outra.
Ciro Gomes, presidenciável do PSB – veja o mapa – segurou-se bem no Nordeste e até cresceu no Sul. Oscilou para baixo na contagem nacional devido essencialmente aos quatro pontos que perdeu no populoso Sudeste. Já Marina Silva, do PV, oscilou positivamente em todas as regiões, dentro da margem de erro. Seu melhor desempenho é no Norte, onde chegou a 11%.
Dilma caíu nos mais ricos... e subiu no resto
O relatório do Ibope também traz outras informações. Dilma subiu das capitais, de 18% para 27%, na periferia, de 16% para 23%, e no interior, de 17% para 25%. Avançou nas pequenas, médias e grandes cidades.
A petista perdeu dois pontos percentuais, de 25% para 23%, na faixa que ganha mais de dez salários mínimos por mês (que segundo o Ibope equivale a 3,6% do eleitorado brasileiro). Mas ganhou oito (de 21% para 29%) na camada seguinte, de cinco a dez mínimos. Outros oito na de dois a cinco. Ganhou seis pontos na de um a dois mínimos (a mais numerosa). E subiu 14 pontos, de 11% para 25%, na camada que ganha menos de um mínimo, a "faixa do Bolsa Família".
Ainda assim, o desempenho de Dilma nesta faixa repete a sua média: 25%. O que indica que há muito para crescer aí quando começar a campanha, já que é nas faixas mais pobres que a popularidade de Lula é maior.
José Serra, o virtual candidato da oposição conservadora (embora não tenha ainda assumido a candidatura), descreveu uma trajetória inversa. Consolidou-se na camada mais rica, passando de 43% para 44%. Mas teve seu maior tombo na faixa seguinte, de cinco a dez mínimos: uma perda de oito pontos, de 42% para 34%.
Por que Ciro sair é bom para Dilma
A pesquisa testou apenas dois cenários: um com Ciro – que comentamos até aqui – e outro sem Ciro. Neste último, Serra aparece com cinco ponto a mais (41%) e Dilma com três a mais (28%).
Dez entre dez analistas e jornalistas da grande mídia que comentaram estes números concluiram que, portanto, uma retirada de Ciro favoreceria Serra. Um dos mais enfáticos foi Sergio Kapustan, do próprio Diário do Comércio. "A retirada da candidatura de Ciro Gomes causaria um efeito exatamente oposto ao que espera o presidente Luiz Inácio Lula da Silva", escreveu Kapustan.
Divirjo humildemente dessa impressionante unanimidade e fico com Lula. Esta é uma análise que não pode se contentar com os dados quantitativos globais, tem que entrar no detalhe.
Primeiro, porque o reduto de Ciro é no Nordeste, e é no Nordeste (por exemplo no Ceará, que elegeu o deputado do PSB com retumbante votação) que a avenida para o crescimento de Dilma está mais desimpedida: apenas um governador, o de Alagoas, está no palanque de Serra.
Segundo, porque durante a campanha Ciro teria que se diferenciar para crescer além dos 11% que o Ibope lhe atribui. E não poderia faze-lo com elogios ao governo Lula, que só ajudariam Dilma, e sim com críticas e/ou ataques.
Terceiro, porque os eleitores que não escolheram candidatos segundo o Ibope (disseram que votariam em branco, nulo ou não souberam escolher um candidato) somaram 20% no primeiro cenário (chegando a 23% na camada mais pobre) e 21% no segundo (25% na mais pobre). Estes indecisos, que possivelmente decidirão a eleição presidencial tendem a ser os mais disponíveis para ouvir o pedido de voto de Lula, cuja popularidade o Ibope confirmou, em um cenário polarizado; mas é mais fácil que dispersem suas escolhas em um quadro menos nítido.
Seria ingênuo acreditar que Luiz Inácio – um reconhecido prodígio em matéria eleitoral – esteja redondamente enganado em uma questão como esta. E mais ingênuo ainda supor que a cabala do "fica Ciro" tomou conta da mídia hegemônica com o intuito de ajudar Dilma.
Isto, mais até que os dois pontos perdidos desde dezembro e os seis desde setembro, deve estar frequentando as reflexões de Ciro Gomes depois deste Ibope. E também os de seu partido, que ele promete obedecer "docilmente".
Na espontânea, empate: 9% a 10%
Os números da pesquisa espontânea també merecem um comentário. Há empate técnico entre Serra (10%) e Dilma (9%), seguidos de longe pelo Tucano Aécio Neves (3%), enquanto os outros presidenciáveis não passam de 1%. Porém Lula lidera a espontânea, com 23%. E os que não escolheram ninguém chegam a 52% no Brasil e 63% na Região Sul, onde são mais numerosos.
Na espontânea Dilma tem seu pico nos homens (11%), na faixa entre 30 e 39 anos (11%), e sobe de 6% na faixa com escolaridade até a quarta série para 14% na de nível superior. Oscila entre 7% no Sul e 10% no Nordeste e Norte/Centro-Oeste.
Serra vai melhor nos homens (12%), nas faixas com mais de 40 e de 50 anos (11%), e também melhora de preformance conforme a escolaridade, de 8% para 15%. Vai de 5% no Nordeste a 12% no Sudeste e Norte/Centro-Oeste.
Quanto à renda, Dilma na espontânea tem seu pico nas faixas de mais de 10 salários mínimos (13%) e em especial de cinco a dez (14%), caindo para 10% e 8%, até chegar a 6% na faixa de até um salário mínimo. Serra alcança espetaculares 24% na votação espontânea dos que têm renda acima de dez salários mínimos; depois decresce escalonadamente, até chegar a 7% na vaixa que ganha menos de um mínimo.
E Lula, o campeão da espontânea? Ele segue o caminho inverso de Serra... e também de Dilma. Tem 13% na faixa de mais de dez mínimos, e sobe para 15%, 21%, 26%, até chegar a 29% na "faixa do Bolsa Família". O que confirma que, conforme os analistas já estão reconhecendo, não existe a mais ínfima base para profetizar que Dilma Rousseff "bateu no seu teto".
A pesquisa foi realizada com 2.002 eleitores a partir dos 16 anos entre os dias
Clique aqui para ver o relatório completo da pesquisa Ibope/Diário do Comércio
Clique aqui para conferir os dados da pesquisa Ibope anterior
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