quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

LUÍS NASSIF

Um governador desconectado

A íntegra da entrevista coletiva do governador José Serra para anunciar o novo salário mínimo paulista é um retrato do seu estilo de governar. Em dezembro fiz uma análise do estilo Serra – a partir de conversas com pessoas que participam de suas reuniões no Palácio. Informei que Serra estava desconectado do seu governo. Nas reuniões, a única preocupação era com o que saía na imprensa. Só se envolvia pessoalmente em temas quando se tornavam crises midiáticas. Cada secretário tinha montado seu espacinho, onde trabalhava sem ser avaliado e sem poder divulgar seus feitos – porque apenas o governador poderia aparecer.

Apesar de tema importante, a ponto de justificar uma coletiva, Serra não acompanhou em nenhum momento as discussões sobre o novo salário mínimo – conforme fica claro na entrevista. Não tinha dados, informações, precisou ser socorrido várias vezes ou pelo Secretário Guilherme Afif Domingos ou por assessores que estavam sentados em frente. Teve que ler dados básicos. Quando improvisava, era em cima de obviedades.

Houve a divulgação de um primeiro valor do SM. Depois, de um segundo valor. As vacilações na entrevista deixam claro que a única interferência de Serra foi quando lhe informaram que o aumento seria inferior ao do governo federal. Aí, mandou que fosse refeito para ficar acima.

Na entrevista, vem com a história de que haviam sido montados diversos «cenários» e que a primeira informação fora de um cenário desconsiderado e que acabou indo por engano para a imprensa.

Conversa! Se na própria coletiva informa que o impacto sobre as contas públicas será mínimo e que a medida atingirá apenas as famílias e o emprego doméstico, que cenários foram traçados? Nenhum. O que ocorreu é que, depois de divulgado o valor, Serra exigiu que se alterasse para o reajuste ficar maior que o do governo federal. O «cenário», então consistiu em criar uma metodologia qualquer que garantisse o número. Na falta de outros indicadores, colocaram o PIB paulista de dois anos atrás. E vem o governador, na entrevista, dando a entender que o que guiou os estudos foram cenários macroeconômicos.

Não combinou sequer as desculpas com Afif Domingos. Depois de Serra garantir que o erro foi meramente de uma troca de papéis «com cenários», Afif – como homem maduro que é – fez uma «autocrítica», para manter a imagem do «Serra-que-nunca-erra-porque-os-erros-são-sempre-dos-outros». Disse que a culpa do atraso foi dele, porque «interpretou mal» os desejos do governador.

Mesmo estando nítido de que a única interferência de Serra foi para ter um índice de reajuste maior, o governador vem com a história de que definição de índices de reajuste não é gincana. Ou com a bobagem de que as razões da mudança de índice deveriam merecer um conto para ser inscrito no Prêmio Governador do Estado – «o maior do país».

Uma entrevista em que demonstra desconhecimento total dos dados, enfado, má vontade com os repórteres, falta de estudo e de preparação da coletiva.


Autor: luisnassif - Categoria(s): Sem categoria

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