quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Coronel* vai ficar muito brabo: Paulino, do Datafolha, diz que Lula é a peça chave da eleição

*Coronel, é aquele “maluco, que anda de COTURNO à noite, enquanto sua Mulher e o Noblat...(deixa prá lá!)

Sociólogo de formação, Mauro Paulino, há mais de 20 anos vasculha e divulga anseios e intenções do eleitorado brasileiro. No instituto de pesquisa Datafolha, coordena a realização de pesquisas eleitorais desde 1988. Em entrevista ao site Terra Magazine, ele fala do "tabuleiro de xadrez" em que estão a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e o governador José Serra (PSDB-SP) no pleito presidencial de outubro. "Comprovadamente Lula já está transferindo muitos votos para Dilma", diz.

Ela é a "mulher forte do governo" e "já está em campanha". Serra é "um administrador muito bem avaliado" e "conhecido nacionalmente". Mas, para Paulino, a "peça chave" desse tabuleiro é o presidente Lula. "Os dois candidatos estarão com os olhos voltados para ele e o eleitorado, por sua vez, também", acrescenta.

"Do ponto de vista da ministra, Lula pode ser a peça chave para o bem e para o mal. Meu bem, meu mal (risos). (...) O contraste entre o carisma de Dilma e Lula pode fazer com que o eleitor não vote nela".

Leia abaixo a íntegra da entrevista:


Terra Magazine - Algumas pessoas questionam a legitimidade das pesquisas eleitorais. Como o Datafolha faz para evitar esse tipo de questionamento?
Mauro Paulino - A pesquisa sempre é questionada, principalmente por quem se sente prejudicado, ou por quem não estava à frente, ou quem se vê ameaçado por uma candidatura ascendente. Mas a legitimidade das pesquisas se comprova pelo histórico do desempenho dos institutos, que é a base da credibilidade adquirida por cada um deles. Então, há os mais e menos questionados. Outro fator é o uso abundante de pesquisas pelos partidos políticos. Ou seja, se pesquisas não ajudassem e não fossem um instrumento eficaz, os partidos não gastariam tanto dinheiro comprando pesquisa.

O senhor acredita que as pessoas já tomaram conhecimento de que a ministra Dilma seja a candidata do presidente Lula?
Já há um conhecimento para lá de razoável da candidatura de Dilma. O Datafolha publicou um artigo no final do ano passado mostrando que ainda há 15% de eleitores afirmando que votariam em um candidato indicado por Lula, mas dizem não saber quem é esse candidato ainda. Então, isso dá uma dimensão do desconhecimento dela e do potencial de crescimento que tem a candidatura Dilma.

Qual o principal motivo do crescimento dela nas pesquisas? Isso é referente ao conhecimento que as pessoas têm dela ou ao fato de já saberem que ela dará continuidade ao trabalho de Lula? É uma questão mais política ou personalista?
São vários fatores ocorrendo simultaneamente. As pessoas vêm tomando conhecimento. O processo eleitoral hoje ainda é restrito às pessoas com mais informações, restrito às pessoas com taxa de escolaridade mais alta e pertencentes a um segmento menor da população. Na medida em que as pessoas com menos acesso à informação, com uma renda mais baixa - que formam a maior parte do eleitorado de Lula - forem tomando conhecimento da candidata Dilma e que Lula não pode ser candidato - porque ainda 20% vota nele na pesquisa espontânea -, teremos um panorama mais claro do potencial de votos dela. Porque quando essas pessoas tomarem conhecimento de Dilma como candidata de Lula, darão o apoio e a transferência de votos. Contudo, ela pode sofrer com a comparação com Lula.

Como assim?
O contraste entre o carisma de Dilma e Lula pode fazer com que o eleitor não vote nela. As pesquisas não têm como avaliar isso, mas acompanhar.

Sobre o carisma e a transferência de voto, o senhor acredita na transferência de votos de Lula para Dilma?

Lula tem uma penetração muito forte nos segmentos que relacionam os benefícios sociais à ação do governo federal. E também tem algo que é incomparável: o poder de comunicação, essa facilidade que ele tem de conquistar a simpatia desse segmento da população. Hoje ele é aprovado por maioria absoluta em todos os segmentos da sociedade, não só nessa camada. Isto nos permite afirmar que há potencial de crescimento em Dilma, mas que depende das comparações que o eleitor fará: Dilma e Serra, Dilma e Lula.

Apesar de registrar índice inédito de aprovação, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, não elegeu um sucessor de sua legenda para o cargo. O Chile pode ser usado como um exemplo para o caso brasileiro?
São realidades muito diferentes. O quadro brasileiro é bem diferente do chileno.

O senhor acredita que o fato de os dois candidatos serem um pouco menos carismáticos, como o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, já destacou, do que os antecessores tucano (FHC) e petista (Lula) no Planalto seja um fator que colabore para politizar a campanha?
O brasileiro está naturalmente refletindo mais sobre política em consequência do desenvolvimento da sua própria cultura nessa área. E ter uma eleição a cada dois anos ajuda muito. O eleitor vai se habituando ao voto e às consequências dele. Então, hoje, o eleitor pensa mais sobre seu voto, elabora melhor esse voto, de uma forma muito mais racional do que na primeira eleição a presidente em 1989, após a redemocratização. Ali, valia muito mais a paixão, a novidade... Nessa época, o marketing tinha um peso muito grande. Hoje, acho que o marketing político tem um peso menor e o eleitor toma suas decisões de forma mais pensada e mais autônoma, independente do carisma, que pesa, claro, mas a capacidade de administração tem sido muito valorizada. A conta que o eleitor faz é: "quem tem mais condições de resolver os nossos problemas imediatos".

O fato de a ministra Dilma nunca ter disputado uma eleição é melhor ou pior, tendo em vista que a política tem sido vista de maneira desconfiada após sucessivos escândalos de corrupção?
Mais do que não ter participado, o que beneficia Dilma é o fato de ela não estar no cenário político quando do Mensalão. Quando surgiram todas aquelas acusações de Mensalão, Dilma praticamente não existia para a maioria da população. Então, ela entrou em cena para substituir aquele que foi considerado o grande culpado, José Dirceu. E, a partir daí, a economia começou a melhorar também, ela passou a ser a figura mais forte do governo - afinal Lula sempre fez questão de deixar isso muito claro -, o país passou por uma crise mundial e saiu bem... Isso tudo é muito valorizado e anula a inexperiência. É claro que ela tem um caminho muito mais longo do que Serra para se tornar conhecida, mas isso é facilmente superado porque a coalizão do governo tem muito mais tempo de propaganda na televisão. E acho que o fato de ela nunca ter disputado um pleito acaba não pesando muito.

Observamos um crescimento da ministra e estabilidade do governador nas pesquisas. A que se deve essa estabilidade?
Serra tem uma ótima avaliação como governador de São Paulo, teve uma ótima avaliação como ministro, tem a imagem de ser um administrador competente e de quem resolve os problemas da saúde, que é hoje o principal problema do país apontado pelos eleitores. Então, ele tem todas essas vantagens e sai na frente por conta disso, também por ter disputado eleições anteriores e estar na lembrança do eleitorado como alguém com porte de candidato a presidente. Isto justifica a permanência dele na liderança das pesquisas. Mas o que tem sido mostrado é que há uma candidata em ascensão, Dilma, há um candidato com estabilidade, Serra, e Ciro Gomes (PSB) caindo.

O fator Ciro tem enfraquecido Dilma ou Serra?
As pesquisas mostram que, com Ciro na disputa, a diferença entre Serra e Dilma diminui. Sem ele, aumenta e Serra tem mais vantagens. Então, há uma boa parte que vota em Ciro aparentemente por não querer votar num candidato do PT.

Nas eleições de 1998, 2002 e 2006, quem liderava as pesquisas um ano antes acabou por vencer as eleições. O cenário de 2010 é previsível?
Essa eleição é muito mais imprevisível do que as quatro anteriores. É a primeira vez que não temos Lula como candidato, é primeira vez que há um cabo eleitoral com esse apoio popular que Lula tem. Estes fatores já tornam essa eleição diferente de todas as outras. Não se sabe como o eleitor vai reagir. Na verdade a peça chave dessa eleição é o próprio Lula e não sabemos como o eleitor vai lidar com esse fato. Lula não pode ser candidato e Dilma é a candidata dele contra Serra, que é comprovadamente um bom administrador. Como essa equação será resolvida pelo eleitorado? Não temos como prever.

O senhor disse que a peça chave dessa eleição é Lula...
Os dois candidatos estarão com os olhos voltados para Lula e o eleitorado, por sua vez, também. Ele tem um governo com uma taxa de aprovação inédita e o peso que isso terá nesse pleito já está sendo demonstrado. Comprovadamente ele já está transferindo muitos votos para Dilma. Agora, qual é o teto disso e até que ponto isso tira votos de Serra? Não sabemos. Mas a eleição vai girar em torno de Lula, por isso que ele é a peça chave. Do ponto de vista de Dilma, pode ser a peça chave para o bem e para o mal. Meu bem, meu mal (risos).

Como o senhor avalia a tática petista de polarização? Uns defendem que ela é boa para Dilma, outros, para Serra, e há aqueles que afirmam não ser bom para o eleitorado...
A polarização é inevitável, não tem como fugir. A meu ver, para o bem da democracia, é bom que haja muitos pontos de vista sendo discutidos. O segundo turno existe para que haja essa polarização, mas, no primeiro, quanto mais candidatos expuserem suas ideias, melhor para o desenvolvimento da cultura política do brasileiro.

E o que o senhor acha da comparação entre Lula e FHC?
É inevitável também. Não consigo imaginar a campanha sem essa comparação. O marketing político vive dessas comparações, de tentar jogar o bem contra o mal. Não tem como fugir disso, mas espero que não fique só nisso. É saudável que existam candidatos como Marina Silva, por exemplo, que traz o tema do meio ambiente. Seria importante que houvesse mais candidatos trazendo outros temas para que o debate fosse mais rico.

Voltando à temática da polarização, alguns tucanos defendem que Serra ganha com ela por ter mais experiência em processos eleitorais.
A campanha começa de fato para o total do eleitorado a partir de março, abril, quando as candidaturas estão oficializadas e começam as entrevistas. Aí, o desempenho de cada um pesará e pode ser, então, que a experiência de Serra seja decisiva. Mas não dá para saber como será o desempenho de Dilma, que ainda não foi vista em debate, ou em uma entrevista mais incisiva.

O fato de o PSDB não ter determinado seu candidato influencia em que medida o desempenho de José Serra nas pesquisas?
A consequência disso é só existir uma pessoa fazendo campanha abertamente: Dilma Rousseff.

Mas Serra é muito bem avaliado em São Paulo e Dilma corre a passos largos em direção à liderança nas campanhas eleitorais... Equação complexa...
Mas esse é o grande dilema do PSDB e do Serra. Não será uma eleição presidencial fácil e isso já está mais do que comprovado. Além disto, o tempo na televisão é muito importante e o PT fez alianças que dão a ele quase o dobro do tempo que tem o PSDB. Por outro lado, se Serra desistir, deixa praticamente entregue a eleição para o PT. Por quanto tempo mais o PT vai permanecer no poder? Porque, em 2014, Lula volta como candidato. Serra é o candidato mais forte do PSDB, pelo menos é o que tem o caminho mais curto. Aécio Neves (governador de Minas Gerais) teria que conquistar São Paulo e isso não é tarefa fácil. Enquanto Serra já é figura nacional por já ter participado de eleições presidenciais e por ter sido ministro da Saúde. É um tabuleiro de xadrez.

Fonte: Terra Magazine

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