terça-feira, 2 de março de 2010

Com Dilma em alta, Veja e Folha perdem a paciência com Serra

A fragilização da candidatura do governador José Serra (PSDB-SP) ao Palácio do Planalto se agravou, sensivelmente, a quase sete meses das eleições de 3 de outubro. Tudo por causa dos números da última pesquisa Datafolha sobre a corrida presidencial, divulgados no fim de semana, que mostram a pré-candidata petista, Dilma Rousseff, tecnicamente empatada com Serra. Na grande mídia paulista, a paciência com o tucano — que já era escassa — chegou ao fim.

Por André Cintra

O descontentamento toma o texto de matérias secundárias e vai até centro das colunas políticas. No site da revista Veja —, quem dá o tom das preocupações é o serrista de carteirinha Reinaldo Azevedo. O blogueiro descreve o desempenho de Dilma nas pesquisas como “resultado óbvio”. Conforme suas palavras, “até que Serra não lance a sua candidatura, se é que vai lançar, não existe, para ele, um “bom momento” para pesquisas — no caso de Dilma, todos são bons”.

Mas as inúteis relativizações de Azevedo param nesse ponto. Ele dá sinais de preocupações, pede mais “juízo” dos tucanos e arremata, em tom de cobrança: “Ou bem o PSDB de dá conta do tamanho do desafio, ou bem se prepara desde já para continuar na oposição — ou sei lá que outros cenários certos tucanos imaginam que se seguiriam a uma eventual vitória de Dilma”.

O blogueiro também dá um pito no governador mineiro, Aécio Neves: “Os tucanos têm de atuar com força máxima no Sudeste — assim como é e será máxima a força de Dilma no Nordeste. E a força máxima tem uma só tradução, repita-se: São Paulo e Minas estarem efetivamente unidos para tentar vencer a disputa. Estarão? Se estiverem, muito bem; isso significará jogar para ganhar; se não estiverem, trata-se de um compromisso com a derrota.”

No próprio site da Veja, entretanto, o também colunista Lauro Jardim registra que Aécio pouco se importou para o Datafolha. “Ajudo mais o Serra como candidato ao Senado. Imagina se eu deixar de acompanhar o (Antonio) Anastasia durante a campanha em todo o interior mineiro? No início, irão dez prefeitos acompanhá-lo, depois cinco, depois um. É preciso que eu esteja lá para comandar, olhar olho no olho, puxar a campanha. E isso vai ajudar o Serra mais do que alguns supõem”, opinou o governador de Minas Gerais.

“Águas de março”

Os jornalistas da Folha de S.Paulo também correram a clamar ou pela antecipação do anúncio da candidatura de Serra ou pelo recuo de Aécio. Para o colunista Fernando de Barros e Silva, a tática de Serra ajudou a transformar na “favorita da disputa”, e o PSDB precisa se revirar. “Não há dúvida de que Aécio agora será muito pressionado pelos tucanos. Mas quem precisa dizer a que veio antes que as águas de março fechem o verão é o governador de São Paulo.”

Já o jornalista-blogueiro Josias de Sousa transferiu o apelo aos apoiadores, ao dizer, em manchete, que “aliados cobram de Serra ao menos uma ‘sinalização’”. De acordo com Josias, “o grão-tucanato reagiu à última pesquisa Datafolha de duas maneiras. Em público, considerou ‘natural’ a ascensão de Dilma, atribuída à superexposição. Em privado, concluiu que a subida da candidata de Lula pede ‘reação’. Na noite passada, um dirigente tucano disse ao blog: ‘Precisamos de fatos novos’”.

Os fatos novos seriam “uma rápida manifestação de Serra assumindo-se claramente como candidato” e o “convencimento de Aécio para compor a chapa como vice” — dois cenários improváveis. É por isso que, segundo Josias, o presidenciável tucano sofrerá uma onda de pressões. “Nos próximos dias, lideranças do PSDB e do DEM cobrarão de Serra pelo menos uma declaração pública assumindo-se como candidato ao Planalto.”

O texto mais revelador mesmo é o da repórter Cátia Seabra, publicado nesta segunda-feira (1º) pela Folha. “Vendo em Serra sua única chance de vitória, o comando do PSDB espera que o governador avise logo que é candidato (...). Mas, a um mês do prazo fatal para o anúncio de sua candidatura, Serra expõe a aliados angústia acerca de sua decisão”.

Ainda segundo a Folha, “ao mesmo tempo em que atua como candidato — patrocinando alianças estaduais e avalizando a montagem de uma estrutura de pré-campanha —, consulta conselheiros sobre a conveniência de abrir mão das chances de reeleição para concorrer à Presidência. De um colaborador, ouviu que é preferível tentar a reeleição”.

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