segunda-feira, 19 de julho de 2010

Indio será monitorado pelo comando da campanha

Integrantes da cúpula tucana caracterizam como "exageradas" as afirmações do companheiro de chapa de Serra

Marcela Rocha

Segundo o líder tucano na Câmara, deputado João Almeida (BA), o vice de José Serra (PSDB) na corrida ao Planalto, Indio da Costa (DEM-RJ), "apenas respondeu às agressões proferidas por Dilma Rousseff". O democrata chamou a adversária de "ateia" e "esfinge do pau oco", em resposta à afirmação dela de que ele havia "caído do céu". Indio também acusou o PT de estar ligado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e ao crime organizado: "todos sabem que o PT é ligado as Farcs, ao narcotráfico, a tudo o que há de pior. Não tenho dúvida nenhuma disso", disse ele.

"Ele não está usando nem elementos novos", salientou João Almeida, para depois detalhar que o vice de Serra está trazendo "assuntos já apresentados pela mídia e que não foram explicados nem pela candidata adversária, nem pelo PT". "Ela não conseguiu convencer de que as acusações não são verdadeiras", completou.

O candidato a vice-presidente deixou o Rio de Janeiro neste domingo (18) e viajou a São Paulo para analisar com o núcleo de campanha de José Serra (PSDB) a repercussão negativa das acusações que fez na sexta-feira (16) à sua adversária, Dilma Roussef, e ao Partido dos Trabalhadores.

Os ataques de Indio foram feitos quando respondia a internautas e jornalistas em entrevista organizada pelo site mobilizapsdb. Em resposta, o presidente do PT, José Eduardo Dutra disparou em sua página no Twitter: "esse Indio desqualificado quer ser processado. O problema é que ele não vale o custo do papel necessário para a petição". O partido da candidata Dilma Roussef estuda representar contra o vice de Serra.

Integrantes da cúpula tucana caracterizam como "exageradas" as afirmações do companheiro de chapa de Serra, que será, a partir de agora, mais monitorado pelo comando da campanha. Ainda assim, a coordenação da campanha de Serra optou por manter o vídeo na íntegra no site mobilizapsdb por avaliar que a repercussão seria ainda pior se fizesse algum tipo de edição ou se retirasse o material do ar.

Alguns tucanos avaliam que Indio da Costa ainda está adequando o seu discurso ao de um candidato a vice. Nessa transição, ainda mantém hábitos de parlamentar, ao fazer críticas consideradas exageradas aos adversários. Segundo adianta um membro da coordenação, as declarações de Indio serão um dos temas a serem discutidos nesta segunda-feira (19) pelo comando tucano-democrata. O presidente do PSDB e coordenador nacional da campanha, senador Sérgio Guerra (PE), também estará em São Paulo nesta segunda, como tem feito desde o início da pré-campanha.

Ainda na entrevista, Indio evitou criticar Lula e questionou como seria o governo de Dilma sem o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. "No dia primeiro de janeiro, se a Dilma é eleita, Lula volta pra casa, mas o PT fica. Fica com todos aqueles mensaleiros". E acrescentou: "Lula tem poder sobre eles, mas eles têm muito poder sobre a Dilma". A menção ao ¿mensalão do PT" já tinha sido feita em entrevista ao Terra na última terça-feira (13).

Neste domingo, o candidato ao Senado pelo PMDB, Orestes Quércia, minimizou os disparos feitos por Indio da Costa. O peemedebista disse acreditar que se trataram de críticas a uma suposta "leniência" do governo federal, e por conseguinte, do PT, em relação ao narcotráfico. Mas o peemedebista alerta: "não é o momento de fazer esse tipo de conexão. Ele não falou em nome de Serra nem do partido".

A história se repete
Dilma afirmou em comício na noite de sexta-feira no Rio, que seu vice "não caiu do céu". Indio respondeu pelo Twitter: "candidata do PT diz que eu caí do céu na chapa do @joseserra_ Para uma ateia, deve ser duro ter um adversário que cai do céu...". Em sabatina realizada pelo jornal Folha de São Paulo em 2007, a petista disse não ter certeza sobre a existência de Deus.

O mesmo artifício já foi usado contra os próprios tucanos há mais de 20 anos. Na disputa pela prefeitura de São Paulo em 1985, Fernando Henrique Cardoso se atrapalhou num debate ao ser questionado sobre sua crença em Deus. No dia seguinte, foram espalhados pela cidade panfletos contendo uma cruz e a inscrição "Cristão vota em Jânio". FHC perdeu o pleito e a derrota foi atribuída à resposta vaga que o então candidato deu no debate sobre sua religiosidade.

Os petistas exploram a conturbada escolha de Indio da Costa para ocupar o posto ao lado de Serra com vistas a desqualificar a decisão, tomada após exaustivas negociações entre PSDB e DEM. A primeira opção dos tucanos era o senador paranaense Alvaro Dias, que supostamente resolveria uma querela estadual.

Mas os tucanos não encontraram respaldo do DEM para sustentar Dias na posição. O deputado democrata pelo Rio de Janeiro foi então anunciado candidato a vice em 30 de junho na convenção nacional de sua legenda, mas a decisão, ainda assim, deixou um travo de irritação em parte do DEM, que se sentiu escanteado no processo.

 

 

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