Especula-se até de tratamentos secretos a que ele se submeteu, com remédios prescritos pela medicina mais confiável, nas últimas semanas.
Urariano Mota
Recife (PE) - Em Serra, olhem bem para os olhos. Eles vagam, fitam distante, como se pensassem em coisa diferente do que a boca fala. Quando dão presença, oscilam da fúria, arregalados, à retração nas órbitas fundas, com íris apagadas, parecendo reclamar de insônia permanente. O candidato não deve dormir bem nos últimos tempos, parece. Mesmo quando sorri, sorri só com a boca, fazendo com os olhos fixos uma composição de máscara. A quem sorri assim, só com os dentes, maxilar colado a maxilar, “com os dentes fechados”, o povo nordestino chama de gente falsa.
Mas não pensem que ele, apesar da própria cara, não se preocupe com uma boa feição. No Recife, durante uma entrevista coletiva, ao tossir muitas vezes, reclamou da garganta e pediu para não ser filmado nesse aperto: “Eu acho que os meus olhos ficam esbugalhados”. Será? Em sua imagem mais conhecida na web, bem humorado, ele “brinca” com um fuzil de mira telescópica, apontado para o fotógrafo, vale dizer, para todos nós. Aí vem bala, e nos baixamos, como se a imagem viesse com a desgraça de um projétil em três dimensões. No entanto, não precisamos de um novo Lombroso para ver no candidato ares de louco, de um indivíduo com os mais claros sinais de desequilíbrio mental. Basta ir ao que ele declara, de norte a sul do Brasil. Pior que seus olhos e expressões faciais, Serra é aquilo que ele declara.
Abrem-se as cortinas. Fala, Serra.
“Vou criar o Ministério do Acarajé”, ele falou, disse, e acrescentamos um futuro do pretérito, teria dito
Antes do Acarajé na Bahia, em Curitiba prometeu dar enxoval às grávidas. E se possível, acreditamos, assumir a paternidade também. De quantas mulheres no Brasil? De todas, fôlego e saliva no candidato não sobram. Há loucos que babam, dizem. Mas não se espantem de tamanha potência e generosidade varonil. Em matéria de paternidade, antes dos filhos de todo o Brasil, ele andou furtando paternidades de outros que não foram seus, como os projetos de lei dos remédios genéricos e do Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Observo agora que escrevi acima que no Rio ele estava mais próximo de sua base. Mil e um perdões, porque o candidato José Serra é, pelo que fala, pelo que procura fazer crer, natural de qualquer estado brasileiro ou cidade por onde ande. Entendam, não é só um em Roma como os romanos. Em Pernambuco ele é pernambucano. “Cresci na política aqui em Pernambuco”. Logo... Quando ele viaja para outros estados do Nordeste, tem até um genérico de naturalização, tipo, como dizem os adolescentes, tipo ninguém é mais nordestino: “O político que mais fez pelo Nordeste fui eu”. Um autêntico filho de uma mãe nordestina, poderíamos dizer.
Os sintomas do mal não apareceram agora, é claro. Lembram-se do conselho do mago médico Serra, quando se anunciou a gripe suína? Um primor: "Ela, a gripe suína, é transmitida dos porquinhos para as pessoas só quando eles espirram. Portanto, a providência elementar é não ficar perto de porquinho nenhum". Viva. A esta altura, há quem diga que o candidato, submetido a fortes pressões, de partido, projetos e destinos, pirou de vez. Daí os sucessivos desvarios, dizem, os olhos que perambulam, imigrantes e fugidios. Especula-se até de tratamentos secretos a que ele se submeteu, com remédios prescritos pela medicina mais confiável, nas últimas semanas.
Eu, do meu canto, sem ser alienista, penso que a realidade do mal é mais simples. Serra, o nordestino, nortista, sulista, mineiro, criador de ministérios para todos os gostos do mundo, apenas afundou o juízo nas órbitas diante da última pesquisa Vox Populi: Dilma Rousseff tem 43%, Serra, 37%. Em queda, não há lucidez que aguente.
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