sábado, 10 de julho de 2010

Tucanos do governo de Minas alheios ao grupo de extermínio montado na Polícia Civil

Foco das buscas é área de grupo de extermínio

Um dos integrantes do bando acusado de execuções, assaltos e fraudes em Minas seria o ex-policial suspeito de ter estrangulado Eliza Samudio


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"Casa de matar" usada pela polícia
Sítio em Esmeraldas tem cápsulas de revólveres, boneco fuzilado e a sigla do grupo de elite da polícia, o GRE





10 de julho de 2010 | 0h 00
- O Estado de S.Paulo

Policiais e bombeiros retomaram na manhã de ontem as buscas pelo corpo de Eliza Samudio, em um sítio que já foi investigado como área de execuções. A procura se concentrou na propriedade alugada por Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte. Ele integraria um grupo de extermínio, que atuaria dentro do Grupo de Respostas Especiais (GRE), uma equipe de elite da Polícia Civil de Minas. Ontem, nada foi encontrado.

Bola foi excluído da corporação em maio de 1992, pouco mais de um ano após ingressar, sob a acusação de falta de idoneidade e indisciplina. O sítio no bairro Coqueirais também funcionava como um centro de treinamento do GRE. Em 2008, segundo fontes policiais, Bola foi chamado a depor como investigado em um inquérito instaurado pela Corregedoria-Geral de Polícia Civil, após três integrantes do GRE serem denunciados pelo desaparecimento de dois homens.

O esquema foi revelado pelo então inspetor Júlio Monteiro, com apoio de outros policiais. A suspeita era de que as vítimas eram mortas, esquartejadas e queimadas em pneus no sítio. Restos mortais também serviam de alimento para cães ferozes - no depoimento do jovem J., ele relata que o mesmo teria sido feito com o corpo de Eliza, após ela ter sido estrangulada por Bola. Na época da investigação, pelo menos oito agentes foram afastados do grupo de elite. A denúncia falava em outros crimes, incluindo fraudes e assaltos.

Conforme apurou o Estado, homens do GRE eram vistos com frequência no sítio até o ano passado. No local, davam tiros em bonecos de pano e simulavam situações de combate, segundo vizinhos. Guiados por Bola, os policiais costumavam correr pelas ruas de barro das imediações cantando músicas do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Rio, que aparecem no filme Tropa de Elite. O logotipo da Polícia Civil aparece em pelo menos três paredes da propriedade. A sigla GRE está gravada em um barranco.

Chefe do bairro. Pelos vizinhos, Bola foi definido como o homem "que comandava o bairro". "Ele chegou para mim e falou: "Olha, se vocês tiverem algum problema, principalmente com drogados, me avisa que eu dou um jeito." Ele pegava firme com a bandidagem aqui", afirmou uma comerciante, que pediu para não ser identificada.

Apesar de não pertencer à corporação desde 1992, Bola costumava passear pelo bairro dirigindo uma viatura do GRE. O benefício seria concedido por um policial conhecido como Gilson.

O Estado procurou a assessoria da Polícia Civil mas, até o início da noite, não obteve informações sobre o inquérito de extermínio, que ainda não teria sido concluído. O advogado Rodrigo Braga, que se apresentou ontem como defensor de Bola, afirmou que seu cliente "não tem antecedentes criminais" e negou a ligação dele com os homens do GRE e com o sumiço de Eliza Samudio. "Ele não conhece nenhuma das pessoas envolvidas no caso. Os policiais me passaram que está bem transtornado. Então a gente precisa ter um pouco de cautela para que ele não cometa "autoextermínio"."

"Casa de matar" usada pela polícia


FOTOS OSWALDO RAMOS



Sítio em Esmeraldas tem cápsulas de revólveres, boneco fuzilado e a sigla do grupo de elite da polícia, o GRE, em barranco

Um lugar ermo, no meio de uma mata e conhecido como "casa de matar". O sítio de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de matar Eliza Samudio, talvez seja o ponto de partida para investigações de um histórico de crimes macabros cometidos por um grupo de extermínio. Além de Bola, entre os criminosos, estariam homens da tropa de elite da Polícia Civil.
As denúncias de que o sítio era usado como centro de treinamento do Grupo de Resposta Especiais (GRE) foram confirmadas pela reportagem do Super Notícia que, ontem, entrou na propriedade no bairro Coqueirais, em Esmeraldas. Também há denúncias de que, no local, tenham ocorrido cerca de 50 assassinatos.

No terreno do ex-policial civil, exonerado há 18 anos, há uma série de indícios que tornam o lugar, no mínimo, suspeito. Um contêiner com a logomarca da Polícia Civil e da antiga Secretaria de Segurança Pública está fechado com cadeados.

Por uma pequena janela, foi possível observar estruturas de madeira, que parecem servir como camas. Há vários manequins usados como alvos para a prática de tiro. Alguns, ainda não utilizados. Dois veículos sem placas e repletos de marcas de tiros integram o cenário. Em um barranco, a sigla GRE foi desenhada na terra. A profundidade da marca chama a atenção, assim como uma cabeça de boi pendurada em um pedaço de madeira.

Mais à frente, vários pneus estão dispostos - como paredes - para formar cômodos improvisados. Em um deles, caixas cheias de munição deflagrada. Há cartuchos de pistolas de vários calibres, e até de fuzil. Havia galões espalhados. Poucos passos depois, a reportagem encontrou outra grande quantidade de pneus. O caminho do sítio que adentra a mata é todo de areia fofa, marcado por muitas pegadas - o que dá a entender que o local foi frequentado recentemente.

Bola é acusado de matar a ex-namorada do goleiro Bruno com requintes de crueldade. Os métodos seriam os mesmos usados contra outras vítimas, conforme denúncias feitas à reportagem por um agente da Polícia Civil: primeiro a pessoa era esquartejada, depois queimada dentro de pneus. Restos que sobravam eram dados para cachorros.

Na quinta-feira, a assessoria da Polícia Civil havia negado que o sítio de Bola tenha sido usado para treinamento do GRE. No entanto, ontem, após reportagem publicada no Super Notícia, a corporação voltou atrás. Em nota, a polícia informou que o "sítio alugado por Bola foi usado para treinamento de policiais do GRE em 2008 e meados de 2009, por meio de cessão gratuita.

Inquérito na corregedoria

Apesar da gravidade das denúncias que envolvem policiais de elite do Grupo de Resposta Especial (GRE), o inquérito encontra-se parado na corregedoria da Polícia Civil desde outubro do ano passado. Aproximadamente dez dos 22 agentes que faziam parte do GRE em 2009 são acusados de irregularidades, como compra fraudulenta de veículos, extorsão, ameaças de morte e ação em grupo de extermínio.

A reportagem do Super Notícia obteve detalhes sobre as denúncias. Em 5 de fevereiro do ano passado, dois integrantes do grupo foram surpreendidos por policiais militares em Contagem. Eles se preparavam para matar uma pessoa, mas fugiram e abandonaram o veículo em que estavam, um Fiat Uno Preto, que, segundo dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG), até hoje está apreendido.

Segundo registro da polícia, o carro foi avistado parado em um ponto de tráfico de drogas no bairro Urca, divisa de Contagem com Belo Horizonte. No boletim consta que, ao ser abordado, o motorista do Uno teria fugido.

Ainda segundo a ocorrência, o condutor parou o carro e fugiu no bairro Confisco, na Pampulha. Não consta no registro militar o nome de nenhum proprietário de veículo, uma vez que o automóvel está financiado. Um dos integrantes do grupo de extermínio seria Gilson Costa, que foi transferido do GRE para o Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp). Ele é vizinho de Bola, em Esmeraldas, região metropolitana de Belo Horizonte.

Publicado em: 10/07/2010

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