A ação dos motosSerras, como podemos classificar os marqueteiros do candidato do PSDB à presidência da República, está engolindo água, sucumbe francamente. Não tendo o que propor aos brasileiros, tentaram o esquema das FARC, mas ficaram do lado dos paramilitares, a guerrilha da direita de lá. Pegou mal. O surto parou.
Depois, inventaram essa quebra de sigilo na Receita Federal. E aí tem treta. A começar pelo fato de que Serra, desde a formação do PSDB foi o cara dos tucanos que mais se aproximou dos serviços de informação. Sabe armar coisas que a gente nem imagina.
Vem de pronto, então, uma pergunta: por que as tais quebras de sigilo ocorreram todas
Não precisa ser James Bond. Uma hipótese. Você contrata um sujeito que dá voltas em suas relações criminosas e provoca um delito contra você. Pode ser até uma tentativa de burlar a Receita. Com técnicas requintadas, a informação vai se dissipando e o que sobra é um aparente crime em que você, que o mandou fazer, é a vítima.
Isso tudo justamente em período eleitoral. E ainda quer que a gente acredite!
Seja o que for, era no caso da quebra de sigilo que os motosSerras, auxiliados pela grande mídia (Rede Globo, Folha de SP, Estadão e seus filhotes Brasil afora) pensavam que iriam nadar de braçadas. Mas se enganaram. A difusão e a decodificação da informação mudaram muito no Planeta Terra, inclusive no Brasil.
A grande mídia não manda mais. O Jornal Nacional, da Globo, não é mais a pauta do governo no dia seguinte. Nem a CNN tem tanto peso em nível global. A Internet, os jornais comunitários, boletins de sindicatos e outras entidades, as mensagens de celular, a melhor qualidade da educação, um mundo de fatores contribui. Sem falar no próprio cordel, que está mais vivo que nunca.
“Benza Deus!”, diria o sertanejo nordestino.
As pesquisas de opinião pública demonstram que o sentimento do povo não é o dos motosSerras. O pau come solto na TV, jornais e rádios, com factóides, mas os índices de Dilma Rousseff seguem crescendo. Fica claro, pois, que a estratégia de Serra vai soçobrando. Deixará, porém, novos arquivos históricos para estudo da ética.
E aí entra outro aspecto da crítica tucana à Dilma, que é o dela ter feito parte da resistência armada ao regime militar que vigorou no Brasil por duas décadas. Os motosSerras parecem querer esconder a própria história de seu candidato.
Mais que isso. A maneira com que a questão foi levantada lança dúvidas sobre trecho importante da história das lutas populares no Brasil. Ao contrário do que foi insinuado, o fato de Dilma ter sido guerrilheira é motivo de orgulho para todos nós. Aliás, a trajetória de Serra teria sido muito parecida com a dela.
Ele, Serra, foi um dos fundadores da Ação Popular (AP), organização da esquerda cristã que nasceu da Ação Católica e da JUC (Juventude Universitária Católica). Desde sua fundação, em
A AP teve forte penetração nos movimentos populares, inclusive no camponês, com a proposta de uma reforma agrária ampla. Já antes do golpe de 64, adotou firme postura de combate aos militares golpistas e discutia a opção por ações armadas caso o golpe ocorresse.
Serra participou disso, tanto nas discussões internas da AP como em manifestações públicas. Fez, por exemplo, contundente discurso no famoso comício da Central do Brasil, convocado pelo então presidente João Jango Goulart, três semanas antes do golpe.
No dia seguinte ao golpe, em meio a prisões e assassinatos, Serra conseguiu sair do país. Foi para a Colômbia, onde já existiam as Forças Armadas Revolucionárias (FARCs), que davam apoio a refugiados políticos. Em seguida, exilou-se no Chile onde casou-se, teve dois filhos e viveu por oito anos, até o golpe dos militares de lá, que derrubou o presidente Salvador Allende.
Foi preso, se safou e foi para os Estados Unidos. Mas sempre conectado com as ações da esquerda aqui no Brasil. Acompanhou, inclusive, a incorporação da AP pelo PCdoB, em l972, e o desenrolar da Guerrilha do Araguaia nos anos seguintes. Deveria ser também um motivo de orgulho para ele.
Mas, não. A mensagem dos motosSerras revela um candidato neo-liberal. Mais que isso. Um conservador, elitista, defensor dos latifúndios e oligopólios, do grande capital financeiro e por aí vai. Reforma Agrária, por exemplo, com ele nem pensar.
Sua campanha demonstra não ter um projeto para o Brasil. Suas propostas são pontuais, fragmentadas e até desconexas. E sua campanha pregada em inverdades, invenções e ofuscamento da memória nacional.
Mas, por sorte, está borbulhando.
* Trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário