Conhecendo a truculência com que Serra e o PSDB trata seus desafetos - professores e policiais mau pagos, por exemplo - é possível prever que haverá "sangue". E que a apresentação de propostas, o debate de ideias, a comparação entre biografias e até mesmo a exposição de pontos francos de um e de outro candidato, dará lugar ao equivalente a socos, chutes e bordoadas, num verdadeiro - e lamentável - vale-tudo.
A noite de 31 de agosto deverá entrar para os arquivos desta corrida presidencial como a "hora da virada" da campanha de José Serra ao Planalto. Em duas entrevistas - ao SBT e à Globo - o tucano deu sinais evidentes que vai usar do que estiver ao seu alcance - o que pode ser também chamado de "apelar" - para tentar reverter a tendência quase vertical de queda nas pesquisas.
Por Fábio M. Michel, Rede Brasil Atual
Sem nada melhor para apresentar, tucano abre temporada de golpes baixos, sempre contando com o apoio da grande mídia
Sem ter conseguido ampliar a preferência pela sua candidatura, agora opta nitidamente por tentar criar no eleitorado a rejeição à sua principal oponente, Dilma Rousseff. Serra já aproveitou a "notícia" sobre a quebra de sigilo fiscal da filha do candidato, Verônica Serra, para responsabilizar Dilma, sua campanha e todo o PT.
Nem mesmo a nota oficial da Receita e da servidora acusada, de que a própria Verônica havia requerido cópias de sua declaração foram aceitas. "É mentira, armação". Aliás, nada mais será verdade para Serra, se o que se disser vier a ser usado
Foi além. Lembrou um dos mais tristes episódios eleitorais da Nova República, quando o então candidato Fernando Collor revirou a família do seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, e revelou a existência de uma filha do metalúrgico fora do casamento. Explorado à exaustão pela imprensa oportunista de sempre, o caso foi um golpe mortal na candidatura de Lula, que acabou nocauteado no segundo turno.
Serra agora afirma que o PT usa táticas que aprendeu com um de seus adversários mais ferozes e já adianta que "se não tivesse a expectativa de vencer, eu ficaria horrorizado com o que poderia acontecer com o Brasil."
A tática agora parece ser a de instalar novamente o clima de medo, o de ser o protetor do país contra os malfeitores da nação. Nomes e "entidades" como José Dirceu, Palocci, bem "aloprados", "mensalão" e outros já voltaram a recheiar suas respostas aos entrevistadores, atirando em vala comum escândalos e acusados – independentemente da conclusão de inquéritos e julgamentos.
Aliás, aparentemente a grande mídia mantém seu papel de patrocinadora do combate que está sendo preparado pelo PSDB. Em ambos os telejornais, Serra voltou a pregar a existência de "blogues sujos" patrocianados pelo PT, sem ser lembrado de que é preciso apontar os acusados, que é dele a responsabilidade de provar suas acusações - não o contrário.
O candidato passou parte da noite do dia 31 dando entrevistas a grandes portais e jornais sobre a história envolvendo a vida fiscal da filha Verônica. Nelas, abusou de termos como "delinquentes", "criminosos" e outros, fartamente repetidos pelos seus gladiadores para espalhar a ideia de que um governo Dilma estará irremediavelmente colocando o país a mercê de bandidos.
E mais ainda: a filha de Serra estampa os dois principais jornais da capital paulista, Folha e Estadão. O conteúdo das matérias, porém, é quase uma confissão de que ambos forçaram a mão para causar impacto: os dados da moça foram apenas "acessados", a pedido da própria, que inclusive pagou a taxa exigida pela Receita para executar o serviço. Portanto, a história não deveria ser notícia e foi transformada em verdadeira arena para o embate.
Conhecendo a truculência com que Serra e o PSDB trata seus desafetos - professores e policiais mau pagos, por exemplo - é possível prever que haverá "sangue". E que a apresentação de propostas, o debate de ideias, a comparação entre biografias e até mesmo a exposição de pontos francos de um e de outro candidato, dará lugar ao equivalente a socos, chutes e bordoadas, num verdadeiro - e lamentável - vale-tudo.
Hora da virada? Sem dúvida. O horário político da TV e do rádio deve virar, de agora em diante, um novo programa de baixaria e ataques de todo tipo. Que soe o gongo.
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