quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Com apoio da mídia, Serra parte para o vale-tudo eleitoral

Conhecendo a truculência com que Serra e o PSDB trata seus desafetos - professores e policiais mau pagos, por exemplo - é possível prever que haverá "sangue". E que a apresentação de propostas, o debate de ideias, a comparação entre biografias e até mesmo a exposição de pontos francos de um e de outro candidato, dará lugar ao equivalente a socos, chutes e bordoadas, num verdadeiro - e lamentável - vale-tudo.

A noite de 31 de agosto deverá entrar para os arquivos desta corrida presidencial como a "hora da virada" da campanha de José Serra ao Planalto. Em duas entrevistas - ao SBT e à Globo - o tucano deu sinais evidentes que vai usar do que estiver ao seu alcance - o que pode ser também chamado de "apelar" - para tentar reverter a tendência quase vertical de queda nas pesquisas.

Por Fábio M. Michel, Rede Brasil Atual

Serra no Jornal da Globo

Sem nada melhor para apresentar, tucano abre temporada de golpes baixos, sempre contando com o apoio da grande mídia

Sem ter conseguido ampliar a preferência pela sua candidatura, agora opta nitidamente por tentar criar no eleitorado a rejeição à sua principal oponente, Dilma Rousseff. Serra já aproveitou a "notícia" sobre a quebra de sigilo fiscal da filha do candidato, Verônica Serra, para responsabilizar Dilma, sua campanha e todo o PT.

Nem mesmo a nota oficial da Receita e da servidora acusada, de que a própria Verônica havia requerido cópias de sua declaração foram aceitas. "É mentira, armação". Aliás, nada mais será verdade para Serra, se o que se disser vier a ser usado

Foi além. Lembrou um dos mais tristes episódios eleitorais da Nova República, quando o então candidato Fernando Collor revirou a família do seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, e revelou a existência de uma filha do metalúrgico fora do casamento. Explorado à exaustão pela imprensa oportunista de sempre, o caso foi um golpe mortal na candidatura de Lula, que acabou nocauteado no segundo turno.

Serra agora afirma que o PT usa táticas que aprendeu com um de seus adversários mais ferozes e já adianta que "se não tivesse a expectativa de vencer, eu ficaria horrorizado com o que poderia acontecer com o Brasil."

A tática agora parece ser a de instalar novamente o clima de medo, o de ser o protetor do país contra os malfeitores da nação. Nomes e "entidades" como José Dirceu, Palocci, bem "aloprados", "mensalão" e outros já voltaram a recheiar suas respostas aos entrevistadores, atirando em vala comum escândalos e acusados – independentemente da conclusão de inquéritos e julgamentos.

Aliás, aparentemente a grande mídia mantém seu papel de patrocinadora do combate que está sendo preparado pelo PSDB. Em ambos os telejornais, Serra voltou a pregar a existência de "blogues sujos" patrocianados pelo PT, sem ser lembrado de que é preciso apontar os acusados, que é dele a responsabilidade de provar suas acusações - não o contrário.

O candidato passou parte da noite do dia 31 dando entrevistas a grandes portais e jornais sobre a história envolvendo a vida fiscal da filha Verônica. Nelas, abusou de termos como "delinquentes", "criminosos" e outros, fartamente repetidos pelos seus gladiadores para espalhar a ideia de que um governo Dilma estará irremediavelmente colocando o país a mercê de bandidos.

E mais ainda: a filha de Serra estampa os dois principais jornais da capital paulista, Folha e Estadão. O conteúdo das matérias, porém, é quase uma confissão de que ambos forçaram a mão para causar impacto: os dados da moça foram apenas "acessados", a pedido da própria, que inclusive pagou a taxa exigida pela Receita para executar o serviço. Portanto, a história não deveria ser notícia e foi transformada em verdadeira arena para o embate.

Conhecendo a truculência com que Serra e o PSDB trata seus desafetos - professores e policiais mau pagos, por exemplo - é possível prever que haverá "sangue". E que a apresentação de propostas, o debate de ideias, a comparação entre biografias e até mesmo a exposição de pontos francos de um e de outro candidato, dará lugar ao equivalente a socos, chutes e bordoadas, num verdadeiro - e lamentável - vale-tudo.

Hora da virada? Sem dúvida. O horário político da TV e do rádio deve virar, de agora em diante, um novo programa de baixaria e ataques de todo tipo. Que soe o gongo.

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