Do G1, com informações do Jornal Nacional
O empresário Rubnei Quícoli, que acusou pessoas ligadas à ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra de tráfico de influência e cobrança de propina, admitiu ter ameaçado integrantes do governo com a revelação do suposto esquema.
“A ameaça feita por mim foi apenas assim: ou você faz ou não faz e adeus. Essa é a minha ameaça. Se eu receber um e-mail desse, ameaçador, eu vou na Justiça. Faço um boletim de ocorrência e entro para dar esclarecimento porque estou recebendo aquele tipo de ameaça, que eles dizem que foi ameaça”, disse Quícoli.
Em um e-mail enviado em 1º de fevereiro, ele reclama da taxa de R$ 240 mil, dividida em seis parcelas de R$ 40 mil, supostamente cobrada pela empresa Capital para viabilizar um empréstimo que ele afirma ser de R$ 9 bilhões. “Ele diz ainda esperar que o conteúdo do e-mail chegasse às mãos da então ministra Dilma Rousseff e da secretária Erenice Guerra.
"Espero de coração que esse e-mail chegue nas mãos da Dra Erenice e a Ministra Dilma. Se vcs não fizerem chegar, eu faço chegar, não só este como todos que eu enviei em 24 horas”, disse o consultor.
A documentação sobre o suposto pedido de propina apresentada por Rubnei Quícoli tem uma sequência: em dezembro do ano passado ele recebe um contrato da empresa Capital, de Saulo Guerra, filho de Erenice Guerra, onde fica claro o pedido de pagamento para facilitar a aprovação do empréstimo no BNDES. Quícoli representava uma empresa que pedia R$ 9 bilhões para um projeto de energia solar no Nordeste. A empresa teria se recusado a pagar propina. Quando achou que tinha provas do pedido de propina, Quícoli teria passado a ameaçar funcionários da Casa Civil.
Em um dos e-mails, de 4 de janeiro, Quícoli diz a Vinícius Castro, então assessor da Casa Civil: “Ou faz isso acontecer, ou se tornaremos opositores deste governo.” As mensagens eletrônicas têm vários erros de português.
Em outro e-mail, de 2 de fevereiro, diz a Luiz Claudio Ourofino que não tem nada a perder, que tem boca para falar e dá um ultimato: quer a resposta sobre a aprovação do projeto antes de 2 de fevereiro. Em outra mensagem, afirma que vai retirar o projeto do BNDES e ameaça denunciar aos jornais.
Essas ameaças teriam dado resultado. Em 6 de fevereiro, o empresário anuncia aos sócios da EDBR que um acordo teria sido alcançado em reunião com Marco Antonio Oliveira, tio de Vinícius (ex-servidor da Casa Civil) e ex-diretor dos Correios.
Menos de um mês depois desse acordo, uma carta-consulta do projeto da EDBR foi protocolada no BNDES. Mas, em 29 de março, o empréstimo foi negado pelo banco estatal. Isso porque a empresa teria porte incompatível com o empréstimo.
Quícoli afirma então, que, para salvar o negócio, Marco Antonio pediu R$ 5 milhões para campanhas eleitorais. A EDBR não teria aceitado. Esta semana, Quícoli cumpriu a ameaça e tornou pública o suposto esquema.
O consultor Rubnei Quícoli tem histórico de problemas com a Justiça. Foi levado sete vezes para delegacias. A primeira passagem foi em 1987, por receptação de produtos roubados. Em outra ocasião, foi detido com dinheiro falso. A última detenção, em 2005, foi por desobediência à ordem judicial. Condenado pela Justiça, ficou preso dez meses em dois presídios.
Ele afirmou que a Casa Civil não checou seu histórico. “A Casa Civil, sabendo que estava tratando comigo direto, porque não checou minha vida antes de chegar num resultado desse? Porque eu chequei a vida de todo mundo lá.”
De acordo com a assessoria Casa Civil, cópias dos e-mails foram enviados para o Ministério da Justiça, a fim de que sejam utilizadas na investigação do caso pela Polícia Federal, solicitada pela ex-ministra.
Segundo informou a assessoria, foi solicitada à área jurídica da Casa Civil uma análise da conduta dos servidores que receberam os e-mails, e, por enquanto, não serão tomadas medidas administrativas contra eles. O G1 buscou localizar o ex-assessor Vinícius, mas não obteve contato.
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