quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Descaminhos perigosos

Conversei com jovens que votaram em Marina Silva, no primeiro turno, e agora defendem Dilma contra Serra. Porque esta variação na escolha?

E agora, no segundo turno? “Agora vamos eleger a Dilma - que assegura a continuidade do programa de Lula e afasta o perigo da volta ao domínio da direita no Brasil. E esperamos que Marina volte a ocupar uma função na luta em defesa do Ambiente. Ficamos decepcionados por ela não declarar o seu voto na Dilma, agora que temos de escolher entre o que era o antes e o depois de um Governo popular e democrático no Brasil. Afinal ela agora ficou de fora, sem tomar posição no processo político de transformação do país que tem sido favorável aos brasileiros em geral. Omitiu-se .”

Dizem eles que Marina cresceu politicamente coerente com o programa do governo Lula e tem uma imagem com a qual se identificam “por sua simplicidade e aparente humildade, de quem nasceu muito pobre e venceu mil dificuldades para se tornar uma cidadã defensora do ambiente, na Amazônia – onde trabalhou pelo movimento liderado por Chico Mendes – e ocupou com coragem o posto de Ministro do Ambiente no Governo Lula”. Tem uma aura romântica que simboliza coragem, firmeza e humanismo. O pedido de demissão do cargo ministerial teve causas um tanto enevoadas que sugerem independência pessoal de quem não encontrou força institucional para fazer Justiça no processo judicial que deveria condenar os fazendeiros responsáveis pela morte de Dorothy Stein à cadeia.

E a figura de Serra, o que simboliza? Os jovens respondem com rapidez: “Serra lembra o governo de FHC que vendeu a mais valiosa empresa do Estado – a Vale – e alimentou um deslumbramento dos mais ricos com negócios fraudulentos enquanto distribuía cestas básicas e bolsas família como esmolas sem qualquer ligação com um plano de desenvolvimento que integrasse as populações marginalizadas na sociedade civil. Serra tem a imagem do velho poder que manteve o Brasil no atraso até que Lula abriu o caminho da libertação democrática.”

E agora, no segundo turno? “Agora vamos eleger a Dilma - que assegura a continuidade do programa de Lula e afasta o perigo da volta ao domínio da direita no Brasil. E esperamos que Marina volte a ocupar uma função na luta em defesa do Ambiente. Ficamos decepcionados por ela não declarar o seu voto na Dilma, agora que temos de escolher entre o que era o antes e o depois de um Governo popular e democrático no Brasil. Afinal ela agora ficou de fora, sem tomar posição no processo político de transformação do país que tem sido favorável aos brasileiros em geral. Omitiu-se .”

Achei interessante assistir, no programa televisivo “Globo Painel” no dia 17, o debate entre quatro especialistas em opinião pública e publicidade eleitoral levantaram essa questão de uma maneira tão distante da realidade, baseada em muitos dados estatísticos e teóricos oferecidos pelas várias pesquisas Data-Folha e outras, concluindo que os votos dados à Marina devido aos seus predicados individuais agora serão transferidos para Serra que, segundo eles, “tem mais curriculum político para ser Presidente e sempre fez uma campanha personalista”.

Claro que a conclusão só poderia ser elitista (vindo na campanha que a midia promoveu a favor de Serra) e insensível aos valores do novo eleitor que foi formado sob os efeitos do Governo Lula e da luta que se consolidou durante a ditadura valorizando a consciência de cidadania. Confundiram valorização das características individuais com personalismo puro e simples que é ferramenta da elite autoritária. Erro grosseiro para quem tem tanta informação sobre os perfis dos eleitores. O coordenador do programa reconheceu, em parte, que os analistas estão distantes da realidade e, dentre os jornalistas, só os repórteres que estão nas ruas conseguem perceber. Aos poucos alguns profissionais despertam.

A seriedade com que gente ainda jovem vai às urnas sobressai diante da campanha maledicente, desonesta, difamadora, que a direita faz para promover o Serra. A limpeza que mal começou com a Ficha Limpa será aprofundada nas futuras eleições e o combate ao baixo nível de campanhas proporcionará aos analistas, que medem com régua e esquadro a transformação mental dos eleitores, desenvolverem as suas observações a partir do contacto direto com os cidadãos. As estatísticas serão úteis para o cruzamento de dados e contabilidade geral dos vários fenômenos apurados, mas não explicam o peso do romantismo e idealismo que leva grande parte da população a escolher os seus candidatos ao Governo. A necessidade de um ambiente não só natural, mas principalmente humano, seja implantado na sociedade como base do desenvolvimento nacional.



* Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.

 

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