O saudoso escritor, José Saramago, numa de suas últimas visitas ao Brasil fazia troça com a chegada do e-mail em seu dia a dia, dizendo que brincava com a sua mulher referindo-se à novidade virtual - o Emilio. Assim se referia à companheira: “Já avistastes o Emilio?”. Hoje, outubro de 2010, início da primavera Brasil nós somos invadidos por uma novidade que equivocadamente foi batizado como “e-mail falso”. Não é bem isso o que tem acontecido. Não estamos sendo agredidos por “e-mails falsos” - no singular ou plural - uma vez que ele é bem verdadeiro. O seu conteúdo, sim, é repleto de falsidades, covardias e perfídias. Para o querido Saramago, nada mais lembrava trevas do que o nome, Salazar, que o remetia a um passado tenebroso. Para nós, a maioria dos brasileiros com mais de quarenta anos, nada mais aterrorizante do que lembrar que, um dia, fomos governados por um nefasto presidente, por nome Emílio Garrastazu Médici, que traz à luz da atualidade cenas de muita dor e humilhação. Sendo assim, em homenagem ao indispensável escritor da língua portuguesa, sugiro uma simbiose da palavra Emílio usada no genérico, rebatizando o tormento que insulta a nossa memória, como sendo Emílio Canalha.
Quem é Emílio Canalha neste espetáculo de luzes e trevas? É aquele instrumento torpe, aparentemente inominável que tripudia sobre o direito sagrado da vida, ou sobre o privilégio de uns poucos que um dia ousaram lutar contra a tirania dos Médicis, Pinochets ou Vilelas. Além disso, Emílio Canalha é utilizado clandestinamente, visando tumultuar a consciência de milhares de inocentes desprovidos de defesa, que lutam bravamente procurando o melhor significado para as suas vidas, ou enfrentam a pior de todas as formas com que a morte se apresenta - a fome. Emílio Canalha deve ser atacado com todas as armas, porque nada é mais revolucionário do que a informação, como diriam os poetas de todas as línguas.
Jair Alves - dramaturgo - outubro de 2010
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