sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Nem o mercado financeiro acredita mais nas chances de Serra

Durou muito pouco o entusiasmo do mercado financeiro com a possibilidade de uma virada no segundo turno da eleição presidencial. O acirramento da disputa levou muitos investidores a refazer suas apostas na semana passada para considerar a possibilidade de uma vitória do tucano José Serra. As novas pesquisas, porém, fizeram esse otimismo desaparecer a nove dias da eleição.

Os sinais mais visíveis dessa inflexão apareceram no mercado de juros futuros, em que os investidores negociam contratos para se prevenir contra variações inesperadas nas taxas de juros. As taxas negociadas nesse mercado caíram por dois dias na semana passada, logo depois da divulgação de uma estranha pesquisa CNT/Sensus que indicou Serra e a candidata Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudnado, quase empatados.

Mas os juros voltaram a subir nesta semana. Dúvidas sobre o comportamento da inflação foram o principal motivo – mas analistas também apontaram a vantagem folgada de Dilma nas últimas pesquisas como um fator.

Contratos com vencimento em janeiro de 2012 eram fechados com taxa de juros equivalente a 11,44% antes do primeiro turno da eleição. A taxa desses contratos caiu para 11,22% na sexta-feira e subiu ontem para 11,34%.

Esse movimento reflete a crença dos investidores. Na opinião inicial de analistas, Serra, se eleito, faria menos investimentos sociais do que Dilma – o que beneficiaria o capital financeiro e, em tese, contribuiria para reduzir a taxa de juros e conter a inflação. É o receituário neoliberal.

Mas o oportunismo e as demagogias inacreditáveis de Serra durante a campanha pesaram contra a candidatura. Serra não apresentou um plano de governo e tem feito promessas atípicas para um tucano de alta plumagem, como a de aumentar o valor do salário mínimo para R$ 600 no dia da posse.

Serra ainda é visto pelo mercado como a garantia da ortodoxia. "O histórico de Serra aponta para uma política fiscal mais austera", diz Tony Volpon, um analista da corretora Nomura Securities em Nova York. "Dilma aumentaria a intervenção do governo na economia", escreveu o economista José Carlos Faria, do Deutsche Bank, em nota para clientes ontem.

Ainda assim, poucos analistas creem que Serra ainda possa superar Dilma e ser eleito em 31 de outubro. "A leitura do mercado está errada", afirma Christopher Garman, da consultoria Eurasia Group, ao falar sobre um possível otimismo sobre o candidato tucano.

Nota distribuída na terça-feira pela Eurasia estimou em 70% as chances de uma vitória de Dilma no segundo turno. Com a divulgação nesta sexta-feira (21) da pesquisa Datafolha – a última da série de quatro levantamentos da semana favoráveis a Dilma –, o mercado financeiro jogou a toalha.

Nenhum comentário:

Marcadores