Os erros na campanha Serra são muito grandes. O episódio da bolinha de papel revela o desespero de seus marqueteiros. Ao verem a derrota a sua frente, estão tentando de qualquer forma construir fatos que possam mudar as tendências.
Por Paulo Cézar da Rosa*
Na passagem para o segundo turno, a direita serrista trouxe seu arsenal tradicional. Aborto, criancinhas, Deus, terrorismo, ética na política…. Serra é do bem, todo o resto é do mal. Uma receita lacerdista completa.
Serra, que no primeiro turno era um candidato de centro-direita, aliado com a direita, e que buscava o apoio do centro, no início do segundo turno jogou-se, literalmente, nos braços dos demos e passou a se apresentar como o baluarte da direita radical. Diante de uma campanha Dilma paralisada nos primeiros dias do segundo turno, a linha “agressiva de direita” de Serra pareceu fazer sucesso e ganhar apoiadores. Seus marqueteiros confundiram o crescimento natural do segundo lugar que vai para o segundo turno com adesão ao discurso de campanha rebaixado e obscurantista.
Na verdade, a agressividade de sua campanha, combinada com a fragilidade de seu discurso, acabou afastando do tucano o eleitor que estava em dúvida entre Dilma e Serra. Ao invés de crescer, Serra estava afastando o eleitor de centro e empurrando-o para votar
Ao mesmo tempo que havia estes erros na campanha de Serra, a campanha Dilma conseguiu reagir. Primeiro, a própria Dilma foi para o ataque no primeiro debate. Ali, a militância lulista que ainda podia ter dúvidas quanto a disposição e qualidade da candidata, sentiu firmeza e capacidade de liderança
Desespero
Nos últimos dias, o que temos assistido é o mais puro desespero na campanha tucana. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, veio atacar o Vox Populi, depois atacou Lula…. Na entrevista na Globo, Serra mais pareceu candidato a Papa que a presidente. Parecia um santo. Neste contexto, a bolinha de papel foi o desdobramento da entrevista. Já era preciso tentar construir uma reversão das tendências de qualquer maneira.
Penso que não deu certo. Nem mesmo a tentativa da Globo desta quinta-feira à noite, apresentando um segundo objeto “transparente” (Muito apropriado isso de ser transparente, não é verdade? Assim não dá pra ver, não é mesmo?), pode reverter mais o efeito Rojas na imagem de Serra. O mais provável é que o tucano continue caindo ainda mais nos próximos dias. Mas todo cuidado é pouco.
Quando pousou de santo na entrevista da Globo, Serra também tentou combinar isso com a defesa da continuidade de Lula e com propostas sociais agressivas, como o 13º para o Bolsa Família e outras. Ou seja, a operação de marketing do Serrarojas já tinha um norte claro: era preciso rapidamente reposicionar o tucano não mais como aríete dos demos, mas como um candidato de continuidade do que Lula tem de bom e ao mesmo tempo vítima dos radicais do PT ….
Dramatização
A busca dos candidatos desesperados para tentar, diante de uma derrota certa, retirar a campanha do terreno da política e colocar no terreno emocional é recorrente na política brasileira. No ambiente ainda autoritário do Brasil, a cada eleição, seja ela municipal, estadual ou nacional, os atores em desespero tentam sempre a mesma jogada. Querem, num golpe de mão, numa dramatização midiática, roubar a cena, deslocar o adversário e vencer a eleição.
Nos próximos dias, é preciso ter muito cuidado. Penso que a campanha Serra não tem limites. Os tucanos são capazes de fazer qualquer coisa. São capazes de realizar atentados, se for o caso. A campanha Dilma tem razão. Eles estão atrás do Pré-Sal. Querem a riqueza do Brasil de volta pras mãos deles. E contra isso só há um remédio: defender a Dilma de modo tranquilo, sereno, com argumentos, sem xingar o adversário, identificando as dúvidas e angústias de cada eleitor em particular e trazendo todos para o lado do Brasil que quer seguir mudando.
No próximo dia 31, não basta vencer. É preciso vencer bem, com uma grande margem de votos. Do contrário, teremos um governo Dilma acossado pelo PIG e com audiência.
Os números da vitória
Nunca esqueça. Pesquisa não ganha eleição, o que ganha é voto na urna. Portanto, não dá para diminuir o ânimo. Mas as tendências são claras.
Desculpe despejar aqui tantos números, mas é preciso.
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Gráfico compara dados entre os institutos de pesquisa
Os números levados em conta são sempre os válidos. Conforme o Vox, Dilma subiu de 55 para 57% e Serra caiu de 46 para 43 entre os dias 11 e 18. O Sensus do dia 19 mostra a mesma tendência. Dilma subiu de 52 para 53% e Serra caiu de 48 para 47%. Já no Ibope, divulgado dia 20, o crescimento é bem maior: Dilma subiu de 53 para 56 dos votos válidos e Serra caiu de 47 para 43. O único instituto que não havia mostrado foi o Datafolha, com os mesmos 54 para Dilma contra 46 para Serra divulgados dia 08 e dia 15. (Ver números desde dia 22, que também confirmam a tendência).
De fato, houve um momento em que, aparentemente, a campanha do tucano poderia ter crescido e ultrapassado Dilma. As pesquisas revelam que esse momento foi por volta do dia 13. De lá para cá, Dilma reagiu e Serra caiu ou estagnou.
Na média de todos os quatro institutos, a diferença neste dia 20 era de 10%. Até dia 31, são mais dez dias de combate. Os tucanos têm de fazer pelo menos meio porcento dos votos dos brasileiros por dia, se quiserem vencer. Os apoiadores de Dilma, com gordura para gastar, precisam apenas resistir.
Penso, todavia que não é isso que vai acontecer. A campanha tucana, nos próximos dias, vai ficar cada dia mais nervosa e desesperada, enquanto o eleitor, calma e serenamente, vai atender ao chamado de Lula. O eleitor brasileiro vai votar em Dilma.
Estava escrito. Vai acontecer.
*Paulo Cezar da Rosa é jornalista e publicitário. Publicou o livro O Marketing e a Comunicação da Esquerda. É diretor da Veraz Comunicação e da Red Marketing, ambas sediadas
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