quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sem rumo, PSDB dependerá do desempenho de Dilma para se definir

No baralho do futuro do PSDB, as cartas decisivas são o valete e a dama: Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff (PT). Se a presidente eleita no domingo for mal no governo, ela acirra uma disputa que os tucanos têm tudo para manter sobre controle, entre o senador eleito por Minas Gerais, Aécio Neves, e o candidato derrotado José Serra, que teria então um argumento para tentar voltar ao centro da cena em 2014 – “Eu falei que ela iria mal”.

Por Raymundo Costa, no Valor Econômico

Do contrário, se Dilma for bem, o ex-presidente FHC estará à vontade para concluir uma articulação em andamento, a fim de fazer de Aécio o próximo candidato tucano. Nesse movimento, devem também ser considerados o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador Tasso Jereissati, que perdeu as eleições no Ceará, entre os principais.

Há uma compreensão geral, entre os tucanos, sobre o "até logo" de José Serra, no discurso em que reconheceu a vitória de Dilma. Além de estar "chateado" com o resultado da eleição, ele teve 43 milhões de votos, um resultado que não é nada desprezível, e tem ainda os compromissos pré-eleitorais que firmou com Geraldo Alckmin. Tem seu próprio grupo, em São Paulo.

Mas de uma coisa ninguém tem dúvida — Serra não vai aceitar passivamente um papel secundário. Está na política há quase meio século. Há a possibilidade de concorrer a prefeito de São Paulo, o que não é muito de seu agrado, ou reivindicar a presidência do partido, o que os mineiros também não veem com bons olhos.

Na sucessão tucana, prevista para março de 2011, Dilma também será uma carta decisiva: o melhor para o PSDB é se ela não propuser a reforma política, logo no início do mandato, pois isso implicaria que os tucanos tivessem que assumir já posições sobre assuntos que preferem "empurrar com a barriga".

Se deixar para depois, como em geral acontece com os presidentes da República depois da posse, os tucanos podem prorrogar por seis meses ou um ano o mandato de Sérgio Guerra (PE), e então darem a tacada que já é negociada internamente, mas ainda não tem resposta do principal interessado: FHC. Aécio quer.

O ex-presidente saiu em alta da eleição em São Paulo, onde foi o principal cabo eleitoral do senador eleito Aloysio Nunes Ferreira. Ele já recebeu sondagens, não deu resposta, mas demonstrou muito interesse sobre o futuro do PSDB. Fernando Henrique não quer uma guerra no partido, com o qual, aliás, anda muito chateado: acha que todos os tucanos ascenderam em seu governo, e no entanto pouco defenderam a história do partido.

O fator Aécio

"Quem não se dispuser a defender esse governo, eu não apoio mais", disse recentemente a um interlocutor habitual. FHC, nas conversas com os tucanos, defende a imediata reformulação do programa tucano, a reformulação dos diretórios, aproximação com movimentos sociais, sindicatos, aprofundamento da relação com a universidade e a modernização do partido com a ampla utilização de novas mídias.

Ele e o atual presidente do PSDB, Sérgio Guerra, acham que em 2012, à época da eleição municipal, os tucanos devem ter um nome já encaminhado à sucessão de Dilma Rousseff. Corrente majoritária pensa numa definição imediata, o que é muito pouco provável.

Se dois anos é muito tempo em política, quatro são uma eternidade. Mas hoje é possível afirmar que Aécio reúne um amplo leque de apoio que inclui, inclusive, políticos paulistas. O próprio Geraldo Alckmin já admitiu a outros tucanos que agora "é a vez do Aécio".

São duas as possibilidades do governador de São Paulo: concorrer à reeleição, a que ele parece mais inclinado, ou tentar novamente a Presidência, se o projeto Aécio Neves por algum motivo der errado. Tasso Jereissati disse a FHC que vai "jogar tudo" em Aécio, em 2014.

Caneladas

Desde a eleição de 1994, a escolha do candidato tucano é uma troca de caneladas. Naquele ano, FHC sentou-se com Mário Covas, Tasso Jereissati e Ciro Gomes e perguntou se algum deles iria disputar o cargo. Em caso negativo, ele iria.

Ciro olhou fixamente para Tasso: acreditava que a vez era do ex-governador do Ceará, muito embora FHC comandasse o processo vitorioso do combate à inflação. Em 2002, houve uma briga generalizada entre Serra, Tasso, Paulo Renato e FHC.

Ano passado, chegou a ser costurado um acordo pelo qual Aécio seria vice de José Serra. O tucano paulista, por sua vez, poderia acabar com a reeleição. Aécio também queria que Serra saísse pelo país, numa disputa de prévia entre os dois para a escolha do candidato. Nada disso aconteceu, nem Serra em algum momento convidou Aécio para vice em sua chapa.

Avaliam os tucanos: ocorreu o que desde o início se dizia que não deveria acontecer na campanha: a "vitimização" de Aécio Neves, o nome preferido de Minas Gerais, o que seria natural em se tratando do governador do estado, mas que foi permanentemente estimulado por ele, ao logo de todo processo.

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