domingo, 2 de janeiro de 2011

O País que Dilma recebeu das mãos de LULA: Pronto para se tornar potência!

Pronto para levantar voo

O País sofreu uma transformação profunda, mostrou capacidade de enfrentar crises e conseguiu entrar num ciclo de desenvolvimento sustentado

Yan Boechat e Adriana Nicacio
http://www.istoe.com.br/


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CÉU DE BRIGADEIRO
O Brasil saiu da turbulência econômica
mais forte do que entrou

Foram poucas as vezes em sua curta e conturbada história em que o Brasil vivenciou mudanças tão amplas e profundas quanto as da última década. Em seu mais longo período democrático, o País acompanhou o lento e gradual processo de inserção social de ampla parcela de sua população, que sempre viveu à margem de um Estado rico, porém historicamente desigual. Em apenas oito anos, mais de 25 milhões de brasileiros cruzaram a linha da pobreza e outros 30 milhões ascenderam à classe média. O desemprego, que sempre esteve entre as maiores preocupações do País, encerra 2010 com o menor índice de sua série histórica, chegando a impressionantes 5,7%. Tudo isso aliado a um aumento real da renda que hoje faz a classe C ser a maior consumidora de eletroeletrônicos do País e a maior compradora de imóveis. Números como esse chamam a atenção não só por sua dimensão, mas principalmente por mostrar a transformação econômica e social pela qual este país passou ao longo de dez anos. “O grande mérito do governo Lula foi ter baixado a taxa de juros. No começo dele, a taxa real estava em 10%, hoje está em 5%”, diz o economista e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira.

A redução dos juros foi, de fato, fundamental para o processo de transformação que o Brasil vem experimentando ao longo dessa década. Mas ela ocorreu em paralelo com uma mudança profunda na maneira de pensar o Estado. Pela primeira vez em décadas, a União passou a ter um papel de indutora da economia brasileira. A avidez em cortar custos, realizar superávits, enfim, tratar a máquina estatal como uma empresa privada, deu lugar à ideia de que cabe ao Estado estimular setores que não têm forças para crescer sozinhos e, também, oferecer segurança social e alimentar uma parcela da população que não tem condições para fazê-lo de forma própria. O grande exemplo disso, por certo, foram as medidas anticíclicas adotadas durante a maior crise financeira global desde a hoje mítica quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. “Lula mudou o papel do Estado no País. Em vez de manter o papel pró-mercado, usou a força estatal para alavancar o investimento”, diz o economista Francisco Lopreato, da Unicamp.

Com essa mudança de perspectiva, o Brasil viu, aos poucos, a tradicional fragilidade diante das crises externas transformar-se em um dos exemplos mundiais de como combater o sempre presente fantasma da recessão em épocas de tempestades econômicas. E, pela primeira vez, a população assistiu, com um misto de desconfiança e ufanismo contido, ao Brasil fazer parte do seleto grupo das nações mais poderosas do planeta. “O governo Lula atacou a crise de forma muito ativa e entramos em 2010 com uma expansão do crédito e uma situação de crescimento expressiva. A discussão agora é como manter essa trajetória”, diz Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban, a federação nacional dos bancos brasileiros. Só este ano, enquanto boa parte do mundo desenvolvido patina para crescer, o Brasil vai ver seu Produto Interno Bruto se expandir em mais de 7%. “É uma mudança de paradigma. Enquanto os europeus fazem cortes, e quanto mais cortam menos crescem, nós estamos discutindo se vamos crescer 7% ou 8%”, diz Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo.

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Da crise emergiu um gigante

Uma mudança e tanto. O processo de estagnação da economia brasileira foi tão longo que só agora uma geração inteira está conhecendo as benesses de uma expansão duradoura. Em qualquer setor que se analise, em qualquer segmento social que se comparem os números, em quase todos os indicadores, o saldo é extremamente positivo. Peguem-se, por exemplo, as exportações do agronegócio brasileiro. Em apenas oito anos, a venda de produtos para o Exterior pulou de US$ 24,8 bilhões para os atuais US$ 73 bilhões. Assim como o volume de financiamento destinado à agricultura familiar, que saiu de R$ 2,19 bilhões em 2002 para R$ 16 bilhões este ano. O computador pessoal já está presente em mais de 35% dos lares brasileiros, enquanto há oito anos não chegava a 15% deles.

Essa numeralha à qual são tão afeitos os economistas, analistas e estudiosos do desenvolvimento serve para traduzir de forma lógica um sentimento que não é palpável, quase abstrato até, mas que está presente de norte a sul do País. Pela primeira vez em décadas, o brasileiro está mais confiante com seu futuro, está mais feliz e, por mais controverso que isso possa parecer, está realmente se sentindo menos vira-lata em relação às nações com pedigree. Estivesse vivo hoje, é provável que Nelson Rodrigues voltasse ao tema e, quem sabe, decretasse o começo do fim de um complexo que ele traduziu com maestria no já longínquo ano de 1958.

Os frutos que estão sendo colhidos agora começaram a ser plantados há mais de um década e meia, ainda no governo do ex-presidente Itamar Franco. É indubitável a importância do Plano Real para o ciclo de desenvolvimento que o Brasil vive neste momento. Sem a estabilidade econômica conquistada a partir de 1994 – e o consequente controle da inflação –, pouco do que se comemora hoje seria possível. “Com inflação não se planeja nada. O sistema financeiro não dava crédito, olhava só para o dia seguinte e nós brincávamos que o longo prazo era uma semana”, conta Cristiano Souza, economista sênior do banco Santander. Os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, castigado por sucessivas crises econômicas internacionais, mostram que o processo de solidificação do plano foi difícil e custoso ao País. Para conseguir manter a inflação em taxas “aceitáveis” – inferiores a dois dígitos –, FHC precisou atuar com uma taxa de juros que quase sempre esteve acima dos 20% ao ano, causando prejuízos graves ao setor produtivo brasileiro. Fernando Henrique Cardoso foi muito criticado, principalmente no seu segundo mandato, mas é indubitável também que seu compromisso com a estabilidade da moeda e sua preocupação fiscal criaram um ambiente propício para as profundas mudanças que o País acompanharia nos dois governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Em 16 anos tivemos apenas três ministros da Fazenda, quando o tradicional era termos um a cada semestre. Isso mostra a estabilidade que o País conquistou”, diz Sardenberg, da Febraban.

O grande mérito de Lula, talvez, tenha sido a forma responsável com que tratou as conquistas de seus antecessores e principais adversários políticos. Ao contrário de outros momentos da história política brasileira, seja em tempos de democracia, seja em tempos de absolutismo, Lula não tratou de desconstruir o passado para criar um futuro a partir do zero. Aproveitou-se da estabilidade econômica herdada de Fernando Henrique Cardoso para, aí sim, dar início a uma estratégia de desenvolvimento poucas vezes utilizada por aqui. Ao ir contra a máxima de esperar o bolo crescer para depois repartir, Lula jogou fermento na economia brasileira. Ao iniciar o longo caminho da distribuição de renda com programa sociais acusados de assistencialistas, como o Bolsa Família, conseguiu injetar dinheiro em camadas da população que viviam absolutamente à margem da economia. Além disso, trabalhou de forma árdua para uma valorização real da renda do trabalhador brasileiro.Foi uma mudança sem precedentes e o resto é história.

Um país pronto para se tornar potência

A esperança agora é de que o Brasil de 2010 não tenha o mesmo futuro daquele de 1958, quando Nelson Rodrigues nos diagnosticou com o tal complexo de vira-latas. Como agora, o País vivia uma época de euforia. Foi um ano em que os brasileiros acreditaram estar entrando, enfim, na tão esperada modernidade. As fábricas cuspiam para as ruas o DKW-Vemag, que com suas 50% de peças nacionais mostrava a capacidade da indústria brasileira. Oscar Niemeyer começava a tirar do papel as curvas de concreto que deram forma a Brasília e João Gilberto, pela primeira vez, mostrava ao mundo aquela batida única, exclusiva, só dele, que viria a revolucionar toda a música brasileira. Este ano que acaba agora não tem, nem de longe, o glamour, a leveza e a fantasia que envolveram aquele finalzinho da década de 50.
Mas não tem também as raízes de uma escalada inflacionária e da dívida externa que iriam levar o País à bancarrota anos mais tarde. E nem as sementes de um processo conservador que desaguariam em um golpe militar violento. Ao contrário de 1958, 2010 não se encerra como um ano em que, de uma hora para outra, as esperanças de um país melhor surgiram trazidas por um grande salvador prometendo mudar tudo e todos. A grande diferença é que desta vez o processo de desenvolvimento é gradual e, ao que tudo indica, está calcado em alicerces firmes. Mas nem tudo é alegria. A outra grande diferença entre esses dois períodos marcantes da história brasileira é que o meio campo da seleção que disputou a Copa do Mundo da Suécia contava com Didi e Pelé, enquanto a de 2010 teve Júlio Baptista e Felipe Melo.

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