sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sujeira no NINHO

Depoimento complica a vida de Eduardo Azeredo, no caso “Mensalão tucano”

Mais um integrante do alto escalão do antigo governo de Eduardo Azeredo (PSDB), atual deputado federal, informou ter recebido ordens para repassar recursos dos cofres estaduais à agência do empresário Marcos Valério, a SMP&B, responsável pela campanha pela reeleição de Azeredo em 1998. O mensalão tucano foi denunciado pelo Ministério Público.

Em depoimento à Justiça estadual nesta quinta-feira (24), o diretor jurídico da empresa pública Comig (atual Codemig), Jolcio Carvalho Pereira, disse ter recebido por intermédio do presidente da Comig carta oriunda da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo determinando o repasse de R$ 1,5 milhão à agência de Valério, para o patrocínio ao Enduro da Independência, evento de motocross, às vésperas da eleição. Marcos Valério não compareceu à audiência.

O Ministério Público acredita que o destino real dos recursos foi a campanha de Azeredo, e não a organização do evento, que teria custado muito mais barato. Em depoimento, Jolcio disse ter advertido outros dirigentes da Comig para a necessidade da proposta seguir todos os trâmites de praxe e análise do setor jurídico da empresa, o que não aconteceu.

“A Secom alegou que tinha urgência. Na forma como foi feito, foi um caso excepcional”, disse o diretor da empresa, que atualmente continua como integrante da diretoria da Codemig. Além de Jolcio, o ex-presidente da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Ruy Lage, já disse durante audiência ter recebido ordens por escrito por passar mais R$ 1,5 milhão da estatal para a SMP&B, apesar de a conta da empresa pertencer a outra agência de publicidade.

As informações foram prestadas em depoimento à Justiça Federal em Minas na última semana, por meio de carta precatória do processo paralelo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema porque dois réus — Eduardo Azeredo e o seandor Clésio Andrade (PR) — têm foro privilegiado. Lage deveria ter prestado depoimento novamente nesta quinta à Justiça estadual, onde outros oito réus sem foro privilegiado respondem pelos crimes, mas não apareceu por motivos de saúde.

Quase nove horas

Nesta quinta, outras 12 testemunhas prestaram depoimento na 9ª Vara Criminal do Fórum Lafayette, em sessão que durou quase nove horas. O advogado Carlos Henrique Martins Teixeira obteve o direito de não prestar depoimento, por ter sido contratado por um dos réus no processo para defendê-lo em ação de cobrança na Justiça.

Com a manobra, o depoimento que Teixeira havia prestado antes à Polícia Federal perdeu força no processo. Suas revelações chegaram a ser destacadas pelo ministro do STF, Cezar Peluso, como prova de que Azeredo tinha conhecimento da origem ilícita dos recursos empregados em sua campanha.

O Ministério Público avaliou que a falta do depoimento não trará grande prejuízo à tese que defende. Isso porque os promotores não apostam mais em grandes revelações de testemunhas e acusados, mas no poder de convencimento das perícias realizadas pela Polícia Federal para comprovar o desvio de recursos para a campanha.

O MP busca confirmar a realização dos serviços relacionados à eleição por pessoas que receberam recursos da SMP&B, caso das testemunhas Alfeu Aguiar, Leopoldo Oliveira, Roberto Gontijo e Otimar Ferreira Bicalho, que prestaram depoimentos nesta quinta-feira.

Otimar, inclusive, disse ter ouvido de um dos coordenadores da campanha de Azeredo e réu no processo, Cláudio Mourão, que o partido estava com problemas para pagar fornecedores e, por isso, o vice-candidato Clésio Andrade buscaria um empréstimo junto a bancos mineiros.

Um dos parceiros da SMP&B na realização do Enduro da Independência, o empresário Helvécio Aparecido Ribeiro, afirmou em depoimento que, nos bastidores, o custo da realização do evento era estimado em cerca de R$ 400 mil. A SMP&B de Marcos Valério conseguiu R$ 3,5 milhões em patrocínio da Comig, Copasa e do Bemge a título de patrocínio, valor bem superior ao estimado nesta quinta.

A Justiça aguardará o cumprimento de cartas precatórias com depoimento de outras 10 testemunhas arroladas pelo Ministério Público. Somente depois disso serão convocadas as testemunhas de defesa dos réus e os próprios acusados. Por isso, não há qualquer estimativa de prazo para se chegar à sentença do processo.

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