segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Toninho do Diap: oposição não usará tática do confronto com Dilma

Mesmo sem o carisma e a popularidade de seu antecessor, a presidente Dilma Rousseff terá mais condições para aprovar duas importantes reformas que ficaram pelo caminho durante o governo Lula: a política e a tributária. Na avaliação do analista político Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho do Diap, Dilma encontrará uma oposição mais dócil e propositiva e uma base governista mais fiel e interessada na aprovação especialmente de um novo modelo eleitoral.

“Dilma entra em condição muito mais confortável. Não há desconfiança, não há especulação. A economia tem base sólida, é continuidade de um governo de sucesso. Além disso, tem uma base ampla para, querendo, implementá-las”, avalia o jornalista e diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Para ele, a oposição percebeu que a tática do enfrentamento capitaneada nos últimos oito anos por PSDB e DEM foi rejeitada nas urnas e adotará um discurso mais voltado para o confronto de idéias e o aperfeiçoamento das políticas públicas. Essa mudança de estratégia, segundo Antonio Augusto, ocorrerá por dois motivos: o encolhimento da bancada oposicionista no Congresso e a mudança de perfil de suas principais lideranças.

Expoentes da tática do confronto, como os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM), Heráclito Fortes (DEM-PI), Mão Santa (PSC-PI) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), por exemplo, não conseguiram se reeleger, e vão dar lugar a oposicionistas com perfil mais moderado, como o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG).

Ética da responsabilidade

“A nova oposição quer fazer o diálogo, o enfrentamento em bases programáticas, não em mera disputa eleitoral”, considera.

“A oposição será menos virulenta que a anterior. Ela vai se apoiar muito nos governadores para fazer negociação, e não vai entrar na aventura de fazer o enfrentamento pelo enfrentamento, porque viu que o resultado não foi o esperado. Tende a se pautar pela chamada ética da responsabilidade. Se estiver de acordo com o programa de seu partido, vota, buscando aperfeiçoar a política pública”, acrescenta.

Para fazer valer sua força sobre o Congresso, Dilma terá de evitar a repetição de erros nos quais Lula incorreu nos últimos oito anos, adverte o analista. A receita, segundo ele, deve passar por três pontos centrais: não tolerar a prática de chantagem por parte de parlamentares e partidos aliados, descentralizar o trabalho dos líderes governistas e rever a coordenação política com o Congresso.

Antonio Augusto defende a participação do ministro das Relações Institucionais na formulação das políticas públicas, coisa que, na avaliação dele, não ocorreu em nenhum momento no governo Lula.

“O ministro defendia algo que não conhecia. Não participava da formulação da política pública cuja aprovação tinha de negociar e defender. Se tivesse participado da formulação da política pública, ele teria condições de identificar e contornar as dificuldades por meio do diálogo”, acredita.

PMDB

Nesta entrevista ao Congresso em Foco, o diretor do Diap diz que o PMDB terá uma situação menos confortável para fazer cobranças ao governo exatamente por ocupar a vice-presidência da República, com o ex-deputado Michel Temer (PMDB-SP).

“A base do governo é tão confortável que pode aprovar matérias na Câmara dispensando a participação do PMDB. O PMDB terá 77 deputados. Se você exclui o PMDB do cálculo, sobram mais de 300 parlamentares na base do governo na Câmara. O partido não vai ser amador a ponto de demonstrar que é dispensável nessa composição”, observa.

Novo e velho Congresso

Ainda na entrevista, Antonio Augusto de Queiroz também faz um balanço sobre a legislatura que se encerra e a compara com o novo Congresso. A atual legislatura, segundo ele, apesar de também ter sido rica em escândalos políticos, aprovou avanços importantes na legislação para o cidadão brasileiro, como uma política permanente para o salário mínimo, a reestruturação de carreiras no serviço público e a ampliação da licença-maternidade e a Lei da Ficha Limpa.

O novo Congresso, na avaliação de Antônio Augusto, terá menos qualidade em seus quadros do que o atual, uma representação jamais vista de empresários e uma oposição mais propositiva. Para ele, a perda de qualidade pode ser compensada pela maior fidelidade partidária.

Esta será a primeira legislatura a começar sob as regras que inibiram o troca-troca entre os partidos, estratégia patrocinada pelo Executivo, com oferta de cargos e liberação de verbas, para enfraquecer os oposicionistas e reforçar as fileiras governistas.

 

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