quarta-feira, 13 de abril de 2011

Agripino admite que chamar PFL de "Democratas" foi fraude

Às voltas com a perda de quadros para o PSD — novo partido do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab — o presidente do DEM, senador José Agripino Maia, tenta dar novo rumo ao seu partido. Em entrevista ao Congresso em Foco, ele defendeu a volta às bandeiras do liberalismo econômico e confessou que a troca de nome e ‘ideologia’ do ex-PFL foi um tiro pela culatra.

Desde que assumiu o partido, tentando apagar os diversos focos de incêndio que encontrou, Agripino não tem conseguido um minuto de sossego. O emagrecimento do DEM oposicionista, diante do PFL governista o amargura. “No Brasil, infelizmente, partidos de oposição têm bem menos chances de sobrevivência”, constata. “Esse é o preço que nós pagamos por sermos oposição”.

Ao mesmo tempo em que defende a permanência na oposição, o senador lamenta a derrota de José Serra – e de seu próprio partido – nas eleições do ano passado. “Se José Serra tivesse ganho a eleição presidencial, esse PSD não estaria em cogitação. Como nós perdemos, o prefeito Kassab está abrindo essa perspectiva, em função de um interesse legítimo que ele tem na política paulista para se fortalecer através de um partido que ele deseja criar”.

Apesar de amargar o caminho trilhado pelo partido, Agripino diz que não há outra opção para o DEM. Na avaliação do senador, o erro cometido foi justamente querer abrandar o discurso e as diferenças do DEM como partido. A começar pela troca do nome, que tirou da sigla a referência de que o partido defende o liberalismo econômico. Ou seja, defende a interferência mínima do Estado na economia, um capitalismo exercido sem maiores barreiras, uma máquina pública enxuta.

Ao trocar de sigla, o DEM escamoteou as suas convicções ideológicas. “Eu sei que essas ideias correspondem ao modo de pensar de um nicho da sociedade. Nós temos que representá-los”, defende Maia. É justamente por esse caminho que Agripino planeja reerguer a legenda.

Durante a entrevista, o presidente do DEM parece se esquecer das próprias mudanças realizadas na legenda da qual faz parte, e tece críticas à linha ideológica do PSD de Kassab. “O PSD é um partido que está sendo feito por Kassab, mas que vai ter integrantes não apenas do Democratas, mas de várias outros partidos. Até porque, como Kassab mesmo disse, não é de direita, nem de esquerda, nem de centro. Enfim, é um partido sem nitidez ideológica. Isso não lhe garante muito futuro”.

Em 1998, na reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, o PFL tinha 105 deputados. Hoje, o DEM amarga menos da metade desse número — precisamente 43 parlamentares no Congresso. O novo nome e o fraco discurso de oposição — ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao atual governo da presidente Dilma Rousseff — deixaram marcas, consideradas por muitos, irreversíveis no partido.

Ao que tudo indica, o período de declínio e crise do partido ainda não chegou ao fim. A baixa nos quadros do partido é uma ameaça constante, incentivada pelo assédio que o DEM vem sofrendo após a criação do PSD. Entre o grupo que abandonou o partido está o candidato derrotado a vice-presidente da República na chapa oposicionista de José Serra, Índio da Costa (RJ).

Sob o comando de São Paulo, Kassab era a vitrine que restava ao DEM depois da prisão e renúncia do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que arruinou seu governo e piorou ainda mais a reputação do seu partido ao ser flagrado liderando um dos maiores esquemas de corrupção de que já se teve notícia no país.

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