Às voltas com a perda de quadros para o PSD — novo partido do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab — o presidente do DEM, senador José Agripino Maia, tenta dar novo rumo ao seu partido. Em entrevista ao Congresso em Foco, ele defendeu a volta às bandeiras do liberalismo econômico e confessou que a troca de nome e ‘ideologia’ do ex-PFL foi um tiro pela culatra.
Desde que assumiu o partido, tentando apagar os diversos focos de incêndio que encontrou, Agripino não tem conseguido um minuto de sossego. O emagrecimento do DEM oposicionista, diante do PFL governista o amargura. “No Brasil, infelizmente, partidos de oposição têm bem menos chances de sobrevivência”, constata. “Esse é o preço que nós pagamos por sermos oposição”.
Ao mesmo tempo em que defende a permanência na oposição, o senador lamenta a derrota de José Serra – e de seu próprio partido – nas eleições do ano passado. “Se José Serra tivesse ganho a eleição presidencial, esse PSD não estaria
Apesar de amargar o caminho trilhado pelo partido, Agripino diz que não há outra opção para o DEM. Na avaliação do senador, o erro cometido foi justamente querer abrandar o discurso e as diferenças do DEM como partido. A começar pela troca do nome, que tirou da sigla a referência de que o partido defende o liberalismo econômico. Ou seja, defende a interferência mínima do Estado na economia, um capitalismo exercido sem maiores barreiras, uma máquina pública enxuta.
Ao trocar de sigla, o DEM escamoteou as suas convicções ideológicas. “Eu sei que essas ideias correspondem ao modo de pensar de um nicho da sociedade. Nós temos que representá-los”, defende Maia. É justamente por esse caminho que Agripino planeja reerguer a legenda.
Durante a entrevista, o presidente do DEM parece se esquecer das próprias mudanças realizadas na legenda da qual faz parte, e tece críticas à linha ideológica do PSD de Kassab. “O PSD é um partido que está sendo feito por Kassab, mas que vai ter integrantes não apenas do Democratas, mas de várias outros partidos. Até porque, como Kassab mesmo disse, não é de direita, nem de esquerda, nem de centro. Enfim, é um partido sem nitidez ideológica. Isso não lhe garante muito futuro”.
Em 1998, na reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, o PFL tinha 105 deputados. Hoje, o DEM amarga menos da metade desse número — precisamente 43 parlamentares no Congresso. O novo nome e o fraco discurso de oposição — ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao atual governo da presidente Dilma Rousseff — deixaram marcas, consideradas por muitos, irreversíveis no partido.
Ao que tudo indica, o período de declínio e crise do partido ainda não chegou ao fim. A baixa nos quadros do partido é uma ameaça constante, incentivada pelo assédio que o DEM vem sofrendo após a criação do PSD. Entre o grupo que abandonou o partido está o candidato derrotado a vice-presidente da República na chapa oposicionista de José Serra, Índio da Costa (RJ).
Sob o comando de São Paulo, Kassab era a vitrine que restava ao DEM depois da prisão e renúncia do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que arruinou seu governo e piorou ainda mais a reputação do seu partido ao ser flagrado liderando um dos maiores esquemas de corrupção de que já se teve notícia no país.
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