terça-feira, 2 de agosto de 2011

Mesmo com provocações a Dilma, Jobim deve continuar na Defesa

Auxiliares da presidente Dilma Rousseff disseram nesta segunda-feira (1) ser improvável a demissão do ministro da Defesa, Nelson Jobim. Na semana passada, em entrevista a um portal de notícias, ele declarou ter votado no seu “amigo íntimo” e adversário da presidente, José Serra, na disputa presidencial de 2010.


Dilma, segundo essas autoridades, reprovou a fala, classificada no Palácio do Planalto como "infeliz", bem como não tem gostado de outras manifestações do ministro. Mas a presidente não pensa em demissão, o que lhe poderia trazer fama de antidemocrática.

A eventual demissão do ministro envolve interesses que Dilma ainda avalia e sob os quais está formando opinião. São interesses que vão da tentativa revanchista de transformar a Comissão da Verdade num tribunal de julgamento a negócios bilionários na área de defesa que transcendem a compra dos novos caças da Força Aérea Brasileira (FAB), prevista para 2012.

Entre interlocutores da presidente e do ministro, essa é a única explicação visível para o noticiário recorrente sobre a queda de Jobim. É fato que os dois, ambos de temperamento forte, não tiveram bom início na transição. Hoje, no entanto, têm projetos sensíveis encaminhados.

Jobim, por exemplo, tem uma reunião marcada com o PSDB: quer apoio dos tucanos para aprovar no Congresso a criação da Comissão da Verdade nos termos em que ela foi negociada com as Forças Armadas. Pelo acordo, as famílias dos desaparecidos políticos terão acesso à memória do que ocorreu com seus parentes. Já os militares que testemunharem poderão ser processados criminalmente, como quer parte da esquerda.

No que se refere aos contratos e acordos militares, o contencioso Brasil-EUA voltou a crescer. No próximo ano, o governo escolherá os caças para reequipar a Aeronáutica. As chances do Super Hornet americano continuam pequenas, mas outros conflitos entraram em cena.

Brasil e Colômbia pretendem assinar um acordo militar, no próximo dia 4, para o patrulhamento de 50 quilômetros de cada lado da fronteira. O objetivo é o combate ao tráfico de drogas, de armas e aos crimes ambientes. Algo como já ocorre hoje com a Bolívia, por exemplo, e que posteriormente se pensa em estender à Venezuela.

Mas somente as forças dos dois países participariam das ações: além dos militares, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e afins. Ou seja: não participariam forças externas aos países fronteiriços, o que poderia significar a retirada dos Estados Unidos da região, que mantêm bases e estreitas relações com a Colômbia. Além disso, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) seriam avisadas.

O Brasil também decidiu reativar a base de Alcântara, no Maranhão, mas os norte-americanos não estão incluídos no projeto. Recentemente, em Itaguaí, Dilma cortou a primeira chapa de aço do submarino nuclear – parceria brasileira com a França. Os três comandantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica, além do chefe do Estado Maior Conjunto) apoiam a permanência de Jobim. Mas todos, inclusive Jobim, consideram que sua declaração foi "desnecessária", como disse o secretário-geral das Presidência, Gilberto Carvalho, e que esse é um assunto da presidente.

No PT, há quem considere a eventual demissão de Jobim a verdadeira "caça às bruxas" a que se referiu nos últimos dias o ministro Gilberto Carvalho, ao afirmar que Dilma não faria demissão em massa de aliados suspeitos de corrupção. No caso, seria uma discriminação ideológica.

Mais entrevista

Nesta segunda-feira, ao participar do programa "Roda Viva", da TV Cultura, em São Paulo, Jobim negou estar em crise com Dilma e disse que não pretende deixar o cargo. Jobim classificou sua relação com Dilma como "ótima" e afirmou que está no governo "por prazer".

O ministro fez vários elogios à presidente, ao ser questionado sobre sua eventual saída do governo federal. "Ela [Dilma] é extraordinária. Minha relação com ela é ótima, não há nenhum problema. ela tem grande visão de Estado, visão de futuro", declarou na entrevista. "Tenho muito o que fazer [no governo]", desconversou Jobim.

O peemedebista minimizou o impacto da declaração sobre seu voto em 2010. "Todo mundo sabia das minhas relações com Serra", disse, citando que é amigo do ex-governador tucano há muitos anos. "Era amigo íntimo de Serra. Ele foi meu padrinho de casamento, morei com ele, aprendi economia com ele em 1983", relatou.

Há quatro anos no Ministério da Defesa, Jobim disse ter sido convidado a permanecer no cargo mesmo tendo votado em Serra. "A minha relação dentro do governo é institucional, para tocar para frente um projeto de reorganização das Forças Armadas", declarou.

"Sou ministro por prazer e tenho desejo de continuar a fazer o que estou fazendo", afirmou. Jobim disse ainda que sua manutenção no cargo só depende de Dilma. Segundo o ministro, sua nomeação não foi para contemplar o PMDB no governo e não pode ser contada como da cota partidária.

“Idiotas”

Foi o segundo episódio em menos de um mês em que o ministro gerou constrangimento a Dilma. No início de julho, ao participar da comemoração dos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Jobim fez um discurso que foi interpretado como uma crítica ao atual governo. O pemedebista teria feito uma crítica indireta ao estilo de Dilma, segundo aliados da petista. "Nunca o presidente levantou a voz para ninguém. Nunca criou tensionamento entre aqueles que te assessoravam", disse Jobim sobre FHC.

A onda de boatos sobre a saída de Jobim do governo também aumentou por conta de uma frase do escritor Nelson Rodrigues que o ministro usou na mesma festa. "E nós precisamos ter presente, Fernando, que os tempos mudaram. Ele (Nelson Rodrigues) dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento".

Nos últimos dias, Jobim chegou a demonstrar sua insatisfação com o governo a integrantes da Executiva Nacional do PMDB. Os peemedebistas sabem que Jobim se ressente do fato de não estar mais presente nas principais discussões do governo, assim como ocorria na gestão de Lula. Mas não estão dispostos a se indispor com Dilma por Jobim.

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