quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Em depoimento no Senado, Lupi tenta resistir no cargo

Exatamente uma semana depois de depor na Câmara, nesta quinta-feira (17) foi a vez de o ministro Carlos Lupi participar de audiência na Comissão de Assuntos Sociais do Senado. O objetivo foi mais uma vez responder às denúncias que inundam os jornais e revistas sobre a relação do PDT com ONGs prestadoras de serviços do Ministério do Trabalho.



Geraldo Magela/ Agência Senado

 Lupi diz que se encontrou com Adair Meira em eventos públicos

O assunto que dominou a audiência foi o uso de uma aeronave pelo ministro durante uma viagem em 2009 para o estado do Maranhão.  Segundo acusações da imprensa, o avião teria sido pago pelo presidente da entidade Pró-Cerrado, Adair Meira, que tem grandes contratos com o Ministério do Trabalho.

A oposição acusou Lupi de ter mentido em depoimento na Câmara, ao se referir ao mencionado presidente da ONG. O ministro se defendeu dizendo que não disse não ter se encontrado com Adair Meira, muito menos que não o conhecia, mas que já o encontrara em eventos públicos, como o que aconteceu no Maranhão.

Mudança

A evolução da crise política trouxe uma mudança no comportamento de Lupi em relação à semana anterior, perceptível em todos os sentidos. Com voz mais baixa e uma fala muitas vezes na defensiva, Lupi demostrou sentir a crescente perda de apoio do partido do qual já foi presidente. O PDT  sinalizou recentemente já contar com sua substituição. Outros sinais poderiam tê-lo abalado, como o fato destacado pelo Senador Cristovam Buarque (PDT-DF) da ausência de senadores petistas na audiência - com exceção do “independente” Eduardo Suplicy (SP).

Com a fala mais enfática, coube ao senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), desnudar o que estava por trás daquela audiência, que reflete o momento político que vive o país. “A luta aqui é política. O objetivo central é atingir o governo. É atingir uma presidenta que é ex-guerrilheira e mostra ser uma governante capaz, que está baixando os juros, que está seguindo o caminho certo”.

“Estão exigindo a sua renúncia, ministro, porque o senhor é a bola da vez. O senhor tem que cair de qualquer jeito. Consideramos que não podemos aceitar esse tipo de investida. Não se trata da vossa excelência, mas de atingir cada vez mais o governo Dilma”. Para Inácio, o passo seguinte seria dizer que a presidente é conivente com a corrupção. “Temos que ter cabeça pra enfrentar essa onda política”.

Afinidades e diferenças

Em relação às palavras do senador do comunista, Carlos Lupi afirmou ter a mesma análise do atual quadro político. “O senador Inácio está perto da minha linha de pensamento, mais que colegas aqui de partido, mas entendo que isso seja democracia”. “Vejo a oposição toda semana pedindo a cabeça de ministro, mas ela tem que primeiro ganhar a Presidência da República”, completou.

O ministro se referia ao comportamento que dois dos três senadores do PDT apresentaram durante a audiência. Cristovam Buarque (DF) e Pedro Taques (MT) defenderam a saída do partido da base governista. “Diante dessas dúvidas que surgem, temos que pensar se não é hora do PDT apear-se do governo. Não vejo porque estarmos dentro do governo. Deveria apear e não indicar ninguém”, disse Cristovam.

Oposição

Já o comportamento da oposição na audiência demonstrou claramente a santa aliança na cruzada recente contra o governo Dilma. Cada senador de partido oposicionista, ao se manifestar, carregava em mãos algum jornal ou revista, como se fosse uma arma apontada para a vítima do momento, no caso, Carlos Lupi.

Álvaro Dias (PSDB-PR) apresentou denúncias publicadas durante a madrugada pelo site do jornal Estado de São Paulo, trazendo o dono da aeronave da polêmica viagem ao Maranhão. Nela, afirma que foi contratado pelo presidente da ONG Pró-Cerrado, Altair Meira. Dias apresentou também a reportagem da revista Istoé que acusa o Ministério de fazer “uma desenfreada” aprovação de novos sindicatos.

Já Demóstenes Torres (DEM-GO) usou de punho a revista Veja, com a primeira denúncia apresentada contra Lupi, além de citar também a matéria publicada no Estadão pela madrugada.

Depois de fazer uma reclamação da forma pela qual vem sendo tratado pela imprensa, que não lhe dá o devido direito de defesa, Carlos Lupi preferiu usar a ironia para se referir ao que está sendo submetido. Ex-dono de banca de revista, Lupi brincou ao final, “não sou contra os jornais. Como jornaleiro já vendi muitos jornais na minha vida, mas agora estou ajudando a vender mais, com tantas denúncias que eles publicam contra mim diariamente”.

De Brasília,
Kerison Lopes

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