segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Privataria Tucana: Mesmo uma CPI “não dará em nada”


Privataria Tucana

por Chico Duarte da Silveira, via e-mail

Acabo de ler o livro. Espantado, não tanto pela roubalheira em si, mas pela distância entre os fatos, agora comprovados judicialmente, e as suas versões publicadas na grande mídia. Não dá mais para discordar, por achar excessivo, do apelido PIG — partido da imprensa golpista. Agora soa até tímido, face ao exposto no livro.

A roubalheira em si sempre foi evidente. Bastava acompanhar o “emagrecimento forçado” das estatais para reduzir seus valores nos escandalosos “fluxos de caixa descontados”, método do thatcherismo inglês para vender empresas velhas e completamente depreciadas. O que nunca foi nosso caso, mas “vestiu como luva de pelica para a ladroagem demo-tucana”.

Inesquecível foi a reclamação das empresas clientes da CSN de que, pós privatização, o aço passou a ser vendido por sua cotação internacional, com aumento brutal. Qual teria sido o valor da CSN, mesmo pelo imoral “ adjusted cash flow”, com seus preços acima de seus custos, e sem os empréstimos que a situação anterior obrigava, isto nunca saberemos. Como também nunca, quem exatamente recebia “bribe” para manter essa subvenção estatal ao setores automotivo e de construção. O PIG até hoje elogia a competência dos novos proprietários…

Por este método, por exemplo, na Vale uma mina de ouro recém descoberta ficou “fora do cálculo do valor da privatarização” por não ser possível “estimar seu fluxo de caixa”. O livro deixa claro que “essas diferenças” foram acertadas por fora.

Perigosa é a expectativa de que a verdade, agora chancelada pela Justiça, leve a qualquer consequência. Mesmo uma nova CPI, que aprofunde a do Banestado, não dará em nada. E não foi esta CPMI que virou pizza. De suas 6.000 contas que totalizam US$30 bi, 1.000 foram em 2005 parar na Justiça, em processos onde abundam provas, e delações premiadas de doleiros já presos e condenados ( “farol da colina” ). Apesar de serem os menores dentre os menores (tucano de plumagem mais vistosa tinha método mais seguro que este posto a disposição da “turma do demo”), totalizando mísero US$1 bi, nem mesmo esses 1.000 processos serão julgados. A próxima notícia sobre os mesmos será dada quando eles prescreverem… .

Estranha esta “nossa justiça”. Pra não recuar muito, as “expropriações” feitas na 2a guerra mundial de ativos de alemães, italianos e japoneses ainda estão pendentes. Ela funciona pra ladrão de galinha e pra preto-pobre traficante pé de chinelo (e tão somente para impedir que o excesso de oferta de drogas cause queda dos preços, prejudicando o financiamento do caixa2 da próxima eleição). Acima do milhão, não existe crime pra ela. Se forçada por quem insistir em não compreender ou não aceitar tal fato, respondem com prescrição. É preciso entender o dito “… e aos inimigos, a Lei”. E isto só funciona com os juizes certos.

Copiamos quase tudo dos EUA. Menos eleição para juiz e delegado, que acabam por “ser eleitos” pelos eleitos dos demais poderes. A consequência é que, mesmo se por milagre forem eleitos políticos decentes no lugar destes que ai estão, não teremos outra solução que não a do tempo e das aposentadorias para corrigir o que, impropriamente, é chamado de Judiciário.

Assim, todas as ilegalidades cometidas e denunciadas nunca serão corrigidas. Um bom exemplo disto está nas concessões de transportes aéreos. Sempre que foi do interesse do poderoso da vez, a empresa foi “quebrada” e passada para empresários amigos. Pan Air, Cruzeiro do Sul,, Varig, Vasp, todas tem processos que, se julgados, resolveriam seus problemas ( a TAM e a Gol que se cuidem para estar sempre do lado das companias certas…).

Alguém acredita na hipótese da prisão do Serra ou de sua filha ou genro ou primo? Ou em anulação de contratos celebrados fora da Lei, como vários de privatarização? Nem mesmo a velhinha de Taubaté. Nesta nossa “república-do-rabo-preso”, onde todos colecionam provas contra todos, ou se mantem a impunidade geral ou acabam as instituições por falta de gente, solta, é claro.

Lamentável que este “momento de ouro” pelo qual passamos, com os preços relativos a nosso favor como nunca na história, com um até 2002 impensável respeito e prestígio internacional, encontre um “Brazil” entregue às instituições que temos, “seletivas” para dizer o menos.

A raiz do problema é o ódio visceral do povo por seus políticos. Povo que cobra, a vista, a cada eleição, mais caro por seu voto. E não dá pra comprar voto com grana de fundo partidário. Tem que ser caixa 2, dinheiro criminoso pra cometer mais um crime que permite mais um mandato de idêntico padrão . Exceções? Claro que existem. Costumam perder logo na primeira reeleição, mas existem. O problema é a total perda de credibilidade de nossas instituições democráticas.

O bandido não confia na polícia e nem mesmo no juiz. Sabe que se não matar, vai ser morto. A idade média, tanto dos mortos quanto dos que vão presos, cai a cada ano. Fingimos não ver o resultado disto tudo. Temos, já a algumas décadas, o recorde absoluto e relativo do número de mortos de nossa guerra civil crônica. Que matou muito mais que qualquer outra guerra.

Com muito esforço, e décadas de paciência, de baixo pra cima criamos um Partido dos Trabalhadores. Eleito, cumpriu a maior parte de suas promessas, especialmente as ligadas a fome, emprego e distribuição de renda. Para fazê-lo, entretanto, teve que “jogar o jogo” ou dele ficaria fora para sempre. Votações no Congresso custam dinheiro porque este é necessário para manter o mandato, simples assim. Inútil copiar o modelo e até mesmo os personagens usados para tanto pelo tucanato, Marcos Valério e o mensalão do ex presidente mineiro da tucanagem desenfreada. Como o PT comprou a contradição de jogar o jogo para poder mudá-lo, o que fez, paga agora o preço do descrédito e age com militantes de aluguel, como se fosse um “PTB qualquer” da vida. E vai ter que comprar voto como qualquer outro partido que exista de fato, ainda que por preço menor, vai ter.

Sob condições incomparavelmente melhores, matamos a Esperança. O ponto triste do Privataria Tucana foi ver até que ponto o PT apodreceu neste processo, como teve que “compor” pra não haver explosão na CPMI do Banestado, por exemplo. Como se aproximou e se beneficiou das privatizações havidas, e de seus personagens, não podendo agora bancar o que é justo, o legal. E não há nada para por no lugar. Bons quadros saíram. Gente que pegava até mal conhecer, assinando ficha e dando cartas dentro do partido. Pra não falar do “fogo amigo”, luta de punhais no escuro, por espaço, das várias correntes-partidos que o compõe.

Matar o que sobrou de Esperança em um país com a guerra civil que temos, historicamente nunca foi receita de sucesso. Não havendo mais caminhos, agudizar o crônico pode vir a ser a saída possível. Lembro de Angola e Moçambique, onde isto ocorreu, e tremo de medo. Afinal, a palma da minha mão é fina, já que trabalho com a cabeça. E, lá na Africa, o critério inicial foi este. Aplicado nos que não acreditaram no que estava havendo e resolveram, antes de fugir pro exterior, passar em casa pra pegar dinheiro e joias.

Só saiu quem foi do escritório pro aeroporto, e só com a roupa do corpo. Nada indicava que tal ocorreria de uma hora pra outra. Não havia organização, nem nada preparado. Simplesmente explodiu, sem nenhum controle. A PM local trocou de lado, passou a matar no outro lado. O Exército a seguiu. E deu no que deu. Antes disto, lá morria relativamente muito menos gente do que as que aqui continuam a ser mortas. E nenhuma das duas nações citadas tinha em sua história a nossa mais selvagem tradição, a de cortar a cabeça de nossos inimigos, herdada pelos portugueses dos índios que aqui viviam(?), antes de serem dizimados… .

Povo Cordial, é …? Tá certo!…

PS do autor -- Entretanto, continuo “Lulista roxo” e apaixonado pela Pres. Dilma, que ficará registrada como sendo sua obra prima. Ambos com credibilidade em alta, o que pode vir a ser uma saída. Na falta de Instituições, teremos que nos virar com um “salvador da pátria”. A História também não recomenda, mas dado que já recusou um terceiro mandato certo, por respeito à CF, graças a Deus por podermos contar com eles… (Eu estava errado em querer o terceiro mandato; possivelmente, e com sorte, tudo acima pode não passar de mais um erro. Tô torcendo por isto… Mas, todo alto executivo multinacional tem sempre seu passaporte em dia e mala feita; mora e trabalha perto de aeroporto, havendo sempre pronto e atualizado um “contingency plan” para esta eventualidade, oficialmente classificada como remota e improvável, mas sempre pronto e atualizado.

O Viomundo passa a publicar resenhas sobre o livro escritas por leitores.

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