sexta-feira, 30 de março de 2012

Lula: "Nunca mais farei a agenda alucinante e maluca que fiz"

 

Um dia após receber o resultado dos exames que comprovaram o desaparecimento do tumor na laringe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que seu maior medo era perder a voz. "Eu tinha mais preocupação de perder a voz do que de morrer. Se eu perdesse a voz, estaria morto”.


Em entrevista à Folha de S.Paulo, realizada nesta quinta-feira (29), num quarto do hospital Sírio Libanês, o ex-presidente comparou as sessões de químio e radioterapia —a uma "bomba de Hiroshima" e definiu os tratamentos como “arrasadores” . “A gente não sabe o que é pior, se a quimioterapia ou a radioterapia. Uns dizem que é a químio, outros que é a rádio. Para mim, os dois são um desastre. Um é uma bomba de Hiroshima e, o outro, eu nem sei que bomba é. Os dois são arrasadores”.

Ele se queixou das náuseas, reações comuns aos pacientes que passam pelo tratamento de tumores. “A boca não suporta nada, nada, nada, nada. A gente ouvindo as pessoas [que passam por um tratamento contra o câncer] falarem não tem dimensão do que estão sentindo”.

Quase 16 quilos mais magro e com a voz um pouco mais rouca que o normal, o ex-presidente ainda sente dor na garganta e diz que sonha com o dia em que poderá comer pão. “Mas acho que entramos na fase em que, daqui a alguns dias, eu vou acordar e vou poder comer pão, sem fazer sopinha. Vou poder comer pão com aquela casca dura. Vai ser o dia!”.

Lula emocionou-se ao lembrar da luta do vice-presidente José Alencar (1931-2011), que morreu de câncer há exatamente um ano. “Hoje é que eu tenho noção do que o Zé Alencar passou. [Fica com a voz embargada e os olhos marejados]. Eu, que convivi com ele tanto tempo, não tinha noção do que ele passou”.

O ex-presidente relatou que o pior momento dos últimos meses foi quando recebeu o diagnóstico da doença. “Vim trazer a minha mulher para um exame e a Marisa e o Kalil armaram uma arapuca e me colocaram no tal de PET [aparelho que rastreia tumores]”.

“Depois, fui para uma sala onde estava o Kalil e mais uns dez médicos. Eu senti um clima meio estranho. O Kalil estava com uma cara meio de chorar. Aí eu falei: 'Sabe de uma coisa? Vocês já foram na casa de alguém para comunicar a morte? Eu já fui. Então falem o que aconteceu, digam!' Aí me contaram que eu tinha um tumor. E eu disse: 'Então vamos tratar'.”.

Questionado sobre a busca por “ajuda espiritual’, ele afirmou que é uma pessoa de fé. Ele se definiu ainda como uma pessoa medrosa em relação à morte. “Medo, medo, eu vivo com medo. Eu sou um medroso. Não venha me dizer: 'Não tenha medo da morte'. Porque eu me quero vivo”.

Uma das principais mudanças que Lula anunciou após o fim do tratamento foi em relação ao ritmo de trabalho e de vida. “Uma coisa eu tenho a certeza: eu não farei a agenda que já fiz. Nunca mais eu irei fazer a agenda alucinante e maluca que eu fiz nesses dez meses desde que eu deixei o governo. O que eu trabalhei entre março e outubro de 2011... Nós visitamos 30 e poucos países”.

“Eu não tenho mais vontade para isso, eu não vou fazer isso. Vou fazer menos coisas, com mais qualidade, participar das eleições de forma mais seletiva, ajudar a minha companheira Dilma [Rousseff] de forma mais seletiva, naquilo que ela entender que eu possa ajudar. Vou voltar mais tranquilo. O mundo não acaba na semana que vem”.

O presidente não definiu qual será seu papel nas eleições municipais de São Paulo esse ano, mas reafirmou o nome do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, como seu candidato. Sem fugir do óbvio a reportagem questionou Lula sobre suas intenções de disputar as eleições Presidenciais de 2014. Mais uma vez, ele respondeu que a candidata natural do PT é a presidente Dilma Rousseff.

“Mas a minha vontade agora é ajudar a minha companheira a ser a melhor presidenta, a trabalhar a reeleição dela. Eu digo sempre o seguinte: a Dilma só não será candidata à reeleição se ela não quiser. É direito dela, constitucional, de ser candidata a presidente da República. E eu terei imenso prazer de ser cabo eleitoral”.

Nenhum comentário:

Marcadores