No último final de semana, uma reportagem da revista Carta Capital mostrou como Idalberto Matias de Araujo, o Dadá, tido pela Polícia Federal (PF) como braço direito do bicheiro Carlos Cachoeira, negociou com a revista Época, pertencente às Organizações Globo, a publicação de informações contra a empresa Warre Engenharia, uma concorrente da empreiteira Delta. O contato com a Época se deu com o seu diretor em Brasília, Eumano Silva, em agosto de 2011.
No último dia 24, o advogado de Dadá declarou que seu cliente abastecia veículos de comunicação com informações e que “é notório que o interesse de Cachoeira era usar essas informações no mundo dos negócios”.
Em resposta à reportagem de Carta Capital, a direção da revista Época disse não saber que os emissários integravam a quadrilha de Cachoeira. Entretanto, Carta Capital também divulgou uma ligação feita por Eumano Silva para Dadá para avisá-lo da possibilidade de a Delta aparecer no escândalo do Ministério do Turismo.
Mais contatos de Época e o esquema de Cachoeira
Os documentos da Operação Monte Carlo revelam outros contatos da revista Época com os homens de Cachoeira. No dia 17 de março de
No dia seguinte, 18 de março, às 07h40, Cachoeira comenta com um homem identificado como Edvaldo - provavelmente Edivaldo Cardoso, ex-presidente do Detran de Goiás - sobre a entrevista de Arruda e dá indícios de ter bons informantes sobre a revista Época:
“...parece que a Época está vindo com coisa pior aí...”
Pouco depois, às 09h33, uma ligação de Dadá para Cachoeira desvenda o caso. O bicheiro demonstra que está mais preocupado com a aparição de seu nome e não o de Demóstenes. Dadá chama jornalista da Época de ciumento por reclamar de “amigo” que “só colabora com a Veja”:
Dadá: Deixa te falar: eu tô aqui com (ininteligível – parece dizer Albano), é o seguinte, em setembro do ano passado, o Arruda deu essa entrevista pra Veja, entendeu? E aí, o que aconteceu: o repórter que tomou esse depoimento, hoje ele tá na Época. Aí agora, essa semana, o cara tomou, pegou outro depoimento do Arruda para publicar na Época. Aí a Veja ficou sabendo e, como já tinha matéria gravada, aí ela botou no ar.
Cachoeira: Ah tá. E a da Época, que que vai sair?
Dadá: A da Época vai sair, entendeu, ele diz que tá ruim pro nosso amigo. Eu expliquei pra ele, conversei, pô e tal. Eu sei que ele conversa com o Andrei tal, mas o cara fala muita coisa dele, entendeu? Pô, mas o cara é mentiroso, pô. Porque não tem isso e tal tal, se você quiser a gente conversa, entendeu, com ele tal, pô. Você é o chefe. (...)
Cachoeira: Ele fala de todo mundo é?
Dadá: Fala. Fala que deu dinheiro, entendeu?
Cachoeira: Que deu dinheiro pro “Gordinho” [Demóstenes]?
Dadá: É.
Cachoeira: Mas de mim ele não fala nada não né?
Dadá: Não, não fala não.
Cachoeira: Não. Se fala isso daí tudo bem. Eu não queria é ver meu nome vinculado a ele. Vamos ver o que vai sair! (...)
Dadá: É, mas aí ele falou: porra o seu amigo aí não colabora com a gente – os cara são tudo ciumento – só colabora com a Veja. Não, não tem nada disso não. O cara é ponta firme. (...)
Menos de uma hora depois, às 10h29, a PF intercepta uma conversa de Dadá com um homem não identificado (HNI), mas que a polícia classifica como “repórter” e suspeita ser “Albano”. Dadá quer colocá-lo em contato com um amigo. O repórter não aceita, diz que não está “diretamente envolvido nessa história” e pede para ele procurar “Andrei”. Porém, aceita conversar com o amigo de Dadá depois: “marca conversa com ele outra hora, pra outra coisa”.
Cerca de duas horas depois, às 11h20, Dadá volta a ligar para Cachoeira dizendo que o repórter não quis falar “senão os outros repórter que estão apurando vão ficar putos com ele”. Cachoeira diz que está tudo bem: “Vamos esperar sair”.
No dia 20, às 14h50, Dadá e Cachoeira voltam a se falar sobre a matéria da Época e comemoram o fato de “não ter saído nada”. A reportagem de Época foi assinada por Diego Escosteguy. Cachoeira agradece Dadá: “Obrigado aí”.
Menos de meia hora depois, às 15h15, Dadá liga para Lenine, outro operador de Cachoeira. O resumo da ligação apresentado pela PF diz:
"Dadá diz que Carlinhos tava preocupado com a reportagem sobre o Gordinho (aparentemente Demóstenes) e Arruda mas não saiu nada. Diz que foi no Helmano da Época e explicou pra ele. Diz que os caras falaram só que deram dinheiro pro DEM mas não falaram o nome dele (Carlinhos).”
Fonte: Carta Maior
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