terça-feira, 29 de maio de 2012

Preterida por homens de Cachoeira, Época tinha ciúmes da Veja

No último final de semana, uma reportagem da revista Carta Capital mostrou como Idalberto Matias de Araujo, o Dadá, tido pela Polícia Federal (PF) como braço direito do bicheiro Carlos Cachoeira, negociou com a revista Época, pertencente às Organizações Globo, a publicação de informações contra a empresa Warre Engenharia, uma concorrente da empreiteira Delta. O contato com a Época se deu com o seu diretor em Brasília, Eumano Silva, em agosto de 2011.


No último dia 24, o advogado de Dadá declarou que seu cliente abastecia veículos de comunicação com informações e que “é notório que o interesse de Cachoeira era usar essas informações no mundo dos negócios”.

Em resposta à reportagem de Carta Capital, a direção da revista Época disse não saber que os emissários integravam a quadrilha de Cachoeira. Entretanto, Carta Capital também divulgou uma ligação feita por Eumano Silva para Dadá para avisá-lo da possibilidade de a Delta aparecer no escândalo do Ministério do Turismo.

Mais contatos de Época e o esquema de Cachoeira

Os documentos da Operação Monte Carlo revelam outros contatos da revista Época com os homens de Cachoeira. No dia 17 de março de 2011, a quadrilha repercute por telefone a entrevista do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), publicada pela revista Veja, no mesmo dia, com uma série de denúncias e críticas envolvendo seus colegas de partido. Em particular, os homens ligados à Cachoeira se preocupam com as citações ao senador Demóstenes Torres.

No dia seguinte, 18 de março, às 07h40, Cachoeira comenta com um homem identificado como Edvaldo - provavelmente Edivaldo Cardoso, ex-presidente do Detran de Goiás - sobre a entrevista de Arruda e dá indícios de ter bons informantes sobre a revista Época:

“...parece que a Época está vindo com coisa pior aí...”

Pouco depois, às 09h33, uma ligação de Dadá para Cachoeira desvenda o caso. O bicheiro demonstra que está mais preocupado com a aparição de seu nome e não o de Demóstenes. Dadá chama jornalista da Época de ciumento por reclamar de “amigo” que “só colabora com a Veja”:

Dadá: Deixa te falar: eu tô aqui com (ininteligível – parece dizer Albano), é o seguinte, em setembro do ano passado, o Arruda deu essa entrevista pra Veja, entendeu? E aí, o que aconteceu: o repórter que tomou esse depoimento, hoje ele tá na Época. Aí agora, essa semana, o cara tomou, pegou outro depoimento do Arruda para publicar na Época. Aí a Veja ficou sabendo e, como já tinha matéria gravada, aí ela botou no ar.

Cachoeira: Ah tá. E a da Época, que que vai sair?

Dadá: A da Época vai sair, entendeu, ele diz que tá ruim pro nosso amigo. Eu expliquei pra ele, conversei, pô e tal. Eu sei que ele conversa com o Andrei tal, mas o cara fala muita coisa dele, entendeu? Pô, mas o cara é mentiroso, pô. Porque não tem isso e tal tal, se você quiser a gente conversa, entendeu, com ele tal, pô. Você é o chefe. (...)

Cachoeira: Ele fala de todo mundo é?

Dadá: Fala. Fala que deu dinheiro, entendeu?

Cachoeira: Que deu dinheiro pro “Gordinho” [Demóstenes]?

Dadá: É.

Cachoeira: Mas de mim ele não fala nada não né?

Dadá: Não, não fala não.

Cachoeira: Não. Se fala isso daí tudo bem. Eu não queria é ver meu nome vinculado a ele. Vamos ver o que vai sair! (...)

Dadá: É, mas aí ele falou: porra o seu amigo aí não colabora com a gente – os cara são tudo ciumento – só colabora com a Veja. Não, não tem nada disso não. O cara é ponta firme. (...)

Menos de uma hora depois, às 10h29, a PF intercepta uma conversa de Dadá com um homem não identificado (HNI), mas que a polícia classifica como “repórter” e suspeita ser “Albano”. Dadá quer colocá-lo em contato com um amigo. O repórter não aceita, diz que não está “diretamente envolvido nessa história” e pede para ele procurar “Andrei”. Porém, aceita conversar com o amigo de Dadá depois: “marca conversa com ele outra hora, pra outra coisa”.

Cerca de duas horas depois, às 11h20, Dadá volta a ligar para Cachoeira dizendo que o repórter não quis falar “senão os outros repórter que estão apurando vão ficar putos com ele”. Cachoeira diz que está tudo bem: “Vamos esperar sair”.

No dia 20, às 14h50, Dadá e Cachoeira voltam a se falar sobre a matéria da Época e comemoram o fato de “não ter saído nada”. A reportagem de Época foi assinada por Diego Escosteguy. Cachoeira agradece Dadá: “Obrigado aí”.

Menos de meia hora depois, às 15h15, Dadá liga para Lenine, outro operador de Cachoeira. O resumo da ligação apresentado pela PF diz:

"Dadá diz que Carlinhos tava preocupado com a reportagem sobre o Gordinho (aparentemente Demóstenes) e Arruda mas não saiu nada. Diz que foi no Helmano da Época e explicou pra ele. Diz que os caras falaram só que deram dinheiro pro DEM mas não falaram o nome dele (Carlinhos).”


Fonte: Carta Maior

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