Nesta semana começam  efetivamente os trabalhos da CPI que investigará as relações do bicheiro  Carlinhos Cachoeira com políticos, autoridades e empresários. Um dos alvos, a  Delta Construções, de Fernando Cavendish. Suspeita-se, com base em informações  da Operação Monte Carlo, realizada pela Polícia Federal (PF), do envolvimento  da empresa com Cachoeira.
  
  Por Conceição Lemes, no Vi o Mundo
  No dia da instalação da CPI do Cachoeira, 19 de abril, o governador  Geraldo Alckmin (PSDB), ao ser questionado sobre os contratos da Delta com o  estado de São Paulo, disse não estar preocupado com eles, segundo a Folha de S. Paulo: “Nem sei se tem  [contratos], se tem são ínfimos ”.
  
  E verdade é outra. Levantamento feito pelo blog Transparência SP revela que, de  
  
  Na lista de contratantes, Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), Departamento  de Estradas de Rodagem (DER), Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE),  a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e Universidade  Estadual de Campinas (Unicamp). Somam cerca de R$ 800 milhões em valores  nominais. Em valores corrigidos (considerando a inflação do período) chegam a  R$ 943,2 milhões.
  
  Desses R$ 943,2 milhões, R$ 178,5 milhões foram celebrados nas gestões Alckmin  (
  
  Dersa contratou a Delta para a nova Marginal  do Tietê por R$ 415.078.940,59
  
  O maior contrato da Delta com órgãos e empresas do governo do estado de São  Paulo foi com a Dersa para executar a ampliação da marginal do rio Tietê: R$  415.078.940,59 (valores corrigidos).
  
  Apesar de condenada por ambientalistas, geólogos e urbanistas, a Nova Marginal  do Tietê foi anunciada em 4 de junho de 2009, com bumbos e fanfarras, pelo  então governador José Serra (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (hoje PSD, na  época DEM).
  
  Na época, o portal do governo do estado de São Paulo informou: Investimento de  R$ 1,3 bilhão prevê, além de novas pontes e viadutos, plantio de cerca de 83  mil árvores e implantação de ciclovia.
  
  “Irá reduzir o tempo das viagens em cerca de 35%; tráfego para as  rodovias Castelo Branco, Ayrton Senna, Dutra, Fernão Dias, Anhanguera e  Bandeirantes terá fluxo mais rápido; junto com o Rodoanel e o Complexo  Anhanguera, a Nova Marginal pretende aliviar o trânsito nas principais  interligações de bairros de São Paulo e evitar o trânsito de veículos de  passagem por bairros e o centro da cidade.”
  
  Serra ainda afirmou:
“É  uma obra que é financiada com recursos do Tesouro e com dinheiro público das  concessionárias, que é dinheiro do pedágio, segundo projeto e orientação do  próprio governo.”
  
  “É uma obra que está tendo todo o cuidado ecológico, o que não é  tradição em São Paulo, pois as obras e a devastação andavam de mãos dadas, mas  isso acabou nos tempos atuais.”
   
A obra tinha dois lotes: 1 e 
  
  Extrato do contrato assinado em 13 de maio de 2009 e publicado no dia seguinte  no Diário Oficial Empresarial revela o valor da obra: R$ 287.224.552,79.
  
  Paulo Preto e Delson Amador assinam o  contrato pela Dersa com a Delta
  
  O consórcio da Delta venceu a licitação para o lote 2 da Nova Marginal do Tietê  com uma diferença de R$ 2,4 milhões em relação ao segundo colocado, o Consórcio  Desenvolvimento Viário (EIT – Empresa Industrial Técnica S/A  – e Egesa Engenharia), que, por sinal, ganhou o lote 1.
  
  Curiosamente 1: 1 ano e 4 meses depois, o consórcio da Delta conseguiu um  “aditamentozinho” de R$ 71.622.948,47 no contrato.
  
  Curiosamente 2: Na época da licitação, Paulo Vieira de Souza era diretor de  Engenharia da Dersa, e seu presidente Delson José Amador, que acumulava a  superintendência do DER.
  
  Paulo Vieira de Souza é o Paulo Preto, ou Negão, como é mais conhecido. Até  abril de 2010 foi diretor da Dersa. Com uma extensa folha de serviços prestados  ao PSDB, foi apontado como arrecadador do partido e acusado pelos próprios  tucanos de sumir com R$ 4 milhões que seriam destinados à campanha do então  presidencial José Serra. O dinheiro teria sido levantado principalmente junto a  empreiteiras com as quais ele possuía relações estreitas.
  
  O nome de Paulo Preto apareceu ainda na investigação feita pela Polícia Federal  que resultou na Operação Castelo de Areia. Na ação, executivos da construtora  Camargo Corrêa são acusados de comandar um esquema de propinas em obras  públicas.
  
  Delson Amador também apareceu na Operação Castelo de Areia. Assim como Paulo  Preto, seu nome constava da apreendida pela Polícia Federal na Camargo Corrêa.
  
  Em 1997, durante a presidência de Andrea Matarazzo, Amador virou diretor da  Cesp. Aí, foi responsável pela fiscalização de obras tocadas pela Camargo  Corrêa, como a Usina de Porto Primavera, e a Ponte Pauliceia, construída sobre  o Rio Paraná para ligar os municípios de Pauliceia, em São Paulo, e  Brasilândia, em Mato Grosso do Sul. Amador foi ainda chefe de gabinete de  Matarazzo na subprefeitura da Sé.
  
  Heraldo, o foragido, é quem assinou pela  Delta o contrato da nova Marginal
  
  Curiosamente 3: Certidão emitida pela Junta Comercial de São Paulo mostra que o  representante legal do Consórcio Nova Tietê é Heraldo Puccini Neto, diretor da  Delta Construções para São Paulo e Sul do Brasil.
  
  Escutas realizadas com autorização judicial revelam que é um dos interlocutores  mais próximos de Cachoeira. Documentos disponibilizados na internet referentes  ao processo contra Carlinhos Cachoeira no Supremo Tribunal Federal (STF)  mostram a proximidade de Heraldo com o bicheiro e como a quadrilha preparava  editais para ganhar licitações.
  
  É possível que esse mesmo modus operandi tenha sido aplicado pela Delta em  várias licitações como as feitas pelo governo do estado de São Paulo.
  
  Heraldo teve a prisão decretada pela Justiça Federal na semana passada. Foi a  partir de investigações realizadas no âmbito da Operação Saint Michel, braço da  Monte Carlo.
  
  Um grupo de policiais civis de Brasília chegou às 6 horas da última  quarta-feira (25) ao apartamento dele, no Morumbi, em São Paulo. Heraldo não  estava nem foi localizado pela polícia. É considerado foragido da Justiça.
  
  Curiosamente 4: Num despacho de setembro de 2011 do Tribunal de Contas de São  Paulo (TCE-SP) referente ao contrato da Nova Marginal, aparecem juntos Paulo  Preto, Delson Amador e Heraldo Puccini Neto. Os dois primeiros como  contratantes. O último como contratado.
  
  Deputados pedem ao MP que apure indícios de  irregularidades
  
  A essa altura algumas perguntas são inevitáveis:
  
  1. Considerando que o senador Demóstenes Torres é sócio oculto da Delta e  apoiou José Serra em 2010, será que dinheiro da Nova Marginal do Tietê irrigou  a campanha do tucano à presidência?
  
  2. Entre os R$ 4 milhões que teriam sido arrecadados por Paulo Preto e não  entregues ao PSDB, haveria alguma contribuição da Delta?
  
  3. Paulo Preto ou Delson Amador teve algum contato direto com Cachoeira?
  
  Na sexta-feira (27), parlamentares paulistas protocolaram representação no  Ministério Público Estadual de São Paulo (MPE-SP) para que investigue indícios  de irregularidades, ilegalidades e improbidades nos contratos formalizados pela  Dersa com empresas e consórcios, entre os quais o Consórcio Nova Tietê,  capitaneado pela Delta.
  
  Encabeçada pelo deputado estadual João Paulo Rillo e assinada por Adriano  Diogo, ambos do PT-SP, a representação pede que o MP apure possíveis atos de  improbidade administrativa praticados por José Serra, Paulo Preto e Delson  Amador, diante de sinais de superfaturamento das obras de ampliação da Marginal  Tietê.
  
  A propósito. Lembram-se que, em 2009, durante o lançamento da Nova Tietê, José  Serra disse: “é uma obra que está tendo todo o cuidado ecológico, o que  não é tradição em São Paulo, pois as obras e a devastação andavam de mãos  dadas, mas isso acabou nos tempos atuais”?
  
  Na ocasião, a propaganda do governo estadual indicava que as pistas seriam  cercadas por frondosas árvores e arbustos. E a secretária de Saneamento e  Energia, Dilma Pena (atualmente preside a Sabesp), ressaltou a importância de  recuperar o espaço das margens do Tietê com uma via parque, uma ciclovia e o  plantio de 65 mil mudas.
  
  Pois bem, dois anos após o término das obras, a marginal Tietê ainda está à  espera das 65 mil mudas que deveriam ter sido plantadas pelo governo paulista  como compensação ambiental, em 2010. Ainda árvores morreram ou não se  desenvolveram no solo árido das margens do rio. A falta de árvores foi  constatada em perícia realizada pelo Sindicato dos Arquitetos. A entidade move  ação civil pública contra a Dersa, que, como responsável pela obra, é obrigada  a repor cerca de 30% dos espécimes.
  
  Será que a Nova Marginal do Tietê, além de mãos dadas com a devastação, também  se banhou na “cachoeira preta”?
 
 
 
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