quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Música brasileira perde Magro, do MPB-4

 

Sempre que se pensar em conjunto vocal nesse país, o nome de Antônio José Waghabi Filho será mencionado com destaque. Mais conhecido como Magro, ele fez parte do MPB-4 desde o surgimento, em 1964, e fez história também como compositor, arranjador e instrumentista. Lutava contra um câncer de próstata, do qual se tratava no Hospital Santa Catarina, mas não resistiu e morreu na manhã de hoje (8), aos 68 anos, em São Paulo.


Magro nasceu em Itaocara (RJ), em 14 de novembro de 1943, e, muito cedo, aprendeu a tocar piano, violão, tambor e clarineta. Ele também aprendeu a tocar vibrafone, saxofone e percussão. Aluno de Guerra Peixe, Isaac Karabtchewsky e Vilma Graça, ele começou a estudar Engenharia e conheceu na faculdade Miltinho, com quem logo montou uma banda. Integrante do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC-UNE), ele conheceu ali Aquiles e Ruy, seus outros dois parceiros de vida toda.

Era o surgimento do MPB-4, que lançou os primeiros LPs com direção musical do maestro Lindolfo Gaya. Em seguida, o próprio Magro assumiria os arranjos do grupo e também para amigos queridos, como Chico Buarque, com quem trabalhou nos álbuns “Chico Buarque de Holanda, volume 2” e “Construção”. O último trabalho foi o álbum “Contigo Aprendi”, recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino.

Entre os arranjos mais conhecidos estão “Cio da Terra”, com Milton Nascimento e Chico Buarque; “Cálice”, com Chico e Gilberto Gil; e “Lamentos”, de Pixinguinha e Vinicius de Moraes. Para os nascidos a partir da década de 1970, ele sempre será lembrado carinhosamente como o Jumento do álbum “Os Saltimbancos”.

No site oficial do grupo, Aquiles publicou a seguinte mensagem: “Depois de longa luta pela vida, Antonio José Waghabi Filho, o Magro do MPB4, nos deixou. Com ele vai junto uma parte considerável do vocal brasileiro. Com ele foi a minha música”.

“Conheci pessoalmente o Magro quando o entrevistei para a biografia que escrevi do Quarteto em Cy. Muito simples e gentil, ele me recebeu como se recebe a uma amiga de longa data, e me contou, em quase duas horas de papo, toda uma história musical e de amizade que os dois grupos viveram juntos. Num lugar de destaque da sala, um piano reinava imponente, mostrando que ali a música é protagonista", recorda Inahiá Castro, biógrafa do Quarteto em Cy, grupo que realizou parcerias inesquecíveis com o MPB-4, como em “Falando de Amor”, de Tom Jobim.

"Magro era assim, transbordava música. Nos encontramos algumas vezes depois, e ele sempre com aquele olhar sereno, talvez já carregando um certo sofrimento, mas nunca triste ou pesado. Esta semana, o MPB4 lançou um CD de boleros, projeto antigo deles. Então, Magro se foi sem deixar nada por fazer. Cumpriu direitinho seu papel, e nos presenteou com um legado que engrandece a história da música brasileira. Ele, que sempre me emocionou tanto com os incríveis sons, resultado dos seus majestosos arranjos vocais, agora me emociona com seu silêncio. Que ele vá em paz...”, lamenta.

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