quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Rovai: Quem disse que pesquisa Datafolha não pode ser boa

A pesquisa Datafolha divulgada hoje pelo jornal dos Frias parece estar forçando a mão na margem de erro. O resultado (Russomano, 35; Serra, 21; Haddad, 15; Chalita, 8; Soninha, 4) é bem diferente dos treckings dos candidatos e das pesquisas que empresas utilizam para definir onde aplicam seus tostões. Em nenhum desses levantamentos Serra tem vantagem de seis pontos. Em alguns casos, chegava a dois, mais isso há duas semanas.

Por Renato Rovai
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No entanto, essa não é a primeira nem a última vez que o Datafolha solta uma pesquisa que depois vai sendo corrigida com a proximidade das eleições.

Alguns costumam perguntar, mas por que o instituto faz isso se o resultado da eleição não vai mudar? Mais do que o efeito psicológico que um resultado adverso neste momento acarreta a uma candidatura, pior efeito é na arrecadação. Este pode ser devastador.

E no caso de Serra, seria a pá de cal que falta para enterrar de vez sua candidatura. Afinal seu índice de rejeição já afastou muitos doadores.

Esse é o nó da questão. Pesquisa neste momento é mais importante para arrecadar do que para ajudar na definição do resultado final. E ao mesmo tempo se um instituto forçar na margem de erro, ele tem espaço suficiente para corrigir o resultado até o dia da eleição.

Dito isto, é importante refletir sobre o estancamento dos índices de Haddad. E isso é um dado real. Haddad cresceu bastante no começo do horário eleitoral, mas depois seus números se mantiveram próximos a 18 pontos nos treckings. Não oscilaram nada.

Já escrevi neste espaço que o programa eleitoral costuma influenciar os eleitores nos primeiros e últimos dias. Isso foi fundamental para Haddad na primeira fase. Se tiver o mesmo efeito nos últimos dias, certamente ele irá bem para a disputa final. Pois, tem condições de crescer de sete a dez pontos, atingindo assim uma votação suficiente para levá-lo ao segundo turno.

Mas para que isso aconteça, é preciso, por um lado, que o programa surpreenda. E por outro, que segmentos importantes da cidade (intelectuais, lideranças sindicais e comunitárias, artistas etc.) criem uma mobilização que debata os riscos de um segundo turno entre o Nhô Ruim e o Nhô Pior.

Depois de 8 anos de Serra/Kassab, se São Paulo se permitir um segundo turno entre Serra e Russomanno, é que as coisas não vão apenas mal na cidade. Vão péssimas.

Mas não será batendo nos adversários que Haddad vai crescer. É colocando a cidade viva para pulsar nas telas de TV e de computadores e ao mesmo tempo levando esse debate a todos os cantos.

O debate precisa ser feito da periferia para o Centro. E não ao contrário. Mano Brown e Emicida, por exemplo, são a São Paulo que brilha e resiste. Ela precisa falar e precisa olhar no olho de Haddad. Ela precisa conhecer melhor o candidato e suas propostas. Essa São Paulo não é militante de partido político, mas luta. E pulsa. É viva. É essa cidade viva que também se pode perceber nas palavras de Marilena Chauí e que permite comparar projetos.

O momento é esse, o da comparação. Até o momento da campanha, Haddad apresentou suas propostas. Agora precisa compará-las à dos outros candidatos. Por exemplo, Haddad defende moradia no centro e emprego na periferia. O que isso significa? É preciso deixar claro que, entre outras coisas, é o de não tratar como bandidos os moradores pobres da região central. É não buscar expulsá-los dos prédios ocupados e nem permitir que suas favelas sejam vítimas de incêndios constantes.

Também é importante dizer que no projeto de cidade de Haddad, o Estado vai ser forte e central na definição de políticas públicas que terão por objetivo melhorar a vida dos paulistanos das zonas mais pobres. O que isso significa: bilhete único mensal, creches, CÉUs etc. Mas mais do que isso é preciso apontar que no plano de governo das outras duas candidaturas isso não está contemplado. Que no governo Serra/Kassab as políticas públicas são gerenciadas por coronéis que tornaram as subprefeituras quartéis generais de um sistema de castração de direitos.

Enfim, o momento da eleição é de comparação. Não só de propostas, mas como de história política, de apoios, de currículo etc. Se isso for bem feito, Russomanno vai cair, Haddad vai subir e Serra vai ficar neste patamar atual, que parece ser seu teto. E o segundo turno será outra eleição.

Se isso vier a acontecer, o Datafolha terá dado um tiro no pé. Terá mobilizado setores fundamentais da cidade para disputar seu destino. Quando os projetos são comparados de forma clara, a campanha ganha ritmo. E pulsa.

Quando pulsa, candidaturas com projeto popular têm mais chances de vitória.

*Renato Rovai é jornalista, blogueiro e editor da Revista Fórum

Fonte: Blog do Rovai

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