Em entrevista publicada nesta segunda-feira (14) pelo jornal argentino Página 12, Lula - que nesta terça-feira (15) participa do I Congresso Internacional de Responsabilidade Social, em Cidade Evita, na periferia de Buenos Aires - assegurou que não há candidatura que Dilma possa temer.
Lula e Dilma na Bahia
O ex-presidente Lula deixou uma pergunta do jornalista Martín Granovsky, do jornal Página 12, da Argentina, sem resposta direta. Questionado se a sua própria candidatura está "absolutamente descartada" para 2014, o que só poderia ocorrer no lugar da candidatura de Dilma, Lula preferiu responder com elogios à presidenta.
Fora essa saia justa, a entrevista ao prestigiado tablóide, talvez a publicação de grande circulação na Argentina mais independente de grupos políticos e empresariais, abriu uma oportunidade a Lula para cobrir a frente externa para Dilma, mas sem deixar de fustigar, à sua maneira, os adversários internos.
"Não há motivo para Dilma temer qualquer adversário", disse Lula na entrevista. A população enxerga na presidenta a pessoa mais confiável para aprofundar as reformas sociais e evitar um retrocesso nas conquistas alcançadas.
Para o ex-presidente, a explicação para a popularidade em alta da presidenta – Dilma lidera todas as pesquisas de opinião para as eleições de 2014, com muitos cenários de vitória em primeiro turno – reside não apenas na economia, mas na maneira como Dilma respondeu às manifestações de junho.
"Ela foi de uma sensibilidade extraordinária. Fez um pacote de cinco grandes propostas para atender as vozes que se expressaram nas ruas, frisou Lula, que elencou a ideia do plebiscito para uma reforma política, o aumento de recursos no setor de transportes coletivos, a destinação de mais royalties do pré-sal para a Educação, o programa Mais Médicos e o compromisso de combater a inflação.
Lula disse que o seu segundo mandato "foi melhor do que o primeiro", para completar apostando que o de Dilma "também será".
O ex-presidente foi duro com os Estados Unidos, afirmando que o ciclo de desenvolvimento econômico e político da América Latina nos últimos dez anos só foi possível depois que os países da região negaram a entrada no acordo comercial da Alca, proposto pelos americanos.
"A América Latina só conseguiu crescer porque, em 2005, dissemos 'não' ao Alca. Tratava-se não de um processo de cooperação econômica, mas de anexação da nossa região pelos Estados Unidos".
Lula vê uma semelhança entre o boicote promovido pela ala do partido republicano conhecido como Tea Party ao orçamento do país, para bloquear o governo Barack Obama.
"No meu governo, a oposição cortou um imposto (CPFM) que dava 40 bilhões de reais ao ano para a Educação. A mim não atingiram, porque deixei o governo com 84 por cento de popularidade, mas prejudicaram o povo. É muito semelhante ao que está acontecendo agora lá nos Estados Unidos contra o governo do Obama.
Integração latino americana
O ex-mandatário afirmou que a integração regional na América Latina, embora tenha experimentado um avanço notório nos últimos dez anos, "pode e deve" ser mais profunda.
Na entrevista Lula assegura que a América do Sul é hoje "muito mais soberana e respeitada no mundo".
"Por mais que os conservadores tentem negar, a América do Sul avançou muito nos últimos dez anos. Todas nossos países vivem em democracia. Crescem e se desenvolvem com distribuição de renda e inclusão social", disse o ex-mandatário brasileiro. "O Mercosul, apesar de seus inimigos, está vivo e funcionando. Criamos a Unasul e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, CELAC", acrescentou Lula.
Ao dizer que até é preciso avançar mais na integração, Lula afirma que é necessário um "pensamento realmente estratégico que encare os problemas estruturais de integração, que apresente soluções para os desafios de integração física, energética, produtiva, cultural, ambiental e financeira".
Ainda na entrevista, Lula falou também sobre a presidente argentina, Cristina Kirchner, que se recupera na residência oficial das Oliveiras de uma operação na qual teve um hematoma cranian drenado.
"Cristina não só é importante para a Argentina, mas para toda a região", disse o ex-presidente, que desejou que a mandatária "se recupere plenamente".
Sobre a relação entre Argentina e Brasil, Lula disse que "nos últimos dez anos foi vivido o melhor período de sua história", embora "acredita que essa aliança pode ser ainda mais forte". "No plano político, temos um diálogo excelente. Mas podemos ampliar e muito a integração física, cultural, de cadeias produtivas e de turismo", indicou o ex-mandatário brasileiro.
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